Eu sou um mundo em mim. Vasto, intenso, complexo, lindo, que só precisa fazer sentido para mim mesma. E eu sei disso. Acontece que tudo a minha volta, clama, exige perfeição absoluta. Entenda, mesmo sendo impossível haver perfeição nesse mundo, a gente se cobra e é cobrado como se essa fosse a única possibilidade decente de viver.
É enlouquecedor se cobrar, em especial por já ter clareza de que é em vão. Há muito acolhi a informação de ser perfeita apenas dentro de toda minha imperfeição. Dentro do que sei até agora, do que já consigo enxergar, sentir, até mesmo do inconsciente que habita em mim, dentro disso tudo sou perfeita. A relatividade desse conceito me faz crer que ser perfeito significa ser o que sou apenas. Aceitar, acolher, amar e respeitar isso. Até mesmo meus erros e acertos são perfeitos, simplesmente porque estão em sintonia com minha evolução pessoal.
Uma das minhas metas de vida é ser uma pessoa melhor a cada dia. É uma tarefa infinita, assim como o autoconhecimento, justamente porque a perfeição, como a maioria crê, não cabe aqui nessa dimensão. Cabe o ideal, o possível, aquilo que consigo fazer com o melhor que tenho em mim. E por isso me busco, renovo e recomeço todos os dias. Eu erro, muito. E ainda não tenho o alinhamento ideal do que penso, sinto e como ajo a respeito disso tudo. Sinto e penso isso, mas ainda ajo como se eu tivesse a obrigação enfadonha de nunca errar.
É absurdo, eu sei, e totalmente incoerente. Cada um tem uma incoerência particular, afinal de contas. Acatar isso faz com que eu consiga conviver com minha autocobrança, a fim de (quem sabe) um dia possa eliminá-la de vez. Não sei se ou quando conseguirei, mas tenho isso como um dos objetivos de minha jornada aqui.
Amor por mim mesma existe, mas agora também me perdoo por ainda não saber me amar com perfeição. Se isso fosse real, não haveria espaço para me cobrar tanto, para uma ou outra autosabotagem, para, muitas vezes, olhar nos olhos de minha sombra e não saber o que dizer a ela. Por isso, faço o que posso de acordo com o que tenho para dar no momento. Afinal, já é bem sabido que cada um só dá o que tem dentro de si, bem como o fato de que a gente muda o que tem a todo instante. Autoperdão se aprende na mesma medida em que o amor próprio também se aprimora, sempre, todos os dias.
Outro dia, a voz da sabedoria contou um segredo que me fez (pela milésima vez) ver a vida com outros olhos: ser humano é bicho que tem mania de “começo, meio e fim” para tudo. Só que quando se trata de autotransformação, meu bem, essa regrinha mundana não vale. Talvez você nunca saiba de fato quando foi o começo, se por acaso está ou não no meio, e precisa ter a consciência de que pode realmente não ter fim.
Mergulhei nessa informação por dias a fio. No silêncio incômodo de nada saber, sem ao menos entender o motivo de não saber. Senti vontade de optar apenas em aceitar que os planos da vida são bem maiores que qualquer entendimento. São maiores do que eu, do que você, do que nossas vontades, agonias, desejos, alegrias e medos. A incoerência talvez more aí também, porque penso e sinto como quem sabe desse mistério da vida, mas não ajo dessa forma. Se o fizesse, a agonia, ansiedade e o medo seriam automaticamente transmutados o tempo todo, numa perfeição absoluta de funcionamento da alma. E a alegria seria uma constante, inabalável. Acontece que se eu quisesse isso, estaria, de novo, querendo a perfeição inexistente desse mundo insano em que vivo.
Com essa constatação, sorrio como quem fica sem saída de entendimento por enquanto, mas com o alívio certeiro de sentir paz por não entender. A ignorância, por vezes, é uma bênção.
O padrão de controle que me perdoe, mas talvez não saber seja mesmo fundamental.
É isso e é só.
Oi Dani! Nossa, que intensidade veio ao discordar dos posts em dois textos do Ruy. Errei na mão? Comentei com excesso, soando agressivo? Possível, mas foi... Equilíbrio seria bom, mais racionalidade, menos paixão dependendo do contexto? Serenidade sempre? Sim, mas e lá somos Buda? Como no ho'oponopono: me perdoe, sinto muito, sou grato, te amo. E sigamos! Vou discordar de ti quanto à ignorância. É uma benção ruim, pois cada vez mais o mundo precisa é de pessoas com conhecimento. Há um ano não conhecia a Juliana Diniz, nem Joanna Macy, olha aí, por exemplo, o que eu estava perdendo: https://desenvolvimentoregenerativo.com/as-tres-dimensoes-da-grande-virada/ Fico por aqui. Até!
Olá, Jaylei! Obrigada pelas palavras! Sim, concordo contigo sobre a questão da ignorância, mas lembre-se de que o texto pode conter sentidos figurativos, metáforas, bem como significados diversos para o mesmo termo. O leitor decide o que tem ressonância para ele e acolhe. Ou não. Todas as interpretações são válidas, pois não me pertencem.rs Vou conferir o link que enviou, obrigada! Um abraço!