Olho para o relógio como quem espera algo de mágico acontecer do nada, a fim de resolver tudo aquilo que não consigo por mim mesma. Eu sei, é irreal. O chocolate invade o bem-estar do corpo de forma leviana, mas recupera momentaneamente a sobriedade do coração. O paliativo que me salva da sanidade enlouquecedora desse mundo, do qual eu talvez pouco faça parte de fato. Tanto a se fazer, tanto a se recuperar. O barulho interno acontece e está perturbador, mas já entendo que desconforto também é sinônimo de progresso, evolução. Crescer é necessário e urgente, sempre, todos os dias.
Nada acontece fora. A ansiedade surge repentinamente numa respiração sufocante de agonia. O ar tenta se fazer presente, mas falta. Uma fagulha de insight me devora os sentidos de forma abrupta. O óbvio, tanto tempo ignorado, agora tem cara de realidade criada: tudo está exatamente onde deveria estar, no momento em que deveria estar, e estamos exatamente onde escolhemos estar. O coração emudece, a perplexidade de tamanha simplicidade intriga de forma assombrosa. Falta o ar, talvez na mesma medida em que falte a aceitação total pelo mistério da vida.
Não há saída, fecho os olhos e vou. Agarro a meditação como quem quer se salvar de um barco prestes a naufragar. Tudo está escuro e me desorienta. Conecto. E de repente, como que por misericórdia, o próprio mistério da vida me sopra boca adentro. Mesmo tendo sido tão desafiado, ainda assim, mora na compaixão infinita e divina que habita o Universo e vem me trazer Luz.
Mergulho no nada. Me vejo. Os olhos da alma choram livremente, emoção pura. Pouco tempo, instantes apenas, mas extremamente valiosos. Paira o silêncio de tudo, fico imersa no vazio. Não sei quanto duram esses instantes, nem por quanto tempo isso ocorre. Mas estou lá e é só o que existe. O agora. Existe tempo de fato? Um beija-flor me beija o rosto. Volto, recobro o ar como quem volta de um quase afogamento em si mesmo.
Abro os olhos, estarrecida, mas em paz absoluta. Ganho uma respiração serena. A tranquilidade me invade enfim. Exalo beleza de ser por todos os meus poros. Sou amor. Olho à minha volta e a gratidão me tem toda. Quando penso que já fui suficientemente abençoada, ouço aquela voz suave, presente naquele vazio. Ela corre por toda minha existência, encosta em meus ouvidos carnais e me diz claramente: a beleza está em ser o que se é, transborde-se!
É isso e é só.
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