Foto by Marcos Lalli
Não sou exatamente o tipo de pessoa que fica resgatando o passado. Ele me parece algo tão longínquo, tão inalcançável que sou capaz de ficar descolada, como numa amnésia consciente, preservando pouquíssimas fagulhas de lembranças…
De qualquer forma, o convite para um reencontro com a turma de escola, trinta anos depois, conseguiu me mobilizar. A minha primeira reação foi: “Bacana! Adoro conhecer gente nova!” Até porque, as pessoas, geralmente, mudam bastante em trinta anos, não é mesmo?
Nos dias que antecederam ao encontro, eu me flagrei pensando: afinal, um encontro como esse não seria um reencontro comigo mesma? Rever as pessoas com as quais eu dividi minha adolescência me levaria a reencontrar-me nas antigas fotos – ainda impressas em papel, desenterradas por alguns de nós – e, também, em casos recontados e recheados de gostosas inconsequências.
Só que não! Fui aquele tipo de criança que sempre ficava com bronquite às vésperas de uma viagem com a turma, sendo impedida de sair de casa. Além disso, eu era incapaz de participar das traquinagens juvenis. Ou seja: estaria ausente das fotos e dos casos emocionantes. Assim, concluí: para mim, o melhor do encontro seria conhecer as versões melhoradas de nós mesmos!
Éramos alunos de uma escola de freiras. Grande parte de nós só foi estudar em sala mista depois dos quinze anos! Some, a esse cenário, uma educação de cunho fortemente ditatorial. Daí, podemos imaginar como foi nossa experiência escolar…
Ainda bem que, dentre nós, havia aqueles que subvertiam a ordem. Em sua maioria, os meninos! Se os adolescentes já são bombas autodetonáveis, imagine separá-los por gênero! Naquela escola, por muito tempo, os meninos estudavam pela manhã e as meninas, à tarde. É claro que a virada do turno era a grande deixa para que os meninos esperassem, em frente à escola, pelo horário de entrada das meninas. Éramos ameaçadas pelas freiras a não ficar conversando com eles na calçada. E, eles? Eram perseguidos, em nome dos bons costumes, como meliantes.
Puxa, falando assim, pode até parecer história do século passado. Ops! E é mesmo!! Meados dos anos 1980. De lá para cá, algumas coisas mudaram. A relação docente-discente simplesmente se inverteu. Naquele tempo, éramos esmagados pelas botas pesadas das autoridades educacionais. Hoje, os professores são agredidos pelos alunos em plena sala de aula. Dois extremos…
Finalmente, o dia de nosso reencontro chegou. Três décadas depois! Fiquei sabendo de histórias inéditas da época, desde invasões noturnas dos garotos para surrupiar gabaritos de provas até a coação pública de diretoras aos alunos (o que, hoje, daria muito pano para processos judiciais). Histórias para rir e histórias para lamentar. Histórias para lembrar e histórias para deixar passar.
Seja como for, dentre opressões e traquinagens, tornamo-nos adultos. A maturidade chegou generosa para cada um de nós. Puxa, que turma admirável de cinquentões! Homens tão meninos e meninas tão mulheres! Abraços apertados. Vontade de ficarmos juntos.
Se, na adolescência, éramos apenas promessa, hoje somos realização. Cada um com sua trajetória de vida, em meio a sucessos e decepções; alegrias e apreensões. Lindo de se ver! Lindo de se viver!
O que dizer? Que prossiga a vida! Que os vínculos sejam reforçados. Que a amizade seja renovada. Que a maturidade seja celebrada.
Que se viva e que se deixe viver!
Lindo! Há dentro de cada um de nós, ainda que inconsciente, o desejo de revisitar o passado em busca de algo que nos explique o ser que nos tornamos. Parabéns Carla!!!
Puxa, Gilberto, você traduziu perfeitamente! É isso mesmo! Obrigada por sua leitura!