Entre 2011 e 2014 aqueles de nós fãs de séries de crime e mistério foram agraciados com uma das melhores produções do gênero nesse milênio: a série The Killing, transportada de sua produção original dinamarquesa para a chuvosa Seattle pela roteirista e produtora canadense Veena Sud. The Killing consagrou a dupla de atores Mireille Enos e Joel Kinnaman, e elevou à categoria de arte o drama policial de um único crime que permeia uma temporada inteira (ou, no caso, várias temporadas).
O segredo de Veena Sud para todo o sucesso que foi The Killing? O foco nos vários dramas pessoais, sociais e políticos que um único crime desencadeia em uma comunidade. The Killing segue a família da vítima, bem como a história pessoal dos policiais envolvidos nas investigações e nos apresenta, também, as andanças de vários dos suspeitos. Os personagens são prá lá de bem construídos, e se veem envolvidos em acontecimentos que parecem ser maiores que sua capacidade de os suportar. Linden, a policial vivida por Mireille Enos é uma mãe ausente e pobre, que não consegue dar o apoio que o filho precisa; Holder, seu parceiro nas investigações se recupera do vício em metanfetaminas; a mãe da vítima abandona os dois filhos pequenos aos cuidados do pai, e por aí vai. Os dramas se desenrolam, se aprofundam e, quando vem a resposta, ficamos com a sensação de que essa não significa nada diante de tantas coisas que se passam com todos, deixando-os profundamente transformados, dilacerados.
Isso foi lá em 2011, tendo terminado depois da quarta temporada, em 2014.
Esse Ano, Veena Sud trouxe às telas sua nova produção: Seven Seconds, que estreou recentemente no Netflix. Puxa, que série…
Para simplificar as coisas, Seven Secondsé The Killing sem o mistério do “quem é o assassino”. A exemplo de The Sinner, outra série fantástica desses últimos tempos, e que já resenhei aqui no Confrariando, Seven Seconds responde logo na primeira cena quem é o assassino. Ou seja, Veena Sud remove o subterfúgio que nos fez assistir — grudados na tela — sua série anterior: o mistério, a caçada ao assassino. O policial investigador está lá, auxiliando uma jovem promotora, mas diferentemente de The Killing, nós espectadores sabemos tudo aquilo que eles não sabem. Contudo, essa ciência não nos tira a vontade de assistir cada segundo dessa série. E o motivo é exatamente o que fez The Killing ser o sucesso que foi: Seven Seconds explora em profundidade o drama vivido por aqueles que ficam no caminho de um crime sem sentido. Os pais, os responsáveis pelo crime e por seu acobertamento, os investigadores, os políticos, o público que assiste e toma partido, a imprensa que manipula e é manipulada.
O crime? Na primeira cena, vemos um policial dirigindo em alta velocidade por um parque, em direção ao hospital onde sua mulher — grávida — o espera. Em um momento de distração, ele, branco, atropela um garoto negro de bicicleta. Está criado o conflito: mais um caso em que um policial branco tira a vida de um inocente negro, em Nova Jersey, logo ao lado de Manhattan, com direito a vista para a Estátua da Liberdade.
Desnecessário dizer que, quando se ventila a possibilidade de ser um policial (desconhecido de todos menos de nós, espectadores) o perpetrador do atropelamento, a comunidade explode em indignação.
Sud explora com maestria esse conflito social, tão produto da cultura norte-americana quanto a pasta de amendoim e as férias na Disneylândia. Explora, também, as idiossincrasias pessoais de todos os envolvidos: um alcoólatra aqui, um corno conformado ali, uma menina rebelde e viciada em heroína acolá. Tudo é cru, tudo está e fica cada vez mais em carne viva, todos são culpados, e todos, de certa forma, são inocentes em sua culpa.
A mensagem subliminar corrobora meu texto da semana passada, gritando-nos o tempo todo: “Não somos viáveis! Nem como indivíduos, nem como sociedade! Alguém dê um tiro de compaixão em nossa miséria!” E como na vida real, ninguém escuta, ninguém atende à súplica.
Sete Segundosé um retrato sem retoques da natureza humana. É também o tempo que deveríamos demorar para perceber que a tela da televisão se transforma em um espelho a cada capítulo, porque estamos olhando para dentro de nós mesmos.
Quando termina a primeira temporada — que fecha o ciclo da história —, ficamos com a impressão de que assistimos a um longo noticiário misto de cotidiano, policial e político. Sete Segundos é, no fim das contas, uma extensão da impotência e da perfídia humanas, dolorosa e implacável como as realidades sonhadas por Nelson Rodrigues.
A vida como ela é, mas que suplicamos desesperadamente que não seja.
Eu, cada vez mais, acho que a cura pessoal já é de grande ajuda, afinal, estar no conforto interno, permite aguentar os desconfortos da vida, não? Curar-se é melhorar a relação consigo e, assim, com os outros. Não é mágica, é fruto de dedicação à saúde, e que seja o que for, comer melhor, meditar, rezar. Sabe, as pessoas não tem se cuidado ou se cuidado pouco, ainda mais com tantas fórmulas mágicas medicamentosas...Afastaram-se da natureza, e assim, tbm da sua própria natureza. Acreditam que são capazes por si só de alcançarem sonhos, de fazerem o que desejam e "sem ajuda". Esse individualismo e esse conceito de liberdade, os dois exacerbados, foram bem prejudiciais. Assim, "eu faço o que quero porque posso e que se dane os outros e o mundo" ou "eu faço porque sou foda e alcanço o sucesso". Para mim, é preciso a reconexão, seja, por quais caminhos forem. É preciso curar relações, comunidades e só assim, o planeta. Isto passa pela cura pessoal. É preciso perguntar de novo: Quem nós somos? Viemos de onde e vamos para onde? Hoje, eu adicionaria: É só isso que viemos fazer aqui? Consumir, agredir, rir, beber, comer, viajar, transar, escrever? É só isso que podemos fazer no pálido ponto azul perdido no infinito? Abs e sigamos, afinal, estamos em transformação, mesmo com tanta coisa ruim. Lembrei do Maramor da Dani. :)
Acabei de assistir a 2 temporada the killing.....muito bom Chorei horrores, principalmente porque a Ana Laura tinha ido viajar e eu no meio da primeira temporada. A ânsia do trabalho me deixa tão ausente, como passo tanto tempo sem ver realmente minhas filhas, ver no fundo dos olhos o que se passa com elas. Amei a série e vou terminar de assistir pra começar sete segundos. Até lá