Apesar de muitos estarem obcecados em voltar para suas rotinas de bares, academias e afins, o vírus e as mortes seguem seu curso. Talvez o termo mais irritante de todo o período de pandemia seja o novo normal. Pensar no que era considerado normal, antes mesmo disso tudo, traz medo do que poderia ser esse novo. Seriam mais absurdos novos a serem considerados como normais? Ouvir tal termo faz ferver o sangue e brotar um grito calado de desespero na garganta, sempre abafado com um sorriso motivado por pura preguiça de discutir o óbvio. Discutir adiantaria para que exatamente? E o que seria óbvio? Para quem?
A observação no silêncio pode ser muito interessante para constatar o óbvio que ignoramos. É que dá tanto trabalho pensar de forma crítica, abandonar crenças, medos, querer aprender, reaprender, crescer. Talvez, por isso, uma grande parcela de pessoas ignore qualquer coisa que não satisfaça a anestesia de se sentirem falsamente felizes. Não importa se isso prejudica aos demais ou não, não importa se fere qualquer coisa ou alguém. O tempo para a tal felicidade é agora, custe o que custar. O consumismo, afinal, é arma poderosa de anestesia e controle de massas.
Tudo isso nos leva a outra questão: o que é ser feliz? Sendo este um termo tão subjetivo, há realmente uma resposta que atenda a tanta gente ao mesmo tempo? Não seria a subjetividade dessa resposta algo também mecânico e apenas para não nos aprofundarmos no que pode, de fato, significar felicidade? Se há, portanto, essa fuga do que é mais profundo, nos voltamos a outras questões: o quanto realmente estamos dispostos e abertos a crescer? O que envolve crescer e aprender a ser uma pessoa melhor a cada dia? Que vantagens há nisso? E o que isso tem a ver com felicidade?
Estaria a real felicidade atrelada ao fato apenas de estarmos abertos ao novo, de forma constante e flexível? O que seria real? O que seria flexível? E o que seria o novo? Ao escolhermos mergulhar em tantas perguntas, estamos mesmo procurando respostas ou somente estamos tentando desvendar mistérios nunca antes desvendados? E desvendar para que? Existem respostas? Precisam existir?
Perceba que talvez as perguntas sejam cruciais para chegarmos ao centro do que somos, queremos e significamos. Por meio de questionamentos, nos enfrentamos, pautados numa coragem de glória por vencermos a nós mesmos com tanta resiliência. Nos enfrentando, talvez cheguemos a conclusão de que a felicidade resida nesse não saber. Quando você não sabe e aceita que não sabe, então, a mágica de se abrir para a vida pode, finalmente, acontecer. Quando você se abre, ganha novos olhos para cada detalhe que a vida apresenta, ou melhor, passa a ter mais leveza para lidar com o que quer que a vida apresente. Além disso, é possível ver com clareza cada pedacinho de bênção do que acontece, inclusive, bênção naquilo que não acontece. Ao se permitir ver cada detalhe, um sorriso de canto de boca pode aparecer aos poucos e tomar conta de cada descoberta e de cada pedaço de seu ser. De repente, cada pássaro visto traz uma sensação boa de encantamento, as flores passam a ter uma cor mais vibrante, o som dos ventos embalam uma paz que faz com que os pensamentos acelerados apenas passem, tal como as nuvens passam no céu.
Nesse processo todo, muita abundância é apresentada, muitas novas possibilidades se abrem, muita luz reacende a caminhada. Mas é preciso querer. E só se quer quando se está pronto para deixar o fluir da vida correr nas veias, sem precisar saber no que vai dar, sem precisar controlar nada. Só sorrir, sentir com o coração e seguir. A vida se desvenda para quem está preparado para tirar as vendas.
Você está pronto? É isso. E é só?
Perguntar é fluir ou é ficar paralisado diante de tantas perguntas? Corre-se esse risco, não? Você pergunta o que é ser feliz e lembro de quando uma amiga me perguntou, ao invés do "padrão", tudo bem contigo?, um "Como vai a tua vida?". HÃ? Como vai a minha vida? Ora, isso não dá para responder assim, de supetão! Vamos caminhar um pouco para eu te falar, um Caminho de Santiago de conversa, pode ser? :) Achei sensacional a pergunta sobre quais as vantagens para crescer porque acho que muitos pensariam nisso. Existe vantagem? Afinal, se a vida está acontecendo, o dinheiro chegando, compras sendo feitas, as viagens, as transas e festas ocorrendo, qual a vantagem desse tal crescer que está sendo oferecido? Fico com a impressão de que são poucas as pessoas que sentem falta do que não é mais, por exemplo, observando os filmes Mad Max, em Blade Runner ou numa série que tenho assistido, The Expanse. O novo normal é o que é, ponto. Muitos continuam somente sobrevivendo, enquanto outros continuam ganhando dinheiro, comprando o que querem, viajando, transando... E se crescer envolve acolhimento, perdão, conhecimento, mas também silêncios, sofrimento, disciplina, deixa pra lá, né? Vai se levando a vida do jeito que for. ou do jeito que não é mais. "A vida se desvenda para quem está preparado para tirar as vendas." Hmmmm e qual a vantagem de tirar a venda, de se jogar no abismo, partir sem saber o destino, ou para onde nem se sabe nada? Oi, está indo para onde? Não sei. Volta quando? Não sei. Vai voltar? Não sei. Se não sabe nada porque vai? Porque é necessário. Para quem é necessário? Qual a vantagem? Está disposto e aberto para o que pode vir a ser, o que vc não sabe e nem sabe se poderá saber? Pois é, não sei. :) kkkkkkk Sinto falta de mais comentários, mais trocas, pois os seus textos merecem, mas, é o que se tem e para onde vou te lendo, por si só, já é interessante. Mais uma vez, gratidão. Fique bem.
Olá, Jaylei querido! Peço desculpas pela demora em responder. Agradeço imensamente pelo lindo e reflexivo comentário! Fico sempre muito feliz com nossa troca! Gratidão! Grande beijo!