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Homepage > Categorias > Cultura > Resenha - O gênio e o louco
18/04/2019  |  By Ruy Flávio de Oliveira In Cultura

Resenha – O gênio e o louco

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O produtor iraniano naturalizado americano Farhad Safinia — conhecido pela produção do filme Apocalypto, de 2006 — volta à telona, dessa vez como diretor, em mais uma parceria com Mel Gibson (o diretor de Apocalypto). Safinia dirige a biografia de um dos maiores nomes mundiais da linguística: o filólogo escocês James Murray (revivido por Mel Gibson). O filme se chama The Professor and the Madman, (traduzido para o português como “O Gênio e o Louco”, por razões que o marketing, infelizmente, explica). A obra de Safinia conta a história de como uma amizade inusitada foi responsável pela produção de uma das mais monumentais obras escritas da Humanidade: o dicionário de Oxford da língua inglesa.

Se você ameaçou bocejar com o parágrafo acima, mas decidiu ler mais uma ou duas linhas antes de desistir dessa resenha, saiba que acertou: o filme é uma grata surpresa para os que conseguirem passar pela base do enredo. E, não, não é um filme entediante que se perde pelas origens de palavras obscuras de uma língua que poucos brasileiros falam (apesar de ser fundamental para o progresso na maioria das carreiras profissionais).

Em que pese a espinha dorsal do filme ser a monumental produção do OED – Oxford English Dictionary, a medula espinhal, por assim dizer, é humana, triste, violenta, terna e — como aponta o título — carrega em si uma boa dose de insanidade Isso porque a composição do dicionário só foi possível por conta da contribuição de um médico condenado por assassinato e trancafiado em um hospício: o Dr. William Chester Minor (interpretado por Sean Penn).

Minor, um cirurgião na Guerra de Secessão, sofre com o peso de sua consciência, e acaba trancafiado no Sanatório de Broadmoor, na Inglaterra, depois de cometer um crime tão brutal quanto banal. Inteligente, culto e bastante determinado, ele dirige sua energia para definir verbetes para o OED, depois de ler o pedido de Murray em um livro que ganhara de presente.

Murray, por sua vez, não se faz de rogado, e aceita o inesperado apoio do paciente, estabelecendo com este uma amizade que ultrapassa os limites da filologia. Minor também se aproxima de Eliza Merrett (interpretada por Natalie Dormer), a viúva da vítima de sua insanidade. Levada pela necessidade — ela não trabalha e tem seis filhos pequenos para criar — ela aceita a ajuda financeira do assassino de seu marido. Aos poucos, contudo, vai baixando sua guarda e desenvolve uma amizade sincera com Minor.

O filme é biográfico, mas é bem perceptível que a história foi romantizada por Safinia (que é co-roteirista, além de diretor do filme). Há uma certa necessidade excessiva de mostrar a “nobreza” das personagens centrais, o que deixa o filme um tanto sacarino em alguns momentos. Há vilões explícitos que se escondem pelos nobres salões de Oxford, e sua ação contrasta com a “pureza” das intenções de Murray, dando um tom maniqueísta à obra que poderia ter sido mais sutil (ou, de preferência, ausente). Contudo, no geral, esses defeitos não destroem a história que o diretor busca contar. O que se vê é o esforço de um grupo de pessoas unidas pelas circunstâncias da vida, com um resultado que vai além de suas existências e limitações individuais, ao mesmo tempo que ultrapassa o propósito prático da empreitada, que é a produção do dicionário.

É interessante ver Mel Gibson novamente na tela, depois de ter praticamente destruído sua carreira em função do alcoolismo e das declarações antissemitas que durante  a segunda metade da década de 2000 vazaram a torto e a direito pelos programas  de fofoca e pelos artigos de revistas de variedades. Gibson vem ensaiando sua volta desde 2011, quando estrelou no filme The Beaver (“um Novo Despertar”, de Jodie Foster), e até dirigiu o aclamado Hacksaw Ridge (“Até o Último Homem”), filme que levou dois Oscars. Ainda assim, sua presença em Hollywood tem sido incômoda, e não há como não traçar um paralelo entre ele e o Dr. William Chester Minor, uma presença fundamental, mas bastante controversa na produção do mais importante dicionário da língua inglesa já produzido.

No fim das contas, The Professor and the Madman conta uma boa história, acerca de uma das mais monumentais empreitadas já conduzidas dentro da academia, uma história que envolve sobretudo a superação de dificuldades interiores e exteriores por parte de todos os envolvidos. Um filme com defeitos e qualidades, como qualquer uma das figuras ímpares que retrata.

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