Você já leu algo sobre Hermes Trimegisto? Ou sobre as Leis Herméticas? Ou sobre o deus egípcio Toth? Ou ainda o deus grego chamado Hermes? Ou, talvez o deus romano conhecido como Mercúrio? É bem provável que já tenha ouvido algo a respeito. Até porque, trata-se do mesmo personagem.
Trimegisto: o três vezes grande. Tentar encontrar sua exata origem é praticamente impossível. De qualquer forma, esse personagem é vinculado a um conhecimento que tem influenciado a humanidade desde os mais remotos tempos.
O nome está ligado diretamente ao ocultismo, à alquimia e aos mitos antigos, mas muitos estudiosos – desde historiadores até filósofos – associam as Leis Herméticas a muitos dogmas religiosos que perduram até os dias de hoje.
Ao mesmo tempo, também não podemos ignorar o fato de que esse tipo de saber tem seu papel “pré-científico”, incitando, inevitavelmente, a humanidade rumo às investigações observáveis e comprováveis, típicas da ciência.
Minha proposta para essa nossa conversa não tomará caminhos religiosos ou históricos. Gostaria apenas de convidar você, caro Leitor, cara Leitora, para uma reflexão despretensiosa sobre uma das leis propostas por essa figura mítica: a Lei do Ritmo.
Na verdade, são sete as Leis Herméticas: a Lei do Mentalismo; a Lei da Correspondência; a Lei da Vibração; a Lei da Polaridade; a Lei do Ritmo; a Lei do Gênero e a Lei de Causa e Efeito.
Você não encontrará a assinatura de Hermes Trimegisto abaixo dessas leis. Como todo assunto ocultista, trata-se de um conhecimento passado de geração para geração de forma ágrafa. Pelo menos, até o surgimento de um livro chamado O Caibalion. Trata-se de um apanhado escrito em 1908 que contém a essência desses ensinamentos conforme eram dados nas escolas herméticas do Antigo Egito e Grécia.
Escolhi a Lei do Ritmo simplesmente porque tem sido a que me rodeia mais no momento. Convém, no entanto, deixar claro que não é possível abordar uma única lei sem que alguma das outras seis leis se faça perceptível, uma vez que há total interconexão entre elas.
Caro Leitor, cara leitora, caso tenha uma natureza racional ou lógica demais, peço-lhe uma chance ao meu texto: tente ler até o final. Minha mente, por exemplo, vive discriminando aquilo que não me pareça científico, mas, como qualquer “humanoide”, acabo acolhendo ideias que me levem a enxergar a vida por novas perspectivas.
Você deve estar me perguntado: o que tem a ver Hermes Trimegisto com o cotidiano? Aliás, creio que muitos leitores possam já estar desconfortáveis com o fato de chamarmos de “leis” algo que venha do ocultismo, não é mesmo? Lei é coisa para Isaac Newton e Albert Einsten. (Ops! Alguns documentários sobre Newton insinuam que ele se envolvia com o ocultismo. Pesquise a respeito em vídeos do Natgeotv no Youtube).
Começo com a seguinte questão: quando falamos de ritmo, o que lhe vem à cabeça? Eu arriscaria dizendo: música! Pelo menos é algo que realmente se encontra em nosso cotidiano.
Basicamente, o ritmo musical é a ordenação de sons numa certa regularidade do tempo. A palavra ritmo vem do termo grego rhytmos que significa qualquer movimento regular, constante, simétrico. Se você não for muito familiarizado com música (como eu, infelizmente), basta sentir sua pulsação ou ouvir um coração batendo. Há um ritmo nessas estruturas orgânicas.
Os músicos costumam utilizar o metrônomo para não saírem do ritmo pré-determinado pela música. O movimento desse aparelho nos faz lembrar o movimento de um relógio de pêndulo.
Nesses dois exemplos que eu escolhi observamos movimentos, em um plano pendular, previamente determinados por uma mecânica manipulada pelo homem: seja ao acertar as horas no relógio, seja ao determinar a pulsação do metrônomo. Assim, para minhas reflexões, descarto o experimento do “Pêndulo de Foucault” porque seu princípio é baseado num pêndulo que tem liberdade de oscilação em qualquer direção, sem a interferência mecânica humana. (Se quiser se aprofundar nesse tema, sugiro este link).
Imagine-se de frente a esse relógio de pêndulo (raro hoje em dia). Então, eu pergunto: você reparou que a distância que o pêndulo percorre à direita é a mesma percorrida à esquerda?
Parece óbvio, não é mesmo? Que bom que você acha isso, pois assim ficará mais fácil para compreender a quinta Lei Hermética (ou Princípio Hermético):
5º. Princípio: Ritmo
Tudo tem fluxo e refluxo; tudo tem suas marés; tudo sobe e desce; tudo se manifesta por oscilações compensadas; a medida do movimento à direita é a medida do movimento à esquerda; o ritmo é a compensação.
