Eu ouvi falar em Antroposofia no final dos anos de 1990. No entanto, apenas recentemente comecei a estudar um pouco sobre seus fundamentos. Trata-se de uma linha de conhecimento que propõe um método para conhecer o ser humano em suas diversas amplitudes, incluindo a saúde física e psíquica.
A Antroposofia,
[…] do grego “conhecimento do ser humano”, introduzida no início do século XX pelo austríaco Rudolf Steiner, pode ser caracterizada como um método de conhecimento da natureza do ser humano e do universo, que amplia o conhecimento obtido pelo método científico convencional, bem como a sua aplicação em praticamente todas as áreas da vida humana. (SOCIEDADE ANTROPOSÓFICA)
Não é para menos que encontramos a contribuição desse austríaco na medicina, na educação (com as escolas Waldorf), na agricultura, nas artes plásticas, na psicologia, na arquitetura, no social, dentre outros. Consta que Steiner teria bebido das mais diversas fontes de conhecimento, de muitas épocas diferentes da história humana e de variadas culturas. Conseguiu conciliar a ciência convencional com muitas sabedorias antigas de culturas que viveram há milênios a.C. Creio que, para entender as propostas da Antroposofia, não adianta tentar fazê-lo apenas pelo nosso pensar, mas é imprescindível envolvermos o nosso sentir e o nosso querer.
Minha proposta, para este texto, é abstrairmos nossas mentes e tentarmos interpretar, mesmo que minimamente, os seguintes versos:
No coração, tece o sentir
Na cabeça, luze o pensar
Nos membros, vigora o querer
Luzir que tece
Pensar que vigora
Vigorar que luze
Eis o homem!
Não posso esconder que a filosofia de Steiner exerce grande impacto sobre mim. Acredito que muitas de suas ideias podem nos inspirar em reflexões bastante pertinentes. Assim, caro leitor e cara leitora, convido-os a me acompanhar em mais uma de nossas costumeiras viagens filosóficas.
Para começarmos nossa interpretação do poema acima, gostaria de mencionar o conceito de homem trimembrado. Steiner o resgata e o utiliza para identificar uma interconexão muito especial entre o que seriam os três grandes membros do ser humano: o Sistema Nervoso Central (SNC); o Sistema Metabólico Motor (SMM) e o Sistema Rítmico (SR). O Sistema Nervoso Central (SNC) poderia ser representado pela cabeça e pela capacidade que temos de pensar. Nossos pensamentos são facilitados quando temos clareza mental: a luz. Quanto mais imóvel e equilibrada estiver nossa cabeça sobre o pescoço, mas fácil fica de nos concentrar. O Sistema Metabólico Motor (SMM) estaria alojado em nossa porção que vai do diafragma para baixo (e, também, nossos membros). Já percebeu a movimentação dos órgãos que ficam nessa região? Todos eles a todo vapor, funcionando involuntariamente para manter nosso vigor. Se o SNC tende ao estático, o SMM tende ao movimento. Se a cabeça precisa “estar fria” para pensar, o abdômen e membros precisam de calor para funcionar. Na cabeça, há o pensar; nos membros, há o querer.
Quanto ao Sistema Rítmico (SR), representado pelo coração, está alojado entre o SNC e o SMM. É o SR que faz a intermediação entre o estático e o movimento. Entre o frio e o calor. Entre o consciente e o inconsciente. O sentir está entre o pensar e o querer. É o sentir que tem capacidade de tecer entre o pensar e o querer, construindo o verdadeiro ser humano.
Segundo alguns estudiosos antroposóficos, entender esse poema de Steiner é o caminho para compreender sua filosofia. E faz todo o sentido! Pense nisso: o que acontece quando o nosso sentir, o nosso pensar e o nosso querer não estão conciliados? Ficamos doentes! (Ual! Somos todos doentes, nesta sociedade ocidental capitalista contemporânea…).
Será que nossos corações estão tecendo o nosso sentir? Às vezes, acho que nosso novelo coronário está tão cheio de nós que o pobre coração não consegue passar do primeiro ponto do lindo tecido que uniria nosso pensar ao nosso querer.
Será que nossas cabeças têm pensamentos luminosos? Estou certa de que você já pensou na escuridão em que mergulhou a política de nosso país; pensou na difícil situação econômica em que estamos todos nós e como estamos botando os “pés pelas mãos” ao lidarmos com a natureza. São pensamentos sombrios…
Será que nossos membros se veem livres para manifestarem nosso querer? Horas e horas imobilizados no escritório. Movimentos repetitivos em nosso dia-a-dia, colunas sobrecarregadas, ombros pesados. Nossos membros não são vigorados por nosso querer.
Minha intenção não é terminar meu texto com esse gosto de pessimismo. Na verdade, quero apenas manifestar um alerta que tenho feito a mim mesma: se queremos saúde, precisamos conciliar nossos sistemas trimembrados!
Se pudesse fazer uma recomendação ao final de nossas reflexões, eu diria: deixe seu coração sentir o melhor de você; deixe sua cabeça iluminar seus melhores pensamentos; deixe seus membros te levarem aonde seu espírito quiser. Assim, seu coração terá luz para tecer seus sentimentos, dando vigor aos seus pensamentos e luz aos seus movimentos!
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Foto by Marcos Lalli
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