Era tarde da noite quando o desejo tocou o telefone. Se fosse apenas um desejo físico, talvez fosse mais fácil não querer. Mas era um desejo de estar junto, finalmente, de sentir o cheiro, o toque, saborear os olhos, o sorriso, engolir leveza alma a dentro. Foi dessa forma que o reencontro aconteceu. O cenário perfeito seria qualquer um, mas esse foi muito especial, único, porque tinha cheiro de pão, muito frio e uma alegria sem precedentes.
Era tanta felicidade e tanta espera por isso, sem saber ao certo por quanto tempo exatamente. Acontece que a integridade, o caráter, a honestidade de entrega, fez com que esperassem mais alguns dias. Tudo tão leve, intenso, bom, transformador e real. Se bem que real parece sempre tão subjetivo, talvez fosse real numa certa dimensão, até certo ponto, ou ao mesmo tempo para ambos, mas em tempos diferentes. Não há uma explicação ainda e talvez nunca haja. Talvez não seja necessário explicar.
O encontro real mesmo aconteceu dias depois, numa mistura de êxtase com certezas infundadas e muita vontade recíproca de estar ali. Dizer que foi lindo é bem pouco. Talvez um dos momentos mais bonitos já sentidos diante da imensidão da existência daquelas almas juntas. Leveza, sintonia, entrosamento, paixão, carinho, verdade, entrega imediata no agora, tudo se encaixava num ritmo todo peculiar e já bem conhecido, apesar de novo. O encaixe total e irrestrito aconteceu de muitas formas perfeitas de todo o imperfeito.
Tudo parecia incrível demais, até que a realidade interna de um deles veio à tona. A bolha mágica do reencontro foi furada subitamente por confusão e tristeza, plausíveis para o momento de um deles. Ainda assim, tudo continuou lindo e seguiu a normalidade de um casal que já estava junto e feliz há muito tempo, mesmo que o tempo cronológico não correspondesse ao que parecia de fato existir.
A necessidade desse tempo interno de um deles era irremediável e acabou por promover um afastamento estranho, mas talvez necessário. A outra parte, triste, mas completamente empática, se afastou também. Não por vontade, mas por respeito, por maturidade, por um sentimento de um carinho que prefere a felicidade do outro a estar junto apenas, assim sem saber nomear o que sente.
A intensidade do sentir é tão bárbara, que chega a ser esquizofrênica. Isso porque demorar tanto tempo para se reencontrar o encaixe perfeito e não ser possível de acontecer, ao encontrar, é muito frustrante. Em contrapartida, não deixa de ser compensador. É que o sentir foi tão fluído, delicado, profundo, bonito, alegre, leve e intenso, que foram instantes muito mais preciosos do que uma vida toda ou muitos anos ao lado de alguém sem esse compartilhar. Talvez nunca mais aconteçam momentos tão incríveis dessa maneira, e tudo bem. As coisas acontecem como precisam acontecer e não como se quer de fato.
A saudade permanece. E a vida segue, bonita.
É isso. Será só?
Comments: no replies