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17/06/2020  |  By Edna Borges In Crônica

O que aprendi com as plantas

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Tudo acontece no seu tempo. Tenha paciência. Viva um dia de cada vez. Essas podem ser na maioria das vezes frases prontas, para alguns um guia de autoajuda, mas acredite, pode não ser. Eu chamaria de sabedoria. Tudo isso pode nos lembrar de que a vida acontece exatamente no tempo presente, independente da situação ou mesmo do nível de satisfação ou insatisfação que estejamos vivendo, a vida é agora. Nenhuma flor abre ou uma folha cai se não for a sua hora. Então, paciência, tudo no seu tempo. 

Temos vivido e experimentado dias, semanas e agora meses, que parecem se repetir num eterno looping. Temos a impressão de que os dias se repetem numa sucessão de incertezas, pelas notícias que ouvimos, pelas experiências que temos, a vida parece nos ter colocado numa roda gigante sem a opção de parada. Dormimos e acordamos na esperança de que uma notícia, apenas uma, possa ser positiva. Infelizmente a atual situação política do nosso país não colabora e o que parece impossível piorar, piora. Então, respiramos e esperamos por mais um dia. Afinal, dizem que “Deus é brasileiro” e nos apegamos a isso, na esperança de dias melhores.

Isso nos tem dado a oportunidade de algumas reflexões e uma delas que tenho vivido tem sido parar e reparar diariamente no desenvolvimento das minhas plantas. Já não fazia isso há alguns anos, por conta de uma agenda de trabalho sem muito tempo em casa. E sabe de uma coisa? Redescobri o óbvio. Uma flor pode demorar muitos dias pra abrir, enquanto outras podem mudar de um dia pro outro. Tudo bem, eu avisei que havia descoberto o óbvio, mas enquanto não parei pra observar esse processo, não compreendi exatamente o que isso poderia significar. 

Vou explicar melhor. 

Há pouco mais de um ano mudei de casa, na verdade, a mudança foi bem maior do que só de uma casa, mas vamos falar das plantas. Já me mudei algumas vezes e minhas plantas sempre seguiram comigo, dessa vez a vida estava bem confusa. E quando não está, não é mesmo? Assim que nos instalamos na nova casa, algumas plantas de imediato ganharam o seu canto, enquanto outras poucas ficaram sem local definido, pois precisavam de um pouco mais de cuidado. E cá entre nós, quando a vida está bem tumultuada e não estamos dando conta de cuidar nem de nós mesmos, como podemos cuidar de uma simples planta? Foi aí que percebi que não ia conseguir.

Deixei essas plantas de lado, no fundo talvez eu desejasse que elas não dessem conta, pois raramente recebiam água e outro cuidado. Era o caminho mais fácil. Elas foram entregues a sua própria sorte. Aqui podemos abrir um parêntese e dizer que qualquer semelhança com o que estamos vivendo atualmente é mera coincidência, porque quando não se tem nenhuma ideia do que fazer, quando se está realmente perdido, é melhor entregar a sorte a cada um e salve-se quem puder. Talvez eu tenha sido mesmo cruel, tenha desejado de alguma forma que elas morressem, seria um trabalho a menos. Mas acredite. Elas teimaram em viver. Entendo como um ato de rebeldia, a força da natureza na tentativa de me mostrar que nada acontece fora do seu tempo e com ele, todo o aprendizado necessário. Foi nesse momento, me sentindo vencida pela insistência e resiliência daquela planta, percebi que não tinha alternativa e o jeito era começar a cuidar, pois ela realmente não ia desistir de mim.

O vaso da maior planta, até então abandonada, ganhou um lugar de destaque no quintal onde seria mais fácil visualizá-la e assim, água e atenção em abundância. Da planta entregue a sua própria sorte ela passou a ser foco de atenção e parecia retribuir sorrindo pra mim. Isso talvez já pudesse ser “efeito quarentena”.  Enfim, a recuperação foi rápida e passei a reparar em cada detalhe, suas reações, as folhas novas, as que foram embora, seu movimento e a força que ganhava a cada dia. 

Percebi que conforme os intermináveis dias de quarentena se passavam, a pressão sobre a evolução daquela planta aumentava. Passei a observar atentamente cada detalhe e foi aí que percebi uma impaciência, da minha parte, com a evolução da planta, com o seu ritmo, que agora parecia lento demais. Já não ganhava mais tantas folhas novas e nem tantos ramos. Foi nesse momento que de novo o que parecia óbvio foi ressignificado. Você já deve imaginar. Não era a planta, era a minha falta de paciência, minha ansiedade. A necessidade de uma mudança repentina. Uma vida presente sendo totalmente ignorada e vivida no futuro, na pressa. Assim como as plantas, as pessoas precisam de tempo, mas, muito mais do que isso, precisam de respeito ao seu tempo. 

Com minhas plantas aprendi a esperar, a respeitar e a permitir o tempo de cada um. Por vezes elas poderão perder todas as folhas, todos os ramos, não demonstrar nenhum sinal de vida, mas ainda assim, elas podem estar apenas retomando o ar. Talvez este seja o momento da parada. Momento de se libertar das folhas secas, de permitir o espaço vazio para que a vida se renove. Dê o tempo que ela precisa, mas não se afaste. Mantenha-se por perto. Esteja presente. Ofereça água com frequência. Coloque-a para tomar sol. Converse com ela, mesmo que isso possa parecer maluco, ela pode ser uma excelente ouvinte. Minhas filhas dizem que eu converso com as minhas plantas há muito tempo e eu digo que elas têm razão. Porém, o que elas desconfiam, mas não têm certeza, é que minhas plantas falam comigo.  

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