Apesar de termos no Brasil 5.570 municípios, apenas 17 têm mais de um milhão de habitantes. Campinas está entre eles. Tinha 1.080.113 de habitantes em 2010. O IBGE estima que em 2016 tenhamos chegado a quase um milhão e duzentos mil habitantes. O número oficial é um milhão, cento e setenta e três mil, trezentas e setenta pessoas. Está entre as 14 mais populosas do Brasil. Entre as 13 maiores, apenas Guarulhos não é capital, com 164 mil habitantes a mais que a terra de Carlos Gomes. Ou seja, Campinas tem mais habitantes que 15 capitais.
Vamos conhecer um pouco mais sobre estas pessoas. Em relação ao sexo, segue a mesma tendência, com um pouco mais de mulheres do que homens, 51,8% de mulheres e 48,2% de homens.
Um dado que chama a atenção é como esta população é distribuída nos setores econômicos. Campinas tem grandes empresas, muitas indústrias de ponta, multinacionais. Teve uma enorme massa operária industrial nos anos 1980. Seguiu a lógica nacional, que teve o setor de serviços ganhando mais importância que o secundário. Mas fiquei surpreso com os números de 2013.
Se considerarmos a população empregada, notamos que as indústrias oferecem apenas 19% dos empregos, enquanto que comércio e serviços, agrupados, ultrapassam os 80% das vagas existentes. Se nos anos 1980 um alto percentual no setor terciário poderia indicar pequena industrialização e um alto número de pessoas vivendo de bicos ou subempregadas, os dados de 2013 mostram outra realidade: uma mudança estrutural na economia, com indústrias mais eficientes e que exigem menos trabalhadores, tendência mundial, e um aumento das vagas no setor terciário, com grande diversificação dos serviços e aumento do valor agregado neste setor econômico.
Se considerarmos a o valor do Produto Interno Bruto de Campinas, os números confirmam esta tendência. Desconsiderando os impostos, mas considerando os serviços públicos, constatamos que nada menos de 77% do nosso PIB vem do setor de serviços, enquanto que a indústria responde por apenas 23% e a agropecuária representa a fração de 0,2% do PIB local.
Esta configuração gerou em 2013 um produto interno bruto per capita maior que o do Estado de São Paulo, R$ 44,8 mil/ano em Campinas, frente a R$ 37,1 mil do Estado. E bem maior que o do Brasil, R$ 24,8 mil.
Isso se reflete na qualidade de vida média da cidade. Campinas tem condições de vida melhores que a média do Estado de São Paulo, e melhor que do Brasil. O IDH de Campinas, segundo o Censo 2010, é de 0,805, enquanto que o do Estado é 0,783 e do Brasil 0,727.
Mas toda esta riqueza produzida, como se sabe, é muito mal distribuída. É verdade que esta má distribuição não é exclusividade de Campinas nem do Brasil. Dados recentes da Oxfam nos mostraram que apenas oito indivíduos possuem mais patrimônio que metade da população mundial, 3,6 bilhões de pessoas. No Brasil, seis pessoas possuem mais patrimônio que a metade mais pobre da população, 100 milhões de brasileiros. (OXFAM. Uma economia para os 99%. Acesso 24 jan. 2017.)
Em Campinas temos a seguinte distribuição, com dados de 2010.
Pelos dados vemos que 38% dos campineiros vivem com até 1 salário mínimo mensal. Dois em cada três vivem com até 2 salários mínimos. Vivem com até 3 salários mínimos 78% dos moradores. Apenas 4% dos moradores possuem rendimentos mensais acima de dez salários mínimos, ou seja, pouco mais de quarenta mil habitantes, algo como 12 mil famílias. Se olharmos ainda mais para cima, para rendas acima de 15 ou 20 salários, o número de casos seria muito menor. Na outra ponta, 400 mil pessoas sobrevivem com até 1 salário mínimo. Setecentas mil com até 2 salários mínimos.
Estamos olhando para uma foto. Seria importante, num texto futuro, olharmos a evolução disso ao longo do tempo.
No Brasil, se até 2002 o extrato 1% mais rico da população ficava com mais renda que os 50% mais pobres, isso inverteu-se a partir de 2004, atingindo sua maior diferença em 2014.
Os dados do IPEA mostram ainda que em 2001 os 1% mais rico da população tinham tanta renda quanto 27,3% da população mais pobre. Em 2014 a renda desde grupo se igualava à de 15,4% da população, ou seja, houve uma melhor distribuição da renda pela população.
São dados compatíveis com a evolução do Coeficiente de Gini, (índice que considera como a riqueza é distribuída, variando de 0, igualdade total, e 1, desigualdade total) que também caiu neste período, passando de 0,602 em 1995 para 0,518 em 2014, também de acordo com o IPEA.
Apesar da significativa melhoria, ainda estamos longe de outros países. Segundo o Banco Mundial, a maioria dos países europeus têm índice abaixo de 0,4. França, Alemanha, Áustria, Suécia, Dinamarca, Eslovênia, entre outros, estão abaixo de 0,30. Os Estados Unidos e Reino Unido tinham 0,36 em 2003. Em 2012 os EUA subiram 0,41 e o Reino Unido caiu para 0,33.
