Não tem sido fácil a trajetória do país, particularmente nesses últimos anos. Dos tempos de bonança do fim dos anos 2000 para a estagnação econômica e a crise que a sucedeu, para a crise política do Governo Dilma, para o desastre do governo Temer. E tome Mensalão. E tome Petrolão. E tome Lava-Jato. E tome impunidade de alguns contra a punição a outros, aparentemente escolhidos a dedo (ou pela falta dele).
E a gente, no meio, tomando partido, escolhendo lado.
É da natureza humana, aliás, esse tomar partido. Desde que, ainda no século III, o bispo romano Victor — que pregava a natureza divina de Jesus — entrou em conflito com os Teodosianos — os que afirmavam que Jesus era apenas um homem bom, que só atingiu a divindade após ter sido “adotado” por Deus e ressuscitado depois da crucificação — que tomamos partido. Já naqueles tempos longínquos os fieis faziam bandeiras, gritavam os nomes de seus preferidos nos debates públicos e tinham certeza de que “seu lado” era o único com a razão. Aliás, foi nessa época que surgiu o conceito de heresia, que tantas fogueiras alimentou ao longo da História, como conta Eamon Duffy em seu brilhante livro Santos e Pecadores – A História dos Papas.
Em suma: não é de hoje que nos polarizamos.
No caso mais recente, o pivô da polarização tem sido, sem dúvida, a prisão do ex-presidente Lula.
O pior é que a polarização atinge níveis extremos, incompreensíveis quando o assunto é Lula. De um lado os que não hesitariam em, na melhor hipótese, condená-lo à prisão perpétua e de quebra banir o PT e todos os demais partidos de esquerda da política brasileira. Do outro, os que o veem como santo (e agora como mártir), uma figura mítica e irrepreensível, ao nível de Padre Cícero.
Os ânimos e as posições se acirram, e as demonstrações contra e a favor na frente da PF em Curitiba e, antes, na sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo, chegam à beira do confronto físico.
Esta polarização encontra reflexo na imprensa, seja lá qual seu calão. Desde os blogs histriônicos até os veículos mais ponderados, o que se vê é uma profusão de “Já vai tarde” e “Vai ter que prender todos nós”.
Em ambos os casos o coração e o fígado substituem as responsabilidades que deveriam ser do cérebro.
A colunista do Estadão Eliane Cantanhêde de 09 de abril, por exemplo, estica a corda para um lado:
Não há prisão arbitrária por parte de Moro, e a tentativa de transformar o juiz em um vilão, encabeçada por Lula e endossada não só pelos líderes de torcida de Lula no Parlamento, mas, lamentavelmente, por Gilmar Mendes, um representante da mais alta Corte do País, faz parte da narrativa petista de vitimização de um condenado por crimes comuns do colarinho branco. A saber: corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
O comediante Gregório Duvivier puxa para o extremo oposto em sua coluna da Folha de S. Paulo de 09 de abril:
A imbecilidade do antilulismo e tudo o que ele tem de classista, rentista e reacionário estão fazendo o lulismo ressurgir mais forte do que nunca. Parabéns aos envolvidos. Agora dorme com um barulho desses: “Lula lá/Brilha uma estrela/ Lula Lá…”
De um lado, Moro é um bastião da legalidade, Lula se vitimiza e quem o defende é reduzido a uma “torcida”. Do outro, a oposição ganha a pecha de “antilulismo” (como se Lula fosse uma filosofia ou, pior, uma religião e não um político de carne e osso), e classifica esses opositores — todos, sem exceção — de “classistas, rentistas e reacionários”.
Se você leu uma das posições acima e disse “É isso mesmo!” enquanto espumou por dentro ao ler a outra, é de você mesmo que estou falando quando menciono a polarização absurda que vivemos hoje. Há dois bebês tomando banho nessa bacia, e não achamos nada demais jogar um deles fora junto com a água suja.
Sim, tem muita gente que se opõe a Lula sem informação, de maneira venal e reacionária, sem se permitir perceber sua importância para um Brasil que foi (e continua sendo) esquecido, jogado às traças por mais de 500 anos. Mas tem muita gente que consegue discutir de maneira racional, embasada em fatos e evidências, sem classismo, sem rentismo, sem ser reacionário: Lula cometeu crimes e não há messianismo que modifique isso. Foi condenado por eles após exercer seu amplo direito de defesa, e as evidências — sim, reais, contundentes, inapeláveis para quem não se cega pela imagem do “padim” — estão catalogadas e disponíveis.
