Quem nunca ouviu esta pergunta: Você gosta do que faz? Já há algum tempo venho refletindo sobre isso, pois experimento uma realidade diferente ao levantar todos os dias para trabalhar. Sou feliz no meu trabalho. Mas ainda ouço muitas pessoas dizerem que são infelizes, que não conseguem encontrar prazer e satisfação no que fazem. Mas o que pode levar as pessoas a serem felizes ou infelizes no trabalho?
Há um mês conversando com meu filho perguntei: E então filho, preparado para o vestibular no próximo ano? Já decidiu o curso que quer fazer? Ele ficou me olhando e então eu mesma respondi: Eu acho que você leva muito jeito para psicologia. Ele fez uma careta e me respondeu: Ah mãe eu quero fazer aquilo que gosto, vou fazer Engenharia da Computação, pois independente se isso vai me gerar grandes ganhos ou não, se tiver que mexer com isso pro resto da minha vida eu vou ser mega feliz. Naquele momento me surpreendi, pois apesar de sua pouca idade, percebi que ele já tinha descoberto a sua vocação em relação ao trabalho, o que muita gente, mesmo depois de adultos ainda não conseguiram encontrar.
Muitas pessoas se dizem infelizes em sua trajetória profissional, e afirmam que não conhecem sua vocação. Saber qual é a sua vocação é fundamental para a felicidade no trabalho e na vida.
A escritora Fernanda Neute em uma de suas pesquisas encontrou algo bastante interessante em relação à felicidade no trabalho. Trata-se de conceitos que, mesmo parecendo simples, podem nos levar a compreender porque existem tantas pessoas infelizes no trabalho. Segundo ela, existem três maneiras de se enxergar o trabalho: como tarefa, como carreira e como vocação.
Tarefa
É algo que você cumpre em troca de um pagamento, sem procurar outras recompensas.
Carreira
Está vinculada a um investimento profissional mais profundo. Você trabalha pelo dinheiro, mas também pela ascensão e reconhecimento profissional.
Vocação
É o compromisso apaixonado pelo trabalho. É gostar do que faz a ponto de sentir prazer, alegria e satisfação em realizar aquilo todos os dias.
É chocante perceber que são pouquíssimas as pessoas que trabalham por vocação, a maioria ainda enxerga o seu trabalho como tarefa ou como uma carreira, o que aumenta em grandes chances o percentual dessas pessoas infelizes, e frustradas. Elas acabam depositando as suas esperanças e desejo de recompensas e reconhecimentos na organização ou em algo que nem elas mesmas acreditam, pois ainda não têm a resposta para a pergunta que foi feita inicialmente: Você gosta do que faz? Por fim, essas pessoas acabam por contribuir para a geração de um ambiente pessimista, que vem acompanhado por estresse e competição desenfreada, o que não é salutar e pode ocasionar graves problemas na saúde do trabalhador.
Por outro lado, quando pensamos nas pessoas que trabalham por vocação, lembramo-nos de um professor preferido, de um colega de trabalho ou um líder que admiramos. Esses profissionais são os que nos oferecem as melhores experiências, os que trabalham mais felizes e os mais bem-sucedidos no que fazem, independentemente da profissão.
Quando encontramos nossa vocação vemos nosso trabalho como uma contribuição para um bem maior, para algo além de nós mesmos. O trabalho em si é o fator de realização, ainda que não haja um valor monetário envolvido. Pensando nesta questão da felicidade no trabalho, recordei-me da frase de uma grande amiga aqui da empresa. Em relação ao que faz ela diz assim: “Que legal, a empresa acha que está nos pagando para trabalhar, mas na verdade, está nos pagando para nos divertirmos”.
Soichiro Honda fundador da Honda Motor Company compartilhava desse mesmo sentimento e sensação da minha amiga. Em uma de suas reflexões, ele nos deixa um conselho que expressa grande sabedoria.
“Trabalhar com prazer é essencial. Se o seu trabalho torna-se uma expressão de suas próprias ideias, com certeza você vai se divertir”.
O professor e médico fisiologista Eugenio Mussak traz em seu livro – com gente é diferente – um conceito apresentado por Domenico de Masi, titular de sociologia do trabalho da Universidade Sapienza de Roma. Esse conceito aborda a questão da relação do homem com seu trabalho: O ócio criativo. Este conceito está longe de propor uma postura passiva ou contemplativa. Na verdade, trata-se de uma postura das pessoas ante as três maiores necessidades sociais: o trabalho, o estudo e a diversão.
De Masi apresenta sua versão, dizendo que o mundo pós-industrial privilegia – ou prefere – as pessoas e as empresas que criam condições para que haja um encontro entre as três necessidades. Diz ele que, ao trabalharmos em um lugar onde conseguimos aprender e nos divertir ao mesmo tempo, liberamos nossa mente para criar mais, produzir novas ideias, promover progresso e inventar um mundo novo todos os dias.
As pessoas que se dizem infelizes no trabalho, muitas vezes querem separar essa infelicidade da sua vida pessoal e familiar, buscando um equilíbrio. De acordo com o professor Eugenio Mussak, não há solução para o equilíbrio entre a vida pessoal e o trabalho a não ser por meio da construção de uma vida plena, harmônica e prazerosa. A tentativa de separar o mundo em duas ou mais partes acaba criando uma espécie de paranoia que não resolve. Gostar do que faz é fundamental.
Em artigo de David Cohen, publicado pela Revista Época em julho de 2009, o filósofo Alain de Botton afirma que, nos últimos anos, pesquisas têm surgido sobre o assunto. Hoje essas pesquisas mostram que não são as nossas conquistas, o nosso esforço, as nossas realizações que nos tornam felizes. É o oposto. É a felicidade que, em grande parte, determina nossas conquistas.