Pode parecer exagero, mas meu cérebro é impactado por trilhões de sinapses quando leio essa lei de Hermes Trimegisto. E, para me inspirar em minhas reflexões, acabei conhecendo Lúcia Helena Galvão, Professora de Filosofia.
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Essa lei ocultista está, na verdade, baseada em leis da própria física que nós aprendemos na escola: basta se lembrar do “Pêndulo de Newton”. Mas, então, por que o Princípio do Ritmo vem das escolas ocultistas? Eu diria que pelo potencial escondido em suas mais diversas interpretações. (E, além disso, vai se saber se Isaac Newton não era realmente um alquimista…)
Alguns eventos corriqueiros me inspiram a enxergar a Lei do Ritmo. Em meus tempos de criança, os adultos tentavam conter as algazarras dos grupos infantis dizendo: “muita gargalhada sempre acaba em choro! ”. Há ditados antigos que diziam: “Dia de muito riso, véspera de pouco sizo”. Era isso mesmo! Talvez, muitos de nós já tenhamos passado por isso: grupos de amiguinhos, começavam a bagunçar num ritmo acelerado, gargalhadas incontidas, histéricas, até que, por consequência – fosse por uma queda, um safanão, um brinquedo quebrado –, tudo terminava em prantos.
Outra lembrança marcante em minha vida está nas brincadeiras com uma prima muito querida. Eu morava em um sobrado e, lá pelas tantas, eu e essa prima corríamos pelas escadas acima e abaixo, como duas doidas gritando e gargalhando. Meus pais e meu tio nos alertavam: “parem com isso porque não vai acabar bem. ” Era batata: uma de nós acabava se espatifando degraus abaixo e a brincadeira tão divertida virava um chororô só.
Eis a Lei do Ritmo atuando em momentos dos mais corriqueiros: a medida das gargalhadas anteriores definia a medida dos prantos posteriores. “Tudo se manifesta por oscilações compensadas; a medida do movimento à direita é a medida do movimento à esquerda; o ritmo é a compensação. ”
Você acha que estou “viajando” demais com minhas colocações? Então, que tal enxergá-las apenas como possíveis vieses culturais? (Está bem, estou viajando sim. Mas, que mal nos fará?)
Já parou para pensar na prática tão corriqueira do happy–hour de sexta-feira? Eu diria que a quantidade de bebida engolida é proporcional à quantidade de “sapos engolidos” durante a semana. A oscilação tentando trazer compensação. Ou seja: a Lei do Ritmo em plena atuação.
Fico pensando: a oscilação é inerente à nossa vida. A falta de pulsação é sinal de morte, não é mesmo? Precisamos pulsar para vivermos. É por isso que nos apaixonamos e nos decepcionamos com a mesma intensidade. Estamos sempre ganhando e perdendo. Gostando e desgostando. Avançamos e retrocedemos. Acertamos e erramos. O ritmo é inexorável em nossas vidas.
Só que nós acabamos nos desgastando com tantas oscilações. Talvez, por isso, ao avançarmos em nossa idade, aprendemos a oscilar menos. Isso, porém, não é a solução! Até porque, diminuir inadvertidamente nossas oscilações pode nos levar à paralisia do pêndulo: o que significa deixar de viver, não é mesmo?
Talvez, por isso, sempre fiquei incomodada com a máxima de algumas doutrinas: o caminho do meio é o ideal. Ora essa! Nem à direita, nem à esquerda, parece-me mais optar pelo morno. E, um “Grande” já dizia: “Assim, é de vomitar! ”.
É claro que a falha de interpretação é minha. Segundo a Professora Lúcia Helena (mencionada anteriormente), não podemos acabar com as oscilações, mas podemos minimizar suas influências negativas sobre nós. Para não sermos atingidos pela lei atuante em determinada linha de polaridade – outra Lei Hermética –, devemos superá-la e atingir um degrau acima.
A Professora dá um exemplo: imaginemos duas crianças disputando um mesmo brinquedo: a intensidade com que uma puxa à direita é a mesma com que a outra puxa à esquerda. Se você quiser apaziguar a discórdia, não poderá desejar também o brinquedo (ou seja: não poderá deixar-se envolver na polaridade estabelecida na situação). Você terá que ser “o fiel da balança”: estar acima daqueles ânimos e ser capaz de tornar-se neutro na situação.
Se eu já achava um grande desafio tentar conter o deslocamento do pêndulo em minha vida, imagine agora que conheci a correta interpretação: ser capaz de estar acima do próprio movimento pendular!
É muito simbolismo pra você? E, como é possível interpretar a vida se não for por intermédio de símbolos? A própria lógica se utiliza deles…
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