Sim, o juiz Sergio Moro cumpre um processo judicial, e Lula deveria se submeter às instituições que, como cidadão, ele tem o dever de defender, ao invés de se mercadejar como vítima (ou, usando o termo que ele mesmo usa, como mártir). Mas observando o tratamento de outras peças nesse jogo da Lava-Jato (excluídos os que têm mandato: deputados, senadores e o presidente, que são de alçada exclusiva do STF), percebe-se que “alguns animais são mais iguais que os outros”, no dizer de George Orwell. Não, não adianta gritar “Por que o Moro não prende o Aécio?”, porque Aécio Neves (infeliz e injustamente) tem direito a foro privilegiado, e o juiz curitibano só pode esperar que ele não seja eleito no pleito desse ano para tomar alguma atitude. Mas não é o caso de vários outros citados na Lava-Jato. Alckmin, por exemplo, está sem mandato desde que anunciou sua candidatura à presidência. É o caso também de Beto Richa (Paraná), Marconi Perillo (Goiás) e Raimundo Colombo (Santa Catarina). FHC, puxa vida, não tem mandato desde que deixou a presidência quase dezesseis anos atrás. E nada de Moro se animar a chamá-los para uma conversa em Curitiba. Dois pesos, duas medidas.
Mas diante de todas essas realidades, a polarização resiste, firme e forte. Os que sofrem de cegueira seletiva preferem suas fantasias de escolha a encarar a realidade. E a realidade é que a situação não é preto-e-branco, não é binária, mas sim uma ampla gama de tons do todas as cores, com erros e acertos para os dois lados da questão.
A meu ver quem melhor resumiu a situação foi Antonio Prata, em seu texto de 08 de abril de 2018, intitulado Nunca antes na história desse país. O texto explora com maestria os erros e acertos dos que são favoráveis e dos que são contrários a Lula e ao PT. E é garantia de desagradar 99,999% dos que se colocam de algum dos lados da questão. Um trecho significativo:
Os acontecimentos são ambivalentes, polivalentes, contraditórios. Lula foi de longe o melhor presidente que este país já teve e foi condenado porque de fato recebeu de presente um apartamento de uma empreiteira que desviou rios de dinheiro público e despejou parte desta fortuna nos cofres do PT. A Lava Jato é um avanço indiscutível num país em que a impunidade é a regra e a Lava Jato é parcial e atropela direitos. É preciso ser um avestruz e enfiar a cabeça na própria bolha do Facebook para não aceitar todas essas afirmações como verdadeiras.
Quem concorda que ele foi o melhor presidente que o país já teve jamais acreditará que ele de fato recebeu um apartamento de presente da OAS; quem acredita que a Lava-Jato é um avanço indiscutível contra a impunidade, jamais aceitará que a operação é parcial e atropela direitos.
Eu mesmo, que busco enxergar os dois lados da questão, sem hipocrisia, sem cegueira localizada, ao terminar de ler o texto penso algo na linha de: “Texto quase perfeito: ele só errou com essa baboseira de que o Lula foi de longe o melhor presidente que esse país já teve.”
Mas, por mais que minha opinião seja de que não foi, essa rejeição é exemplo de parcialidade. Para mim, não foi. Mas observe que Lula pegou a casa arrumada sob o ponto de vista econômico (pelo Plano Real e pelos 8 anos de FHC, obviamente) e: (a) não implantou uma ditadura comunista, como muitos temiam; (b) preservou o Plano Real e todos os seus ganhos para a economia e para o bolso do brasileiro; (c) manteve a política econômica de superávit primário, economizando o dinheiro do governo e saldando a dívida externa; (d) a inflação continuou sob controle, a moeda se fortaleceu, o país cresceu, o emprego cresceu, o PIB cresceu; (e) 33 milhões de brasileiros saíram da miséria; (f) várias universidades federais foram criadas; (g) o sistema federal de estradas passou a ser reparado depois de décadas de esquecimento, e os pedágios implantados cobram uma fração dos pedágios de estradas estaduais (pelo menos no Estado de São Paulo, onde são mais prevalentes).
