A terra, úmida e satisfeita, ainda sentia o amanhecer estremecido por uma neblina de silêncio. A casa dormia uma calmaria alegre e soberana.
O descanso. Tão merecido, contemplativo e necessário, o descanso. A cidade pulsa, dança, enlouquece de tanto acontecer. Entretanto, a natureza é quem vive. E em meio a ela, é possível sentir a vida que arde em cada aroma marcante de tempero, de fruta, de flor, de paz.
Depois de tantos acontecimentos, a necessidade de solitude tomou conta de seu ser. Fez-se urgente, necessária, intransferível.
O corpo a desperta. Volta de uns sonhos bem malucos e libertadores. Volta, sempre. Os olhos sorriem. Mais uma vez se abrem, mais um dia de presente, aqui. A boca tem sede de nostalgia. O aroma do café adormece qualquer conflito desse despertar.
Uma xícara de um país bem distante. Uma das mais valiosas da coleção. Ser viajante do mundo tem dessas coisas, uma mania gostosa de querer sempre ter um pedaço dos lugares junto de si. A fumaça, companheira do café, se mistura com a neblina do campo. O balanço da varanda range um aviso de sossego. Ainda é possível avistar o orvalho, delicado, sutil e ousado.
Ela e aquilo tudo só dela. Que saudades ela estava dela mesma. Que saudades ela estava do silêncio criativo, doce, tão barulhento e cheio de vida dentro dela. Nada além de desfrutar toda beleza exposta naquele lugar, de uma forma brutalmente delicada. O céu azul acolhia tantas cores quanto podia, do cenário todo. E a brisa gelada dava vontade de gargalhar de satisfação.
As plantas todas faziam festa com a passagem dela. Era uma solitude sem solidão, sabe? Era bem bonito de sentir. O passeio matinal trouxe uma ventania de vontades e ideias, um turbilhão de emoções tomou conta de seu coração.
Com tantos sinais, a alma decidiu sentar e escrever. Era a melhor tradução dela mesma nesses momentos especiais. E tudo era tão especial para ela, sempre, talvez por isso mesmo tenha nascido escritora.
E, de repente, as linhas foram acontecendo, aparecendo, conversando entre elas, crescendo. Nascia ali, um novo livro. As palavras tomavam uma forma tão radicalmente livre, que depois de saírem dela, pertenciam mesmo era ao mundo. Não dá para explicar, nem ela entende com o pensamento. Só dá mesmo para sentir.
Sentir. Escrever. As melhores definições da missão de vida dela estão contidas nos significados dessas palavras tão simples, complexas e enigmáticas. Como tomar contato com esse conteúdo todo? Simples, basta abrir os olhos da alma e sentir. Ao colocar essas palavras a favor do seu próprio mundo, será apresentado, a você, um mundo bem novo a partir de então. Parece esquisito e é, mas precisa sentir. Permitir que o seu ser sorria por dentro. Mergulhar, experimentar. Saborear suas próprias sensações e aguardar seu novo mundo acontecer. E acontece, mas somente quando existe a vontade.
Ela sempre soube. As palavras nascem dela, mas não pertencem a ela, pertencem à vida. E a magia mais bonita de escrever está mesmo aí. Cada um que encontra com essas palavras, nascidas dela, enxerga de uma forma diferente dos demais. E com diversas e inusitadas formas de serem vistas, as mesmas palavras, os significados se tornam novos mundos, cada qual com seu brilho, sua aura, seu encanto. E a missão de escrever pode ser mesmo essa, quando acontece a oportunidade das pessoas tomarem contato com seus mundos e descobrirem o tanto de potencial e força contidos aí!
E quando isso acontece, emociona. O tempo para, acaricia o destino. E ela entende, de uma vez por todas, o quanto precisa dessa escrita não pertencente, o quanto isso é a essência dela, na forma mais pura. É a coisa que alimenta seu ser, seus dias, sua vida, seu sorriso mais sincero. É o que ela é.
Indescritível é a sensação marcante de ser o que se é, sem qualquer pertencimento e pertencendo a tudo ao mesmo tempo. E o caminho segue. E a missão pulsa vida. Alegria que se tem agora, hoje. É isso e é só.
Lindo Dani! Sentir a neblina, curtir este orvalho.... hummm, deu para sentir o cheiro deste café! O caminho segue, a vida pulsa! Lindo demais!!! Parabéns.
Marinha querida, muito obrigada!! E viva a vida que pulsa! Saudades! Grande beijo!
Linda amiga! Sua alma percorre cada linha de seus poéticos textos. Suas palavras carregam os mais diversos sabores. Suas ideias, as mais belas cores. Ler suas crônicas é viajar no embalo de asas que voam bem alto. Adoro te ler!
Amiga linda! Só mesmo uma alma nobre e doce como a sua para me presentear com palavras tão maravilhosas e sentimentos tão grandes. Gratidão imensa! Muitos beijos!