Tanto Neymar caiu sem motivos que os motivos se empilharam em favor da queda do Brasil. Juízes de futebol não gostam de ser feitos de bobos, e as encenações do camisa 10 foram se acumulando e irritando a todos — mesmo aqui no Brasil — a ponto de gerarem efeitos péssimos para a Seleção. O Brasil não jogou mal e foi claramente prejudicado em várias oportunidades nessa Copa. Não justifica o ataque mais paparicado da Copa não ter marcado tantos gols quanto se esperava, obviamente, mas o fato é que, em pelo menos uma ocasião por partida, jogadas faltosas contra nossa Seleção foram tratadas como cai-cai.
No jogo de estreia contra a Suíça, por exemplo, “Houve empurrão, muito leve” em Miranda no gol de empate, segundo áudio do VAR. “Muito leve” não deveria ser qualificador que abona faltas e, na vasta maioria dos casos, não é. Na última partida, contra a Bélgica, outro “empurrão leve”, dessa vez em Neymar, dentro da área adversária, foi desqualificado. Essa jogada é emblemática, uma vez que o vídeo mostra Neymar passando quase meio metro antes da bola chegar à sua cabeça, com o braço do zagueiro belga o empurrando. Um pênalti àquela altura da partida poderia ter mudado o rumo do jogo e da competição.
O fato é que o cai-cai tem consequências, e o aparente descaso da FIFA é um aviso claro: parem com isso, pois os prejudicados são vocês mesmos.
Novamente: não justifica o Brasil ter parado diante da defesa belga; não justifica a falta de objetividade e velocidade no ataque; não justifica tanta ineficiência de um time que era disparado o mais cotado para ser campeão. Mas não é esse o ponto.
O ponto é que o “cai-cai” é mais um exemplo da “ishperrrteza” brasileira. É mais um corolário de nosso “jeitinho brasileiro”, esse comportamento espúrio inerente à nossa nação.
Somos o país do cai-cai, e em bem mais de um sentido. E pagamos por isso, aqui dentro e lá fora.
O país do cai-cai se vê em nossa política prá lá de corrupta, que corrói nosso patrimônio e impede nosso crescimento. Se vê também em nosso judiciário, que acha por bem, na calada da noite (ou no domingo de manhã), soltar quem a justiça prendeu. Se livraram, por conta do cai-cai, José Dirceu e Eduardo Cunha. E no domingo, quase que Lula escapa pelo cai-cai de um desembargador de plantão. De que servem processos judiciais, condenações em segunda instância e tal, se o cai-cai — do STF ao TRF — livra condenados? Mais: de que serve o processo judicial em si, se Aécio, Alckmin e tantos outros vêm apelando — com sucesso — aos seus cai-cais há anos, décadas a fio?
E não vou chover no molhado com os nossos cai-cais rasteiros, de sonegação de impostos, de compra de produtos pirateados, de downloads ilegais, de filas furadas como quem não quer nada. Esses cai-cais são meus e seus, que estamos aqui no barro, é bom lembrar.
O efeito do cai-cai na Copa pode nos ter rendido nossa desclassificação, mas aqui no mundo real rende prejuízos bem maiores. Para nós, atacantes de meia pataca, nos rende os atacantes mais “graúdos”, que vão continuar carcomendo a nação com seus cai-cais profissionais e bem mais nocivos para nossa política e para nossa economia.
E para a nação como um todo, cria a imagem que já carregamos há muito tempo: não somos um país e um povo que merece ser levado a sério, porque não nos levamos a sério. Somos vistos como moleques querendo engambelar quem faz as coisas direito, e só merecemos deles o escárnio e o desprezo. Sim: somos desprezados, e não adianta achar que não ou que não tem importância. Por que levariam a sério um povo que não se dá o respeito?
Em 2014, perdemos de 7×1 para a Alemanha e sofremos durante anos até nos levantarmos e acreditarmos novamente. E para quê? Para sermos vistos como os que se levantam só para caírem com mais vigor e sem nenhum motivo aparente. Só pra tentarmos dar uma de espertos e conseguirmos apenas cimentar nossa imagem de piada mundial.
Não sofreremos com essa derrota como sofremos em 2014.
Mas deveríamos.
Triste verdade caro Ruy, muito bem exposta nessa reflexão que você faz. Sim, precisamos lutar contra nossa história de leviandades e hipocrisias. Mais de 380 anos de uma cultura marcada pelos traços da preguiça e do maldito "jeitinho" nas coisas. Taí o resultado!
Eu diria que alem deste tivemos outros problemas e que de certa forma expressam um pouco do Brasil dr hoje: Faltou garra, vontade dr brigar pela vitoria, como os croatas ( to nem ai porque o meu ta garantido! Pra que tanto esforco?), chororos e mimimis, tipicos de uma geracao mimada e desacostumada a enfrentar grandes desafios sem o "papai ,"mamae" e o Estado para segurarem a onda. Total ausencia de raciocio estrategico e frieza para acao diante de dificuldades, fruto talvez do baixa escolaridade e da fragilidade da educacao formal no Brasil. Assim como tudo, o futebol tb mudou e exige talentos realmente preparados, bem alem do discurso dos discursos de vestiario dos coachs.
Ops, será que alguém esqueceu que fomos colônia e o jeitinho brasileiro também foi um meio de sobrevivência, enquanto um certo país nos explorava até o talo? Traços da preguica???? kkkkkkkk Menos, meu caro Eduardo, mas bem, bem menos! Nem vou dar vários e vários exemplos que fogem, totalmente, do seu pensamento, na minha reles opinião, extremamente simplório e sem fundamento. Temos problemas, vários, mas preguiça não é um deles e "jeitinho" alguns países também deram, por exemplo, de exterminar índios, escravizar pessoas e dominar, ops, "conquistar" na porrada.
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