Mesmo dentro destes limites, o aumento da renda dos mais pobres, impulsionado pelo aumento do valor real do salário mínimo e por programas sociais como o bolsa família geraram aumento do consumo, da produção e do emprego, que retroalimentavam este círculo virtuoso, reduzindo assim o percentual de pessoas pobres a um terço, em dez anos. Alguns destes outros dados podem ser vistos no artigo de agosto de 2016.
É possível que Campinas tenha tido uma evolução semelhante na desconcentração de renda neste período. Mas vamos ver o que mais os dados locais nos mostram.
Em relação à distribuição etária da população, Campinas reflete uma antecipação do mesmo movimento do Estado e do Brasil. Há uma expressiva redução da natalidade nas últimas décadas. Isso pode ser visto no Brasil, com mais força, nos últimos 15 anos. No Estado de São Paulo e em Campinas, nos últimos 25 anos, sendo um pouco mais expressivo em Campinas. Isso nos leva a um envelhecimento médio da população, concentrada agora na faixa dos 20 a 35 anos, e não até 20 anos, como algumas décadas atrás.
Fonte: IBGE. Acesso 12/02/2017.
Quando analisamos os dados de acordo com cor e raça, outras coisas vêm à tona. Campinas parece mais branca do que realmente é. O mesmo ocorre em praticamente todas as pesquisas auto declaratórias e expressa o racismo oculto (oculto?) que leva as pessoas a não se identificar ou temer se assumirem como negras ou pardas. Quando olhamos séries históricas vemos que isso tem diminuído, mas ainda é bem significativo, como mostram os dados de 2010.
Mas se a autodeclaração oculta dados importantes, a distribuição de renda por raça ou cor os explicita novamente.
Este gráfico mostra a distribuição da renda de cada população, de acordo com cor ou raça. Ele mostra claramente (mesmo com a distorção causada pelo pela autodeclaração) como é a distribuição da renda em cada grupo, comparada com a média geral em amarelo. Até a faixa de 2 salários mínimos, há um percentual maior de pretos e pardos em relação à média geral da população. E menor entre os brancos. A situação se inverte a partir de dois salários. O percentual de brancos supera a média da cidade e o percentual de pretos e pardos é menor a média geral. Quando olhamos os extremos, até 1 salário mínimo e acima de 5 salários, a diferença fica ainda mais gritante.
Com certeza houve alterações neste gráfico de 2010. Até 2014 o nível de emprego formal continuou aumentando, mas caiu drasticamente desde então. E isso impacta a composição de pessoas que trabalham com ou sem carteira de trabalho, ou por conta própria. Mas o gráfico permite ver que, em 2010, praticamente 4 em cada 5 pessoas são assalariadas, sendo a enorme maioria no setor privado, e apenar 4% no setor público, o que nos mostra, a exemplo de outras pesquisas e comparações internacionais, a falácia de que nosso Estado seja muito grande. Ao contrário, faltam trabalhadores (e outros recursos) públicos para atender a todos os serviços necessários à população. Isso não exclui outros problemas como má distribuição do número existente, má gestão e distorções salariais – para mais e para menos – mas isso já é assunto para outro artigo. Ainda havia 17% de trabalhadores por conta própria e apenas 3% de empregadores. É possível supor que, entre os que se dizem trabalhar por conta própria haja um extrato de empregadores de pequeno porte, que não se identificam como tais.
Quando olhamos os mesmos dados em considerando a raça ou cor, comparando com a média geral da população representada em preto, temos que as populações parda e negra superam a média quando se trata de empregos assalariados privados, e são menores do que a média quando se trata de empregadores ou por conta própria. Ocorre o inverso com a população autodeclarada branca. Estão um ponto percentual abaixo da média geral quando se trata de assalariamento com ou sem carteira de trabalho. Um pouco acima da média no serviço público, quando se trata de empregadores ou trabalhadores por conta própria. Destaque para a comunidade asiática (amarela), com características próprias em relação aos negócios próprios – que também se reflete na renda média – e entre os indígenas.
Sobre a religiosidade, em 2010 tínhamos em Campinas a seguinte distribuição, majoritariamente católica. Entretanto precisaríamos de dados mais recentes dado o crescimento das religiões evangélicas nos últimos anos.
Por fim, um outro aspecto importante, mas que precisar ser melhor investigado futuramente, diz respeito à existência de um enorme conjunto de entidades sem fins lucrativas e associativas de diversos tipos, que empregavam mais de quarenta mil pessoas em 2010.
Enquanto há duzentos e sessenta sindicatos de trabalhadores e patronais, associações profissionais e partidos políticos, encontramos quase seiscentas igrejas ou associações religiosas. O salário médio praticado por este conjunto de quatro mil, cento e oitenta entidades é de 4 salários mínimos, bem semelhante à renda média da população em geral.
Fico por aqui. Dê sua opinião, aponte dados que gostaria de ver sistematizados e comentados.
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