A flor amarela, finalmente, decidiu desabrochar e destoar das demais no bosque. Um tom de amarelo vivo, alegre, com nuances de branco, rosa e verde. O sol tocava cada pétala como quem dá as boas-vindas de forma totalmente acolhedora e gentil. Saber que se destoa dos demais por pura singularidade de ser o que é, pode ser incômodo no começo, até um pouco constrangedor, mas quanto maior a aceitação por ser, maior amor e menor o desapego por qualquer outra coisa que não seja brilhar todo amarelo que puder, curtir cada minuto radiante de sol, sentir cada gota de orvalho, se entusiasmar por aprender a sobreviver às mais diversas tempestades.
Entretanto, ser a flor amarela do bosque requer muita coragem. Que fique bem claro, o bosque não são os outros. O bosque, onde a gente se destaca, é aquele mundo de coisas, contradições, sentimentos, medos e afins que existem dentro da gente. Na vida, a gente vem só e volta só. No meio do caminho, compartilhamos. Nessa certeza de solitude saudável, é possível entender que somos nosso melhor amigo e nosso pior inimigo. Interessante considerar que cada um tem suas batalhas internas e, também por isso, cada qual precisa ser respeitado dentro de seu contexto, suas convicções, suas crenças, escolhas e forma de existir. Somos todos flores amarelas a desabrochar.
Ainda seguindo por essa linha, fica evidente que o respeito a si mesmo e ao próximo tem sua semente no fato de que cada um só dá exatamente aquilo que tem. Isso significa dizer que só é possível dar ao próximo, e ao mundo, amor, respeito, paz, aceitação, perdão e tantas outras coisas bacanas, se antes você se permite sentir isso tudo com relação a você mesmo. Talvez nesse momento, o autoconhecimento tenha a máxima de sua relevância para nossa existência, terrena e além, pois você só saberá o que tem a oferecer ao escolher mergulhar em si mesmo.
Partindo desse princípio, é automático perceber que a autorresponsabilidade também se torna elemento fundamental no caminho de busca. Entender e aceitar que absolutamente tudo o que acontece em nossa jornada é nossa responsabilidade, pode trazer certo pânico num primeiro momento. Acontece que pode ser bem mais simples do que parece. Talvez a analogia do espelho ajude a entender de maneira mais didática. Tudo o que no outro incomoda é porque, de alguma forma, reside também em mim: ou faço da mesma forma e não percebo, ou gostaria de fazer e não faço. Logo, sou absolutamente responsável pelo que sinto, bem como pela forma de agir a respeito. Afinal, é o que faço do que fazem comigo que importa. Para ser ainda mais específica, o que vem do outro é sempre um presente que aceito se quiser. Por exemplo, não é outro quem me irrita, eu me deixo irritar pelo outro ou não. Essa descoberta ajuda a julgar menos. Não porque você ficará mais “bonzinho”, mas sim porque você encontrará tantas coisas para curar em si mesmo, que não sobrará tempo para cuidar da vida do outro. E isso é bem libertador, bem bom mesmo.
A essa altura do texto, os pessimistas de plantão talvez já estejam armados até os dentes com a frase brega, e clichê, “falar é fácil”. Não importa. Ninguém falou que buscar a si mesmo é fácil, mesmo porque não passa de uma escolha. Você pode escolher buscar e evoluir. Você pode escolher não buscar e permanecer como está, onde está. Você pode até mesmo passar a vida toda sem saber que existem tantas possibilidades e, ainda assim, mesmo que de forma inconsciente, também será uma escolha. Enfim, é escolher e assumir as consequências. Simples assim.
O despertar é um acontecimento, mas creio que a busca espiritual, pessoal, é (sempre será) um processo (infinito). É bonito demais, mas, como já disse, requer muita coragem. Além disso, pede também treinamento de outras tantas habilidades, como, por exemplo, paciência, resiliência, humildade, aceitação, paz. São tantos momentos dentro desse processo individual, que chega um tempo em que você acaba por descobrir que se torna inviável e completamente desnecessário compartilhar tudo com todo mundo. Você aprende então outras habilidades bem interessantes: ser seletivo e mais intuitivo. Só você tem todas as respostas sobre você mesmo, ninguém mais. Muitas pessoas, também profissionais, podem auxiliar no sentido de indicar e iluminar caminhos, mas só.
Existem momentos em que as respostas despencam aos montes e você dorme e acorda com insights. Uma loucura sorridente. A avalanche é impressionante e serve de escada para os próximos passos. Acredito que tudo o que vem na busca é exatamente aquilo que você precisa, mas não necessariamente o que você quer. A sabedoria do Universo tem dessas coisas. A princípio pode ser bem irritante, parece, às vezes, piada de mau gosto. Com o tempo, dá para entender que é proteção pura, além de oportunidades estonteantes de aprendizado. Também acontecem momentos de silêncio absoluto, nenhuma resposta, nenhum acontecimento, nem um sinal sequer. Entretanto, Guimarães Rosa já dizia que “Quando nada acontece há um milagre que não estamos vendo”. Ou não. Só sei que, nesses momentos, aprendo muito sobre as habilidades de silenciar e aceitar. Meio à força, confesso, mas escolho aprender.
Importante ressaltar que todo esse texto é apenas uma fagulha da minha percepção sobre autoconhecimento. Existem muitas outras e todas válidas. E talvez a minha seja inválida para você, leitor, e está tudo bem.
No mais, sigo focada em ser o amarelo mais reluzente que puder dentro de meu próprio bosque. E desejo que, um dia, o bosque do mundo tenha muitas flores amarelas e brilhantes. Na vida, eu sou aquela flor que é bonita só por teimosia, que brilha sem cessar de tanto amor e que sobrevive, debochada, só de sacanagem.
É isso e é só!
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