A psicóloga Sonja Lyubomirsky da Universidade da Califórnia afirma ter feito uma revisão dos 225 estudos mais importantes sobre felicidade sob várias perspectivas, tanto em laboratório como em entrevistas. Ela que é autora de livros sobre o assunto diz ter chegado à conclusão de que, ao contrário do que muitos imaginam, é a felicidade que leva ao sucesso – e sucesso tanto no trabalho quanto na vida pessoal, na escola, e em todas as outras áreas da vida.
“Pessoas felizes têm mais capacidade de perseguir seus objetivos e adquirir os meios de conquistá-los”, diz Sonja. “Elas também costumam ser mais confiantes, otimistas, energéticas e sociáveis, e estão mais preparadas para enfrentar situações difíceis.”
O sucesso no trabalho decorre principalmente de seus laços sociais, segundo Sonja. “Pessoas felizes são mais queridas, recebem mais atribuições, são mais bem avaliadas”, diz. Elas também trabalham com mais energia e são mais criativas. “No mundo competitivo em que vivemos, a agressividade é muitas vezes uma característica importante. Mas a felicidade nos dias de hoje conta mais.”
Para Roberto Affonso Santos Sócio-Diretor da consultoria Ateliê RH, foi nos anos 90 que começamos a encontrar uma crescente preocupação com o clima organizacional ou o moral das equipes que aos poucos se concretizaram por pesquisas e listas das “Melhores Empresas para se Trabalhar”, como a primeira delas, publicada em 1997 pela Revista Exame.
Ele ainda afirma que recentemente, estas mesmas pesquisas passaram a divulgar as empresas nesta lista baseadas em um Índice de Felicidade no Trabalho – composto por um Índice de Qualidade do Ambiente de Trabalho na ordem de 70% formado pelas opiniões dos empregados sobre a empresa (Satisfação, Motivação, Liderança, Aprendizado e Identidade) e os 30% restantes baseados no Índice de Qualidade de Gestão de Pessoas ou “o que a empresa oferece a seus funcionários”. Interessante mencionar que deste total, apenas 10% são impactados pelas políticas e práticas de remuneração. Assim, Felicidade passou a fazer parte da agenda do “Board” ou Comitê Executivo das empresas. Isso não significa que derramou-se uma chuva altruísta sobre o mundo corporativo darwiniano de “Lobos de Wall Street” que passou a visar a plena felicidade de seus empregados. Ao contrário, a lógica do mundo empresarial continua fria e passou a analisar números e mais números, de evidências de que as empresas de melhores resultados (medidos por resultados nas bolsas e no “bottom line”) apresentavam uma correlação intrigante com o índice de satisfação ou engajamento de seu pessoal.
É verdade que o aumento da felicidade dos empregados contribui para a redução do estresse – este não é resultado de se trabalhar demais, mas de se sentir mal no trabalho que temos. É realidade também que elevando a felicidade no ambiente de trabalho, a rotatividade e o absenteísmo tendem a diminuir de forma relevante. Mas a felicidade no ambiente de trabalho precisa ser conquistada no dia a dia através de um esforço conjunto dos empregados e da gestão das organizações – é uma jornada intensa e de longo prazo.
Estatísticas são importantes para servir de parâmetro e termômetro, mas a felicidade sempre será algo subjetivo. No fim, cabe a cada um encontrar o equilíbrio, dedicar-se ao que mais gosta de fazer e avaliar como e onde o tempo tem sido mais bem aproveitado.
Podemos citar alguns fatores que podem ser estímulos importantes para a felicidade no trabalho:
ü a autonomia para executar o trabalho e tomar decisões
ü a oportunidade de aprendizado e desenvolvimento contínuos com envolvimento em projetos desafiadores
ü a qualidade do ambiente de trabalho, emocionalmente saudável, em que o relacionamento entre colegas é baseado no espírito colaborativo de respeito mútuo
ü a conexão com uma visão de futuro que faça sentido em relação a algo maior que engaje as pessoas para além das tarefas cotidianas.
E você, é feliz no trabalho? Já conseguiu identificar o que gosta de fazer?
Ter uma vida pessoal saudável, com família, amigos, hobbies e interesses variados também ajuda muito. Ser uma pessoa séria e responsável não significa não ter alegria e prazer no que se faz. Pelo contrário, a ordem do dia é: sinta a paixão que está dentro de você, descubra a sua vocação, divirta-se e tenha prazer no trabalho e em tudo o que faz. Seja Feliz!
Lindooo artigooo Raqueeeel muito bem estruturado e embasado... obrigado por compartilhá-lo conosco! Cleiton Santos - Itapira
Olá Cleiton, Que bacana que gostou! Fico feliz em ter apreciado o artigo. É sempre bom compartilhar ideias que nos façam avançar. Logo, logo tem mais. Grande abraço!
Meus parabéns !!! Estou em busca de desenvolver minha inteligência emocional, evoluir como pessoa e estou acompanhando o trabalho sensacional de vocês aqui. É algo que tem de ser valorizado !! E saber que tem uma pessoa da minha família que eu amo envolvida, é um orgulho enorme. Mais uma vez, meus parabéns !!!!
Olá Artur, Agradeço por suas palavras, e por nos acompanhar! É um grande estímulo pra nós sermos um canal para fazer as pessoas refletirem e debaterem sobre uma diversidade de assuntos do nosso cotidiano. Espero que aproveite a leitura dos diversos artigos publicados e possa continuar em sua busca pelo desenvolvimento e, por que não, de sua felicidade em todos os sentidos. Um grande abraço e não nos perca de vista!