Ao invés de passar na farmácia, passou na padaria. Daria tanto trabalho explicar que encontrou com um amigo e resolveu tomar um café, que achou melhor mentir. Além da fila estar imensa, não encontrou o medicamento. E ela acreditou, claro. Que coisa, não?
A preguiça em arrumar a cama para dormirem era tanta, que preferiu dizer que estava com dor de barriga, se trancar no banheiro e jogar qualquer coisa no celular. Saiu com a cama já arrumada, deitou, beijo e dormiu contente. Esqueceu novamente o compromisso com a família dela, mas ao invés de assumir e encarar, preferiu dizer que ela não havia avisado, então ele já tinha combinado de ir ao happy hour do trabalho. Afinal, não era nada demais mesmo, que diferença faria? E ainda emendou dizendo que ela andava muito louca, sem saber o que dizia, que precisa descansar a cabeça.
Enquanto ela limpava a casa, sábado pela manhã, ele estava na rua fazendo companhia a um amigo que havia decidido reformar sua churrasqueira. Afinal, ele sempre foi um ótimo amigo, não deixaria o cara na mão. Ela pediu para ele comprar arroz na volta desse passeio, a fim de que pudesse terminar o almoço. Ele lembrou só depois de passar a entrada do mercado, mas estava tão cansado por ajudar o amigo, que não teve vontade de pegar um retorno ou achar outro mercado. Quando chegou em casa e ela perguntou a respeito, preferiu falar que esqueceu. Ela ficaria brava e ele não estava a fim de ouvir reclamações banais. Queria mesmo era descansar, não é fácil ser um amigo presente.
Nem certo final de semana, ela sugeriu jantarem num japonês, sair, dar uma volta. Sorriu dizendo que adora séries do Netflix, mas seria interessante fazerem outras coisas de vez em quando. Ele não queria perder a nova temporada de uma série sanguinária. Disse que não se sentia bem e preferia ficar em casa. Ela compreendeu, apesar de chateada, e foi sozinha jantar fora. Ele comemorou como uma criança que come sozinho o doce escondido das outras crianças.
Enquanto jantava sozinha, um rapaz da mesa ao lado resolveu puxar papo. Estava sozinho também. Acabaram por descobrir que estudaram juntos no colégio e o jantar rendeu lembranças divertidas. Ele quis marcar um encontro. Ela disse que falaria com o marido para irem juntos, que seria um prazer. O rapaz se decepcionou ao saber que era casada, mas ficou admirado com a honestidade. Dali até o final do jantar, ela só falou do marido e em como teve sorte de encontrá-lo. Trocaram telefones, mas ele nunca mais a procurou. Mandava algumas mensagens de vez em quando somente.
Um ano se passou. As mentiras pequenas e ingênuas permaneceram por parte dele, cujo objetivo era sempre optar pela preguiça de explicar ao invés de falar a real e correr o risco de ser mal interpretado. Ela dizia a ele que sabia que era mentira, mas foi chamada tantas vezes de louca e paranoica, que também acabou com preguiça de discutir a respeito. Sabia, afinal, que eram mentirinhas bobas. Se fez de boba também.
Até que um dia, alguém resolveu escancarar o peito e ser honesto. O amigo de infância reapareceu e confessou estar apaixonado por ela desde o dia em que se reencontraram. Não tentaria nada, não queria nada. Só não aguentava mais fingir amizade, sentindo algo bem diferente e específico. Ela ficou chocada com tamanha sinceridade, não estava acostumada. Contou ao marido, que fingiu não se importar. E ele riu, dizendo que ainda bem que alguém ainda olhava para ela.
Ela sentiu o coração doer ao ouvir aquilo, mas resolveu romper o ciclo. Cansou. Disse a ele todas as pequenas mentiras que ela sabia, o quanto isso a magoava, mas o quanto de preguiça teve de tomar alguma atitude a respeito. Fez as malas, mentiu que desejava que ele fosse feliz e partiu. Casou novamente com o amigo de infância. Ela resolveu arriscar a honestidade de tentar algo real com alguém que teve coragem suficiente para querer estar com ela por inteiro.
E foram felizes para sempre… Não, mentira. Desculpe ser honesta, isso é balela pura. Posso dizer que foram honestos para sempre. Fim.
Oi! Mais que preguiça, ele evitava as várias falas de que ele não dava importância a ela, de que ele só valoriza os amigos, de que ele não a escutava, de que ele só pensava em si...Reclamações, acusações e julgamentos. Do mesmo jeito que ele "errou", ela também "errou". A honestidade os salvaria? Como saber? E se ele dissesse que a cobrança dela era demasiada, que a vida para ele não são só os dois sempre, que o sonho de um príncipe encantado era mentira, que a paixão acaba, que as pessoas erram, mas é possível que o respeito, a amizade e sim, o amor, continue ainda que cada um tenha seus pequenos segredos e que não é preciso contar tudo, tudo, da vida de cada um? Será que ela aceitaria o que ele acha mais "coerente"? Como saber, né? Uma ótima semana!
Olá, Jaylei! Obrigada por compartilhar suas ideias! Sim, super concordo contigo! Lembre-se de que esse texto é puramente ficção, ok?rs Boa semana! Um abraço!