OK, partidários do B17, vocês venceram. Ou vencerão no dia 28 de outubro. Não tenho dúvida disso. O PT, por suas próprias mãos, por sua própria corrupção, por sua própria soberba, por sua própria incapacidade de autocrítica, impossibilitou-se no governo. Impôs a si mesmo um impeachment por antecedência, e nem São Epaminondas-com-alicate-de-bico consegue mudar isso.
O B17 vai ser presidente e ponto final.
Ou seja, chega de bater no H13 (ou L13, como queiram), porque é bater em cachorro morto. O PT é passado.
“Ah, joia! Que bom que você viu a luz!”, dirão alguns partidários, “Chega de bater também no B17, né?”
Aí é que tá: não. Lembra daquele bordão que a gente repetia com gosto nos tempos do impeachment que dizia “Não tenho políticos de estimação”? Então, continua valendo.
Pensando no B17 como presidente, aí é que a necessidade de uma marcação cerrada se faz mais necessária. Porque ele vai ser presidente de todos os brasileiros, e mesmo que não me represente pessoalmente, seu cargo — constitucionalmente obtido — será respeitado por mim e deve ser respeitado por todos. E, é bom lembrar, ele será nosso empregado. Como tal, isto é, como presidente de todos os brasileiros, ele tem responsabilidades a cumprir, e já na saída está pisando na bola de maneira inaceitável.
O ex-capitão e deputado federal vem pregando, há décadas, um discurso de divisão. Por mais que sua propaganda política hoje o apresente como “Bolsonarinho Paz & Amor”, recuando até mesmo na gana de seu vice em criar uma constituição “cazamiga”, sua imagem está construída e seu direcionamento, também.
Tanto que, em seu nome, a violência já começa a ser praticada. Como eu disse em um post recente no Facebook, uma ameaça de estupro a uma repórter aqui, umas 12 facadas ali, e estamos num caminho perigoso de recrudescimento do pior comportamento humano que se possa esperar. Observe, caro partidário do B17, que sua resposta padrão de “Ah, mas a corrupção!” é fundamentalmente insuficiente diante das 12 facadas nas costas de um indivíduo desarmado, o Mestre Moa, só porque ele defende o outro candidato.
E qual foi a resposta do “líder”? Vejamos:
“Quem levou a facada fui eu, pô. O cara lá que tem uma camisa minha e comete um excesso, o que é que eu tenho a ver com isso?”
Jura, prezado partidário do B17, que você acha que essa resposta é adequada a um presidente da república?
De adequada ela não tem nada, sabe por quê? Nessa “beleza” de resposta, o B17 consegue de uma tacada só:
- Se apresentar de vítima, tirando o foco da questão apresentada, com total desconsideração para o cidadão assassinado (em nenhum momento ele se referiu ao morto ou se dirigiu à sua família em um momento de dor suprema). É como naqueles casos de relacionamento abusivo em que a parte que abusa sempre se coloca como vítima, independente da reclamação do outro.
- Lavar as mãos dos atos que ele vem incitando há décadas com seu discurso de ódio. Lembra daquele “tem que matar uns 30 mil”? Lembra da “homenagem” ao Ustra? Lembra do repúdio beirando o nojo para com os homossexuais? Lembra das ofensas aos quilombolas? Lembra do desdém de estuprar porque ela “não merece”, como se a beleza fizesse com que uma mulher merecesse ser estuprada por ele? Então tudo isso encontra eco em algumas pessoas que ouvem tais despautérios. Somos, sim, responsáveis por nossos discursos e nossas opiniões. Lavar as mãos, desincumbindo-se da responsabilidade não é atitude de líder.
- Perder a oportunidade de uma necessária autocrítica. Pessoas inteligentes aprendem com os próprios erros. Pessoas inteligentes analisam seu comportamento e identificam aquilo que não condiz com a posição que ocupam. O candidato B17 podia (não devia mas podia) usar o discurso que quisesse. O virtual presidente do Brasil B17 já não pode mais se dar esse luxo, e precisa entender isso. Ao não fazer uma autocrítica e não matar esse monstro da violência no berço, ele incorre no mesmo erro que os petistas vêm cometendo desde 2002: a soberba dos que acham que estão fazendo tudo certo enquanto é patente que estão brutalmente equivocados.
