Roberto era safo. Força muito bruta. Chegava e saía pontualmente. Sua ambição somente rivalizava com a vontade em ser prestativo. Talvez o que ocorresse era uma confusão entre uma e outra aspiração. Transformava as simples tarefas momentos de competição consigo mesmo, sobretudo. Também não hesitava em realizar as devidas comparações de sua situação com a de outros colegas, mas para ver como estava a si próprio. Embora fosse regido pela cortesia, nada o impedia de nutrir sentimentos fratricidas para com os colegas de trabalho. Quem nunca, não é mesmo? Todo colaborador tem seu dia de fúria, nem que seja na imaginação. Mas tentava esfarelar esses repentes e divagações em serviço e auxílio. Só que não é assim. Mente. Finge que está tudo bem, quando nada sabemos desse iceberg. Eis que chega um dia. O dia. Roberto é convidado assumir seus sonhos, a realizar seu desejo no trabalho, um novo cargo específico: ser um chefe. Mas, havia um porém. Precisava aceitar que não poderia escolher seus subordinados. Na verdade, o novo cargo foi criado para ficar de olho nos novos estagiários. Um em específico, que motivara a criação do setor: era o filho do diretor do departamento, um fedelho, que tinha dificuldade de terminar a faculdade, e o pai queria lhe dar algum tipo de encaminhamento. Seu nome? Leonardo. Esse pai – incrível – dera a Roberto carta branca para fazer o que fosse preciso. O que fosse preciso, reiterou o chefe. O que faria Roberto?
Desenredo. Nenhuma dúvida pairou sobre nosso esperto Roberto. Ele aceitou de bom grado a tarefa, nada de se sentir por baixo. Afinal, para todos os efeitos, seu registro em carteira, sua assinatura nos e-mails, sua remuneração um pouco menos parca agora, atestavam que ele podia chegar em algum lugar. Deslumbrara uma oportunidade. Após finalizar a reunião com o diretor, solicitou a vinda do estagiário à sala de reunião. O rapaz, nem bem saído dos cueiros, estava com um sorriso cínico estampado no rosto, sabia de todo o engodo, e já ensaiava na cabeça um pedido: uma dispensa do período da tarde, para encontrar os amigos da facul. “Não vai ser eu que vou consertar esse pau torto”, refletia o novo encarregado. Roberto discretamente fecha a porta. Com calma, pega o delfim em colarinhos. “Não se envide. Se mexer comigo, se atrapalhar minha vida, se chorar teu pai, te jogo daqui do prédio. Vou preso, cê morre”. O menino nem era um Pataca. Tudo resolvido. Com o tempo, Leozinho foi se enquadrando. Virou o estagiário capacho, que a tudo executava. Não seria chefe, muito menos dono. Já sabia. Nem queria. Às vezes, Roberto cobria as escapadas do malandro, o torto. O patrão estava orgulhoso, já que não precisara fazer as vezes de pai. Delegara. Então, ficou assim Roberto: um chefe de porcaria nenhuma, em cima dos estagiários. A vida, naquele momento, estava feita. Não?
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