É claro que estes pontos positivos (e vários outros) que possamos apresentar representam só metade da história: o Mensalão, a rejeição de ideais políticos e éticos em nome do poder, o nepotismo explícito para com seus filhos, o aparelhamento do estado com correligionários políticos em detrimento da capacitação técnica, a criação de uma dependência dos menos favorecidos para com as migalhas do Bolsa Família, a falta de um plano que permitisse os dependentes do Bolsa Família a caminhar com suas próprias pernas, tudo isso e muito mais serve de contrapeso aos dois governos de Lula.
Mas uma coisa não invalida a outra: é possível para boa parcela da população, e mesmo para um observador íntegro e imparcial (o que não é o meu caso) chegar à conclusão de que Lula foi o melhor presidente que esse país já teve. Não concordo com essa afirmação, mas isso não a deslegitima. Até porque qualquer um que se queira eleger como o melhor presidente que o Brasil já teve, terá muita sujeira em seu currículo. FHC criou o Plano Real, organizou as contas e tirou o país da crise? Sim, mas poucos processos foram tão promíscuos e lesivos aos cofres públicos como o a privatização que, sim, era necessária, mas deveria ter sido conduzido de maneira mais transparente e legítima. Ah, e teve aquela leve compra de deputados para a reeleição, que nada fica devendo para o Mensalão.
No frigir dos ovos, Lula não é santo, mas também não é o demônio. E enquanto continuarmos nos polarizando em alguma das duas posições, não estaremos contribuindo para melhorar a situação. Porque, se o santificamos, deixamos para lá erros graves que ele cometeu e corrupções que ele permitiu e das quais participou. Por consequência, aceitamos a repetição desses erros no futuro por ele ou por seus sucessores. E se o demonizamos, estaremos aceitando qualquer coisa em seu lugar, como fizemos com Temer. Lembra do bordão “Deixa o Temer trabalhar”? Pois é, deixamos e ele deu continuidade ao plano de destruir a Lava-Jato para “estancar a sangria”. Ah, e também teve um de seus assessores filmado arrastando uma mala de propina que tinha ele como destino. Ah, e foi pego em uma gravação dizendo que o dinheiro (ilícito) para Eduardo Cunha tem que continuar (para que ele não abra mais o bico do que já abriu, pois de repente alguma coisa respinga no presidente). Ah, e ele decretou uma estapafúrdia intervenção no Rio de Janeiro, que nada resolve, consome recursos, e só piora a situação daquele estado. É isso o que ganhamos quando demonizamos Lula e aceitamos qualquer coisa no lugar dele.
Não, a polarização definitivamente não nos auxilia. E sim, eu sei que, se você toma partido de algum desses dois lados, é quase certeza absoluta de que será incapaz de enxergar isso.
Infelizmente, enquanto nos polarizamos — e a tendência é que esse comportamento nacional só se radicalize ainda mais — não resolveremos o problema. Pelo contrário: só veremos aquilo que mais detestamos crescer ainda mais. Seja o messianismo corrupto hipocritamente disfarçado de justiça social da esquerda, seja o falso moralismo reacionário e corrupto hipocritamente disfarçado de luta contra a corrupção da direita.
Concordo que a polarização é nociva. Por outro lado, como distinguir a polarização de uma simples opinião ou posição a respeito de determinado assunto? O próprio Antonio Prata não estaria polarizando ao afirmar que quem não concorda que o Lula foi o melhor presidente que o país já teve deveria fazer como o avestruz e enfiar a cabeça em um buraco?
A simples opinião ou posição difere da polarização porque apesar de discordar, ela ADMITE a possibilidade. Que opina com consciência, pondera, entende que pode ser diferente do que está enxergando. Lula, podemos argumentar, foi um bom presidente pelo que fez, e foi um canalha, também pelo que fez. Se chamá-lo de "o melhor" é um erro (e eu acredito que seja), não admitir que possa ter sido é assumir uma posição radical, polarizada, tão nociva quanto gritar que ele é a pior coisa que já surgiu na Humanidade desde a hemorroida.. Acho que é isso que o Antonio Prata quis dizer.