Esse não é um bom começo, principalmente porque não ataca o problema maior: tem muita gente que acha que o discurso de ódio do ex-capitão e do deputado é válido para o presidente. E se sé é válido para o presidente, é válido para o cidadão, pensam eles.
O próximo passo que se espera do B17 é assumir a postura de líder, e — entendendo que é líder de todos, e não só de seus eleitores — enfatizar que a violência não é aceitável, e que a violência alicerçada no preconceito é barbárie. O próximo passo é repudiar o discurso de ódio e adotar a atitude de presidente.
E não custa lembrar: o “Ah, mas a corrupção!” e o “Ah, mas a Venezuela!” não vão servir de patavina caso essa violência continue ou cresça, como alguns de nós acreditamos que vá acontecer.
Dizer para a mãe de um filho morto por sua orientação sexual ou por sua preferência política algo na linha de “Pelo menos livramos o país da praga do PT” é uma crueldade que não desejo nem para os eleitores do B17.
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Adendo:
Alguns comentários nas redes sociais apontam para uma entrevista do assassino, que agora afirma que o crime foi cometido porque Mestre Moa o teria chamado, entre outras coisas, de “negro sujo”, e que o ato não teve motivação política.
Essas afirmações são bastante contrárias às notícias do fato, em que há depoimentos de testemunhas do crime que atestam que o motivo foi, de fato a política. O dono do bar, alias, foi quem enfatizou a posição petista e provocou a briga, e Mestre Moa, também apoiador de Haddad, interveio quando os ânimos de ambos — do dono do bar e do assassino — se acirraram. Os relatos dos jornais A Tarde e Estadão não deixam dúvida quanto à motivação política do crime.
E para os que acreditam nas declarações do assassino de que o crime não teve motivação política, imagino que também acreditem nas declarações do Lula de que não tinha nada a ver com o sítio, ou de que o triplex não era dele. Menos, vai gente…
Ruy, bom dia. Para a corrupção, que é o foco do anti-petismo, temos atuantes o GAECO, PF, juízes, MPF, TRF e mesmo o STF. Com o PT no governo os olhares ficarão atentíssimos a eventuais desvios. As propostas do plano de governo do Haddad não são propostas simplistas para problemas complexos. Não é bandido bom, é bandido morto.... Uma fala fácil, para qualquer ignorante entender. - Bandido é ruim, não tem que morrer, ora? E, alguns, dos que o apoiam, estão achando seus "bandidos"... Para o fascismo ou discurso de ódio não há controle, aliás, perde-se o controle. O filme "A Onda", expressa bem ao que a intolerância, em nome da ordem, pode levar, ainda mais quando o próprio candidato exime-se de responsabilidade. Nem preciso declarar meu voto. Abraço.
Oi Jaylei. Acho que são dois os grandes focos do antipetismo: a corrupção e a Venezuela, com Lula, mensalão, Petrobras e que tais no primeiro grupo e os apoios às nações de inclinação socialista, o apoio a ditadores, e o medo da derrocada econômica no outro. Os órgãos que você cita até fazem a fiscalização e o combate, mas o problema é o STF: não só não são eficientes, como jogam contra. No caso das propostas, as do Haddad são menos vagas, é fato, mas explicitamente enfraquecem as instituições de fiscalização e explicitamente abalam a democracia com a tal "constituinte popular". A meu ver, os planos são equivalentes em suas maldades e despautérios. Mas tem um ponto em que o PT é infinitamente superior ao B17: a diversidade. Está no DNA do PT fomentar e apoiar a diversidade, e disso ninguém pode falar nada. Muito pelo contrário: jogam contra, pois "cotas são coisa de comunista vagabundo", e "os homossexuais não querem direitos, mas sim privilégios", ou ainda "feministas fedem". É esse o ponto que diferencia as duas campanhas, no frigir dos ovos. Cada uma é igualmente péssima, mas a seu jeito, sendo que a questão da diversidade deixa o PT devendo um tiquinho menos. Quanto ao fascismo, sua menção ao filme "A Onda" é perfeita: estou certo de que estamos vivendo uma onda fascista, e a maioria de nós não percebe isso (quando percebermos, será tarde demais, pois muito estrago já terá sido feito). Meu voto é o mesmo que o seu, pois tenho familiares próximos e amigos muito queridos que são grupo de risco, foco ativo do ódio do B17. Mas terei que levar saco de vômito, já prevendo náusea brutal na hora do voto.