A primavera ainda não chegou e já faz um calor absurdo como se fosse meio de verão. O azul do céu se mistura à chuva de fim de tarde, como quem não sabe se quer uma coisa ou outra. De repente surge um arco-íris, assim sem querer, sem nem saber ao certo a que veio.
Todas as informações rondam a mente dela como bichos sedentos, implorando para serem alimentados por um destino certo ou por uma presa que satisfaça, momentaneamente, a fome de dor. Apesar disso, serena, ela sorri. Tem plena consciência de que alimenta esses bichos somente se quiser. E já aprendeu a querer outras coisas mais leves. O autoconhecimento e a busca permitem constatar que todas as amplas realidades existentes dependem, única e exclusivamente, de sua escolha em vivenciá-las ou não. Importante lembrar que o foco precisa estar no que se quer viver. Aquilo que não se quer, basta que seja ignorado até que morra à míngua. Ficou claro?
A paz é uma escolha com muitos benefícios, mas que talvez traga alguns possíveis inimigos, talvez de forma inconsciente. As pessoas querem te ver bem, mas não melhores que elas. Não sei de quem é essa frase, mas ouvi muito isso de minha avó materna durante toda a adolescência. Se retirarmos o drama e o padrão de dor instaurados nessa frase e optarmos somente pela visão positiva, pode ser uma realidade muito interessante, que serve de alerta para selecionar em quem realmente sua confiança, total e irrestrita, pode ser depositada. Talvez em ninguém ou quase ninguém.
Ao depositarmos confiança, passamos a usar também uma droga alucinógena chamada expectativa. Essa droga sorrateira, que mora numa gaveta qualquer dentro da gente, acorda quando quer, quando bem entende. Simplesmente existe e quando você se dá conta, já está de mãos dadas com a agonia, aguardando que o outro preencha todas as expectativas criadas, seguindo o roteiro, tão carinhosamente, escrito por você. Talvez seja realmente inerente ao ser humano, tanto esse como outro alucinógeno poderoso chamado julgamento. Essas duas drogas, pesadas para a alma, têm o poder de fazer com que, muitas vezes, criemos realidades não existentes ou existentes somente para nós, com o agravante de, automaticamente, querer que outras pessoas estejam conosco na tal viagem. E tem quem queira fazer parte, lógico, pois experimentou as mesmas drogas num sabor muito parecido com o que você escolheu.
É fácil identificar, entretanto, quando umas das drogas, ou ambas, estão sendo utilizadas. Elas não trazem paz alguma, pelo contrário, despertam medo, insegurança, um roer de unhas insano, uma ansiedade que faz devorar bolos inteiros de chocolate sem se dar conta, um choro com soluço no banho pela sensação de estar num beco sem saída, lembrando que nem no beco você está. Qualquer um desses sintomas ou mesmo sintomas mais fracos como leve insegurança, medo, sensação de falta de proteção da vida, sensação de estar sendo sacaneada pelo destino, ou qualquer coisa parecida, simplesmente pare e respire profundamente. Não se irrite com o mensageiro, por favor, mas torne-se observador de você mesmo e foque em buscar porque você criou esse tipo de mensagem. O que, no seu inconsciente, fez com que criasse uma realidade de escuridão para você mesmo? Tente perceber e aceitar essa realidade criada por você. Tome um banho gelado se preciso for, beba água fresca, durma, medite, ore. Não sei, faça o que trouxer tranquilidade. E quando voltar a si, mesmo com a sombra fungando no cangote, saiba que é sombra, mas é só sua. E se é sua, você controla. Se você criou essa realidade, meu caro, você “descria”. Só você, somente você. Conte com o apoio do que for sua fé, óbvio, ou não. Só tenha a mais absoluta certeza de que você tem esse poder sobre sua vida e mais ninguém. Não dê permissão para que tirem sua paz, jamais. Seja sua própria paz até que isso transborde e se transforme em amor genuíno de ser o que se é. E se for da vontade dos que estiverem à sua volta, que mergulhem nessa imensidão de Luz e experimentem outra realidade.
Cuide-se. Ame-se. Faça mais silêncio. Respeite-se. Poupe-se. A vida é para ser degustada, não sofrida. Ou não. Você escolhe.
É isso e é só.
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