Mas seguindo a linha de raciocínio da admissão de possibilidade, vamos olhar pelo outro pólo (rs,rs). Chamá-lo de "canalha" pode ser um erro, mas admitir que não possa ter sido nos induz a concluir que também caracterizaria uma posição radical, polarizada. É isso que quis dizer quando citei Antonio Prata, onde ele é bastante incisivo ao dizer que "Lula foi de longe o melhor presidente que este país já teve" e que "é preciso ser um avestruz e enfiar a cabeça na própria bolha do Facebook para não aceitar todas essas afirmações como verdadeiras".
Admitir que possa não ter sido , a meu ver, não caracteriza radicalização, pois "admitir" é diferente de "impor". O primeiro admite o debate racional, o segundo não. O Prata é incisivo (radical) no dizer que o Lula foi o melhor, mas me fez pensar que por mais que eu discorde (e acho que morrerei discordando), talvez eu não seja o melhor árbitro para essa questão. Ao admitirmos que podemos estar errados (mesmo quando não acreditamos que estamos), estamos nos afastando da radica;ização. Esse é o ponto mais importante, acho.
Ruy, Ruy, nada demais vê-lo tentar esclarecer a todos mostrando os dois lados da moeda, aliás, uma moeda com mais lados do que dois, porém, a luta é pelo poder e manutenção do sistema corrupto, ainda mais para quem esteve fora dele por 13 anos. Moro não é herói, mas se sente como tal. Gosta da fama. A foto junto com o Aécio, me desculpe, não tolero. AH, mas o Lula tem foto com um monte de corrupto etc. Lula tira foto com todo mundo... Lembro da série "Billions" onde os dois lados tem problemas. Um promotor que passa por cima das leis, um executivo que não é o demônio, mas frauda o sistema e é "perseguido", o foco é nele, pelo promotor e sua equipe. Não há santos, ponto. Sobre foro, o Cunha perdeu o foro, Delcídio tbm. O povo de amarelo poderia pressionar a Comissão de Ética para, no mínimo, avaliarem a perda de mandato de Aécio e Jucá, mas foram para rua por isso? Não. Como esquecer do "somos todos Cunha"? A Dilma saiu pelo crime das pedaladas, logo depois permitidas no governo Temer. Aí resolveram tbm pedir intervenção militar, fim do estatuto do desamarmento e, principalmente, não ir contra o Temer, o qual comprou, literalmente, o não prosseguimento, por 2x, da denúncia contra ele. Sei lá o que vai acontecer, principalmente, porque nesse meio surgiu o Bolsoasno, sim, assim o considero, deputado que depois de 26 anos na política tem um ou dois projetos ridículos aprovados... Segura-se nas declarações sobre segurança, que vai fazer e acontecer, e surfa na onda anti-Lula/PT. Enfim, esse é o Brasil que temos hoje. Poderiam ter deixado a Dilma lá, ia piorar ou melhorar pouca coisa, teria-se eleição e o PT estaria fora. Deram é força à "esquerda". Vamos ver. Abs!
Adoro Billions, e não perco um episódio. Baixo logo na segunda-feira (passa por lá aos domingos) e assisto assim que chego em casa. Série prá lá de bacana, que mostra exatamente como as coisas não são preto-ebranco. O Rhoades posa de bastião da justiça, mas usa de meios prá lá de ilícitos e antiéticos para garantir condenações. O Axelrod corta todos os cantos que pode, e prejudica um monte de gente. mas ajuda outro monte de gente, também, inclusive os prejudicados injustamente pelo Rhoades. É uma metáfora perfeita para o que estamos vivendo, penso. O "somos todos Cunha" soa para você como o "somos todos Lula" soa para boa parte dos que não são cegos para o fato de que ele se vitimiza mesmo tendo se beneficiado de um rio de propinas.
