Era quarta-feira de manhã, o sol mal havia colocado a cara para brilhar. O silêncio foi interrompido pelo som delicado do café coando. A rotina, que um dia tanto incomodou, hoje adoça a vida na medida certa. Quando o olhar muda, a vida brota feito rosa fresca.
O emudecer do coração se fez presente por decreto próprio e voluntário, num desamor imenso do barulho que sempre quer imergir de comunicações falhas, chatas e sem sal. Quando a solidão amadureceu e se transformou em solitude, o silêncio foi gratificante e absolutamente inevitável. A preguiça de gente, regada à raiva pura e ranço certo, foi naturalmente substituída por um observar suave, um sorriso discreto e um calar bem aconchegante e protetor. Momento oportuno de muito aprendizado.
A suavidade da falta das pessoas tomou o lugar da obrigação em se fazer presente e suportar o desnecessário. A verdade do momento é que não havia falta de fato. Talvez nunca haja. No vai e vem da vida, nas transformações amorosas do Universo, a gente vai aprendendo mesmo é que, quando acontece, o distanciamento é saudável. Distanciamento é bem diferente de isolamento. Você pode estar rodeado de muita gente e, ainda assim, saber manter um distanciamento saudável.
Antes que julguem, isso nada tem a ver com arrogância, prepotência, orgulho, vaidade. Na verdade, o distanciamento saudável protege disso tudo, simplesmente porque mantém você com você mesmo o máximo de tempo possível. Parece complicado à primeira vista, eu sei. O fato, pelo menos para mim, é que traz paz. Transforma qualquer turbulência num nada de fácil resolução ou de espera por aceitação apenas. Tanto faz, justamente porque é o que acontece, não é que o que sou.
Quando o distanciamento se faz presente, dentro silencia, o que está fora passa aos olhos como um filme. É como se eu pudesse escolher o que quero tocar ou não, o que permito que me toque ou não. E realmente é isso mesmo. Explicar é falar tanto, que não dá para sentir. Por isso demorei tanto a escrever a respeito. Por isso tenho demorado tanto a escrever. Por isso tenho demorado tanto.
Acontece que meu silêncio ensinou que não existe demora. Tudo está no tempo certo de cada um, sempre esteve. E se aceito, respeito e reverencio meu tempo, a ansiedade faz as malas e tira férias de mim. Ainda é novo, me assusta. E não tenho a pretensão de conseguir explicar toda essa grandeza, longe de mim.
Só escrevo porque escrever é o que sou. E me esvazia, me enobrece e preenche. Tudo ao mesmo tempo. Sentir e jogar para as pontas dos dedos, é tudo o que sei. No mais, vivo e amo. É uma intensidade sem fim ser eu. Cansa às vezes, mas eu amo. Que seja!
É isso e é só!
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