Noite estrelada de um céu cinematográfico, desses que só é possível ter o privilégio de ver bem longe das grandes cidades. Cidade do interior de um estado que se tornou uma máquina de transformar pessoas em números, por meio do que chamam de trabalho, num país atualmente bastante incoerente. Isso não vem ao caso. Trabalhar pode ter muitos e variados significativos conceitos do que somente fazer parte de algo que não lhe pertence ou apenas ser mais um na grande prostituição de ideias, sonhos e energia vital. Cada qual atribui o significado que melhor convir, de acordo com suas crenças, padrões ou circunstâncias da vida mesmo.
O fato é que no silêncio daquela noite de um céu totalmente forrado de estrelas, visto da varanda de uma casa de fazenda, acompanhada pelos vagalumes circenses e por uma xícara de chocolate quente toda sorridente, pensar no significado corriqueiro de trabalhar parecia mesmo ridículo. Pelo menos o conceito comum de trabalho, aquele patético “vestir a camisa”, “dar o sangue”. Vestir a camisa de quem? Dar seu sangue e ficar com o que? Patético, infantil, desnecessário e totalmente ultrapassado.
Independente do local em que se trabalhe ou da forma como brilhe os olhos para trabalhar, seja de maneira autônoma, numa multinacional ou na escola do bairro; a questão é muito simples: a alma e a presença que são colocadas ali e a leveza com que se consegue produzir muito, com a sofisticação de sofrer nada. Uma frase, hoje em dia, bem comum é: ame o que você faz, faça o que você ama. Os pessimistas de plantão acharão uma viagem e, em seguida, avisarão de que se trata de um grande absurdo, algo simplesmente impossível. Azar o deles, ou melhor, que fiquem com suas escolhas e não aborreçam o restante com sua amargura nítida de viver.
Qualquer coisa, em qualquer lugar, tempo e espaço, pode ser o melhor trabalho do mundo. E nem se trata aqui de dinheiro. Aliás, é interessante que o dinheiro seja visto como um meio, não um fim propriamente dito. Aprendi que prosperidade é sempre melhor que riqueza. Sabe por quê? A riqueza, assim como tudo o que é matéria, pode acabar. O pensamento próspero constrói o que bem entender, quando bem quiser. Nele a riqueza faz morada, mas sem pressão em existir por obrigação, compreende? A riqueza fica porque é bacana. E o conceito de riqueza também é amplo, se aliado a esse conceito de prosperidade.
Veja, conheço pessoas que têm muito dinheiro, investimentos, imóveis, viajam para onde querem, quando querem. São plenas? Talvez muitas delas não sejam, pois usam a reclamação como combustível para a vida ótima que possuem, mas que não conseguem se dar conta. Para essas pessoas, algo sempre falta. Conheço outras tantas que possuem tudo isso e usufruem com uma sabedoria toda delicada e grata. São os prósperos. Já aprenderam que podem viver bem e aproveitar a vida, utilizando todos os recursos que dispõem. E que podem, inclusive, contribuir de diversas formas para melhorar o mundo onde vivem. Também conheço uma maioria que não tem tantos recursos materiais, mas são gratos por tudo o que possuem. Esses também são os prósperos. E conheço ainda outros tantos, que não tem muitos recursos e também utilizam a reclamação como combustível para a vida. Para esses, algo sempre falta. Para os gratos, independente da condição econômica, tudo sempre é suficiente. E é exatamente aí onde abrem um portal de oportunidades para a realidade que quiserem experimentar. A gratidão é um ciclo energético extremamente poderoso.
Percebe como felicidade e prosperidade não estão intrinsecamente ligados à matéria e ao dinheiro em si? Óbvio que é bacana ter grana, mas de nada adianta ter e não saber usar; ter e ser infeliz; ter e reclamar até da própria sombra. Essa ideia me leva a crer que o conceito de felicidade é muito mais simples, sutil e intenso do que a maioria consegue perceber.
Talvez eu passe a vida toda aprendendo sobre esse conceito, eu sei. Posso dizer que até hoje, o que consegui aprender é que a felicidade está em ser, e nunca em ter. Está em ser resiliência, compaixão, amor e caridade, de toda alma, corpo e coração. Primeiro consigo mesmo e, depois, com o outro. Porque, se mergulhamos nisso, acontece uma paz que preenche o peito e qualquer acontecimento da vida se torna bom de alguma forma. A positividade passa a ser vista em qualquer coisa e isso é muito libertador. Cessa a vontade de brigar com o destino e fazer pirraça para a vida. A serenidade transborda para compreender que fazemos a nossa parte apenas. O que a vida trouxer, se estivermos focados em nós mesmos, teremos força e toda orientação invisível necessária para lidar da melhor maneira possível.
Não estou dizendo que o hábito de ser feliz seja fácil, mas é possível. Uma constante a ser buscada dia a dia.
Aceitar o fato de ser humano talvez seja o que de menos humano e mais divino tenhamos em nós mesmos. E talvez exatamente por isso, mereçamos tanto o presente do hoje e a dádiva da vida.
Desejo boas novas sempre, meus caros. É isso e é só.
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