Bolsa-família. Vou fazer essa defesa do governo Lula e já começo dizendo que o PT não pagou a FAO para dizer que o Brasil saiu do mapa da fome. :) Segue abaixo o link da reportagem da RBS, sobre a vida de um casal pobre, não do NE, mas do S, aqui em SC. http://www.clicrbs.com.br/sites/swf/DC_quatro_estacoes_iracema_dirceu/familia.html Trechos da reportagem. "A melhoria da renda da família se dá também pela inclusão no Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae), que prevê a compra de produtos da agricultura familiar para a merenda escolar do município." ================================ "Os benefícios do Programa Bolsa Família continuam tendo relevância. Em abril, Iracema recebeu R$ 217 pelos cinco filhos, além de mais R$ 90 do programa do governo estadual Santa Renda. – Olha o que comprei para a gente – diz apontando para a máquina de lavar roupas, 12 quilos, coberta por um lençol na sala da casa nova para não pegar pó." Assim, me desculpe, mas o benefício faz muita diferença. Melhorou a vida de quem nada tem, de quem, nunca, nunca, foi assistido por governo algum. Sobre o Pnae. "Outro marco que merece destaque, a partir de 2006 (governo Lula) , foi estabelecimento de parceria do FNDE com as Instituições Federais de Ensino Superior, culminando na criação dos Centros Colaboradores de Alimentação e Nutrição Escolar – Cecanes, que são unidades de referência e apoio constituídas para desenvolver ações e projetos de interesse e necessidade do Pnae, com estrutura e equipe para execução das atividades de extensão, pesquisa e ensino. Dentre essas atividades, merece destaque as capacitações dos atores sociais envolvidos no Programa." Entende? Ruy, vc, numa situação de carência votaria em algum outro presidente? Interessaria, realmente, o que ele "roubou"? Sim, vai entre aspas porque dizem que foram 2 bilhões pro Instituto Lula. DOIS bilhões e a receita federal não nota, não tem extrato de banco? FHC tem um apê em Paris, Sarney uma ilha. Como? Pelo duro trabalho? Aham... A certeza que tenho é que, como nos filmes, a verdadeira história é nebulosa, difícil de saber o quê e o quanto Lula sabia.
O Bolsa Família deu de comera a muita gente, e tirar gente da miséria é um ato mais que louvável. Ponto. Mas uma alegoria para o Bolsa Família é a seguinte: tem um cara se afogando no meio de um imenso lago de esgoto. Se alguém não fizer alguma coisa, ele morre afogado em em meio aos excrementos. Aí alguém se dispõe a jogar-lhe uma boia, e el, grato, sobe na boia e se salva de morrer afogado. Até aí, tudo certo. Mas o cara se dá por satisfeito de ter se salvado do afogamento, e continua no meio do lago de esgoto, tranquilo, como se tudo estivesse certo e nada mais precisasse ser feito, Do ponto de vista dele, de fato, a situação está infinitamente melhor que antes, pois não está mais se afogando. mas o cara que jogou a boia — digamos que ele é da Vigilância Sanitária — tem o dever de não parar por aí. Primeiro porque a boia deveria servir para salvar outros em mesma situação de afogamento. Segundo porque ficar boiando num lago de esgoto não é nada saltar, e o cara deveria ser incentivado e auxiliado a deixar o lago imediatamente. Mas nada disso é feito. O cara na boia tá de boa, e o cara da Vigilância Sanitária posa para as câmeras dizendo "nunca antes na hist;oria desse país...". Claro que ele fez mais que os outros. Mas claro, também, que não fez o suficiente. E mais claro ainda: enquanto o cara continuar dependendo da boia, vai continuar feliz, posando no fundo da foto do "nunca antes na história desse país."
Não pode o Moro falar que o auxílio-moradia é pra compensar reajuste, né? Não pode o Bretas morar com uma juíza e os dois ganharem auxílio. Não pode 71% dos juízes do país receberem acima do teto. Sim, no governo Lula tbm, mas com a operação lava-jato e os heróis do judiciário quando isso será corrigido? AH! Sabe o engraçado? Com Lula, Lula, Lula, esqueceram do José Dirceu, esse sim, que deve saber muito, aliás, como o Cunha. AH! E o Moro liberou a Claudia Cruz. Coitada, era ingênua... Nebuloso! :)
Como disse o Antonio Prata no texto (se quiser, me manda um PM pelo Facebook que eu te mando o texto completo), a Lava-Jato (e o Moro) ajudam muito no combate à corrupção, mas são parciais, arbitrários e não são tão isentos quanto muita gente pensa.
O melhor comentário que ouvi recentemente sobre a Lula vem de minha amiga Adriana Vianna: “Lula é como aquele ex-amante seu, que você descobriu que estava casado e com dois filhos, que te passou sífilis e te deixou grávida, sem pagar pelo aborto. Mas mesmo assim, quando morre, você vai ao enterro e chora pitangas.”
