A grama bem verde tem uma textura macia e cortante, engraçada, que faz coçar meus calcanhares, mas sigo gargalhando. O mesmo quintal, flores diversas, coloridas e serenas. Colho delicadamente uma margarida e coloco nos cabelos. Sempre fazia isso quando pequena. Eu pedia permissão às flores e escolhia uma delas, que dizia ser minha coroa e da qual cuidava com muito carinho depois. Em seguida, como rainha do quintal, começava a fazer bolos mágicos de terra que curavam pessoas. Tia Linda sempre me ajudava, a gente se divertia à beça.
Quando menos esperava e já estava toda suja e feliz, aparecia aquela senhora doce, bonita, de sorriso franco, olhos meigos e cabelos de algodão doce e nos chamava para comer. Perdia um tempo ouvindo me chamar várias vezes, pois gostava do som da voz dela, tinha algo parecido com colo e beijo para os ouvidos. Vó Gina, minha terceira avó. Tia de meu pai, mas avó por consideração e mérito. Seu sorriso constante é minha melhor lembrança. Suas bochechas, tão fofas e rosadas, faziam movimentos delicados de felicidade. Como eu gostava da casa dela, era tudo tão misteriosamente acolhedor e silencioso. Dia de visitá-la era dia de comer lasanha e, de sobremesa, ovos nevados. E toda vez, ela fazia questão de abrir a geladeira, que tinha um tom azul cor de céu, mostrar o doce e dizer: fiz especialmente para você. Entende porque eu me sentia uma rainha?
Vez ou outra ela nos visitava e era só alegria nos dias em que passava conosco. Lembro de que buscá-la na rodoviária era motivo de festa certeira. Ficava ansiosa pelo seu abraço, tão terno e gostoso, e também ansiosa em ganhar o presente que ela sempre levava. Eram todos muito especiais e únicos. Guardava todos com muito carinho. O que mais me marcou foi um conjunto de Budas de louça, na cor azul. Desde criança sempre tive algum tipo de altar, que eu mesma fazia. Não me pergunte o porque, senão vira uma crônica. Quem sabe seja o próximo tema? O fato é que nele havia Anjos, Santos e afins, presenteados por minhas avós e algumas tias, que entendiam como aquilo era importante para mim, mesmo que eu ainda não entendesse bem o motivo. Eu fiquei muito encantada com os Budas, tenho todos até hoje. Lembro-me da explicação a respeito do que era e de ela me dizer que um dia eu entenderia que existem muitos tipos de fé e que todas são muito bonitas. Constatei, mais tarde, o tanto de razão e doçura que havia nessa frase e como me tocava, pelo simples fato de ter a ver com minha personalidade, minha natureza buscadora, em especial no que diz respeito à Espiritualidade. No conjunto dessa lembrança tinha também um elefante, e recebi a orientação de que deveria deixá-lo de costas para a entrada da casa para me trazer sorte. Ingenuamente, lembro-me de perguntar se e como eu veria essa sorte. Ela sorriu e disse que um dia eu sentiria essa sorte e isso bastaria. Ainda hoje, quando limpo e ajeito meu altar, abraço o elefante e agradeço por ensinamentos tão sutis e profundos.
Vó Gina, mulher forte, guerreira, como todas da linhagem, de olhar sereno, doçura na voz e firmeza na postura de ser humano. Caráter invejável, coração sem igual. Esteja ela onde estiver, que tenha a certeza de que sua presença é viva em mim e faz parte da mulher que me tornei. Seu amor, de uma imensidão autêntica, desabrochava a cada sorriso gentil, sua alma transbordava bondade a cada toque carinhoso de suas mãos, me trazia a sensação de como a vida é incrível. Cada história que eu ouvia dela, me fortalecia e me deixava repleta de uma paz muito divertida. Ainda hoje, cada vez que arrumo meu armário e encontro, bem guardado, o vestido vermelho de crochê que ela fez para mim, abraço cada centímetro como se ela me abraçasse naquele exato momento. E ela abraça, eu sinto. Sorrio o sorriso dela, ouço sua voz e sou preenchida de gratidão por ter sido sua neta por escolha.
Que o amor prevaleça sempre na criança interna de cada um. Que as lembranças mais encantadoras da infância sejam de esperança para nosso presente e que acolham, carinhosamente, nosso adulto e o envolvam numa alegria plena, bem pura e simples.
É isso e é só.
Isso mesmo amiga! Que a infância, em nossos corações, perdurem durante toda nossa trajetória rumo à longevidade.
Que assim seja, minha amiga! Gratidão! Beijo grande!
Ouch! Faz assim, escreve mais não, ok? Despedidas, inícios de outros encontros. Bonito, né? Mas saudade dói um "pouquinho"... Sim! "Que o amor prevaleça" Por vc está a mil! kkkkkkk Ótimo domingo!
Olá, Jaylei! Gratidão pelas palavras! Boa semana! Um abraço!