O olhar que parece perdido de si mesma é real hoje, mas não foi sempre assim. A doença que traz o esquecimento como certeza, traz também uma pontada de cansaço e desalento a todos. O que faz sorrir a esperança da família toda é ver todos os dias como ela é forte, sempre foi.
Sebastiana. Estatura baixa, sorriso franco, firmeza no olhar e nas palavras, sempre. Uma braveza toda peculiar que acaba por torná-la especialmente meiga e muito respeitada. Viúva desde muito cedo, mãe de sete filhos. A avó adorada, firme, original e carinhosa em sua franqueza. Cozinhava como ninguém, sorri alegria como poucos e sempre soube ser amor como raras pessoas que conheci na vida.
Amor. Talvez seja essa a palavra que melhor define essa senhora, dona de um coração sem medidas. A vida foi dura com ela. Perde cedo o marido, uma filha. E sempre devolveu tudo com mais amor ainda, esperança, dedicação à tranquilidade em ser o que se é e franqueza em ser a fortaleza firme de todos nós.
Por morar longe, sempre a vi muito menos do que realmente gostaria. Entretanto, não tenho do que me queixar. Todos os nossos encontros sempre foram intensos, calorosos. A gente chorava de saudade e se curava da distância assim, em meio a muitos beijos e abraços.
Uma vez, numa ida às Minas Gerais do meu coração, em pleno mês de janeiro, vimos Folia de Reis pelas ruas. É inexplicável a aura de Luz que paira nesse acontecimento, só mesmo sentindo na pele, vendo com os próprios olhos e deixando aquela música ser gravada num lugar bem especial da alma. Tem também as Pastorinhas, que são companhias formadas somente por mulheres. Sebastiana quis recebê-las em sua casa. Ficou toda bonita, colocou uma cadeira no quintal e aguardou. Fiquei em pé, distante, para tirar fotos do evento. O olhar dela, já tão surrado da vida e tão feliz por alma, chorou suas alegrias mais bonitas de pureza e fé. Aquela imagem colorida e intensa sempre será lembrada com muita emoção.
O vento despenteava seus cabelos grisalhos, cheirosos e sedosos, de algodão. Os brincos de pérolas balançavam conforme ela dançava, mesmo sentada. Sorria um mundo inteiro de paz. As unhas cor de rosa, delicadamente combinavam com todo aquele cenário mágico. A água dos olhos se misturava com o brilho da alma que emergia sem pestanejar. Quando olhei esse momento, não tive dúvidas de como é fácil e simples ser feliz. E ela sempre me ensinou tanto sobre ser feliz. Tenho orgulho em dizer que herdei sua franqueza, seu caráter firme feito rocha que se mistura com sua doçura bem característica. Eu sou toda amor por ela.
Fomos visitá-la, meu marido e eu, e na época estávamos preparando tudo para casarmos. Lembro dela sentar ao lado dele e perguntar, naquele tom de brincadeira sincera, se tinha mesmo certeza sobre o casamento, porque eu não sou fácil, tenho o coração bom, mas sou brava como ela. Ah, a franqueza e transparência que sempre admirei tanto! E que fizeram com que meu marido entendesse porque sempre me derreti por ela.
Uma outra lembrança bonita eram os dias de Carnaval, que eu passava em Minas na adolescência. Minha prima-irmã e eu aproveitávamos muito. Era um Carnaval como não se vê mais hoje em dia, talvez por isso fosse tão gostoso de dançar, de curtir. A gente fazia tudo a pé pela cidade. Lembro de chegar dos bailes às seis e pouco da manhã e minha Vó já estar coando um café amorosamente cheiroso. A gente tomava café com ela e dormia para recuperar as energias para a próxima farra. Tempo bom…
Essa minha prima é mesmo irmã, sabe? E tenho profunda gratidão por todos os cuidados que ela tem e sempre teve com nossa Tianinha. É muito comovente ver os olhares delas quando se cruzam e sorriem. É um misto de amor com ternura, companheirismo e cumplicidade, que enchem meu coração de esperanças pela vida.
Hoje ela lembra de algumas coisas, outras não. Isso não importa. Ela está recebendo de volta todo amor que distribui até hoje. É amor que não acaba mais. Ela sempre será minha maior lição de como o Universo nos devolve aquilo que emanamos, sempre será a pessoa mais amorosa que conheci na vida. Porque amor é também franqueza, firmeza, honestidade do que se sente, do que pensa, do que se é. E ela é gigantesca nisso tudo.
Sebastiana é amor, do mais puro e sublime. Meu maior exemplo de como é bom ser amor na vida. E como, sendo amor, a vida se torna apenas amor.
Eu te amo muito, minha Vó, hoje e sempre. É isso e é só.
Lindo!!!
Gratidão, Inês querida!! Grande beijo!
De coração muito obrigado por sse
Gratidão, Pai amado! Um beijo!