Essa é a mais engraçada analogia que já li a respeito do Lula. Valeu, Thadd!!!!
Sabe, são essas coisas que acho curiosas, pois não vejo piadinhas, nem apelidos, sobre o Sarney ou FHC. Thaddeus e Ruy, viram o vídeo sobre o casal de SC? Ruy, discordo muito dessa tua análise, pois é preciso ver e adentrar o mundo dessas pessoas que vivem na miséria. Falar que além do peixe tem que ensinar a pescar é muito bonito, mas só quem vive no esgoto pode avaliar o que fazer após a "mínima' melhora da qualidade de vida. Uma vida inteira de escassez e pobreza não é de um dia para o outro que se modifica. Agora, para mim está bem claro, que o bolsa-família abriu possibilidades maiores à essas pessoas. Não sou especialista e tem gente que já escreveu sobre isso. Leia e veja o que achas. ==== https://akina.jusbrasil.com.br/artigos/148395122/bolsa-familia-11-anos-e-11-conquistas ==== http://www.valor.com.br/brasil/3305466/ipea-cada-r-1-gasto-com-bolsa-familia-adiciona-r-178-ao-pib
Bom, Jaylei, se você não viu piadas sobre Sarney e FHC, talvez tenha que ficar mais atento, pois na época de ambos, eram mais do que comuns. O Lula não tem o monopólio de piadas políticas. O Thadd, aliás, é daí do Rio de Janeiro, é sociólogo e professor titular da UFF. É um americano de alma brasileira, que adotou-nos como seu país. Tem um trabalho cujo objetivo é a cidadania das profissionais do sexo, e um dos maiores defensores das causas sociais que eu conheço. E olha que máximo: ele não se abstém de achar engraçada uma piada do Lula que reflete como muita gente — capaz de pensamento crítico — se sente acerca dele. Sobre o Bolsa Família, concordo com tudo o que você falou, claro, inclusive com o efeito positivo no PIB. Mas eticamente, a dependência causada por esse programa não pode ser aceita por quem quer um país decente, formado por cidadãos de fato. É claro que retirar o indivíduo da miséria é fundamental. Mas torná-lo um dependente do estado, não. De jeito nenhum. Até porque, essa dependência consome recursos que poderiam ser usados para tirar mais gente que como ele se encontra se afogando no esgoto. Nunca fui favorável ao fim do Bolsa Família, mas sim penso que deveria evoluir. Deveria ser um auxílio ao indivíduo em um primeiro momento. mas deveria ser seguido de outros programas que o transformassem em um incentivo para que esse indivíduo ganhasse a dignidade de cidadão que esse país lhe deve. Porque senão vira, como virou, cabresto eleitoral. Sobre o casal de Santa Catarina, não sei do que se trata.
Ainda acho que as piadinhas e apelidos atinjam, talvez, "por coincidência" o metalúrgico analfabeto nordestino. Alias, tanto quanto atingiram a Dilma. O coro do "vai tomar", os apelidos ou a imagem da Dilma de perna aberta no reservatório de gasolina... Por mais que o Temer tenha uma alta reprovação, tenha pedalado e comprado o não prosseguimento da denúncia, o país segue "normal". Eu não entendo. Sobre o bolsa, concordância total e a indignação da não discussão do programa de forma mais detalhada e cogitando melhorias por outros candidatos. Talvez, por não quererem levar adiante programas "petistas".
Com relação às piadas, acho que, sim, o Lula e a Dilma têm sido mais alvo, mas penso que seja apenas porque em 14 dos últimos 16 anos eles estiveram à frente do poder no Brasil. Na minha juventude me lembro com clareza do Sarney como alvo. Collor e FHC também foram fustigados a não poder mais em seus respectivos tempos, e o Itamar mais ainda, pelo pouco tempo que ficou no poder. Quanto ao Bolsa Família, nesse ponto concordo com você: simplesmente remover o programa foi um erro grave. Muito mais grave, aliás, que estagná-lo como cabresto eleitoral. Jogou milhões de brasileiros de volta na miséria, o que não é aceitável de jeito nenhum.