O Confrariando fez um ano de aniversário no último dia 11 de agosto. Ao longo desse período foram publicados quase 200 artigos, que trataram dos mais variados assuntos. Bem-estar, cinema, filosofia, políticas públicas, como o próprio ambiente político em si, cultura, além de textos de e sobre literatura, como crônicas, narrativas, resenhas e, inclusive, poesia. Um ímpeto criativo, além de um impulso corajoso por parte dos integrantes envolvidos ao longo desse período proporcionou um cenário interessante.
No início, em agosto de 2016, o cenário de incertezas no contexto político, econômico e, mais especificamente, profissional de alguns de nós, confrades, serviu para aproveitarmos a vontade de tratar sobre os mais variados assuntos, mesmo que não estivéssemos investidos do discurso de cátedra, mas da experiência, do repertório de leituras, da vontade de acolhimento para além de discursos facilitadores da mídia, do marketing, do mundo corporativo, do senso comum.
Como grito inicial, o Confrariando envolveu motivações distintas dos integrantes, que variaram conforme o nível de entrega. Posso dizer algo a respeito das minhas razões somente: tentar vivenciar de maneira sadia uma vontade de me pronunciar, quando o mundo converge para a postura do grito; evadir-me em alguns momentos do trabalho, para expor opiniões e encontrar interlocutores movidos pelo simples interesse de conhecer – e não por motivações institucionais, profissionais que exigem sempre algo além de uma curiosidade desinteressada; usar o espaço como confessionário, de maneira cifrada, de algumas memórias, problemas, diário a céu aberto, e viver os problemas inerentes a essa escolha.
Produzir um site, mantê-lo abastecido de artigos bem escritos, com mínimo de coerência (de textos, de projeto), de tal modo que possam convergir para estabelecer uma identidade própria, dá trabalho, é caminho tortuoso que convoca a paixão de alguns mais do que outros, que mobiliza a criarmos estratégias para continuarmos existindo a pleno vapor. Significa lidar também com as perdas e renúncias inerentes às escolhas que fazemos, como os temas que gostaríamos de escrever, mas nos falta mais dedicação, preparo, bagagem de leitura; como a saída de colegas, que, embora não estejam mais presentes, colaboraram de diversas e inestimáveis formas para estabelecermos o plano; como a entrada de novos participantes, que perceberam e acolheram de maneira generosa nossa cara para se inserir de alguma forma; como a necessidade de dedicação à manutenção do site e da infraestrutura (incluindo seu layout atual), além do esforço de divulgação, que nos requisita muito, mas que – sabemos – deve continuar e se ampliar.
É evidente que abordo esses aspectos da participação de todos os confrades de maneira homogênea, mas não é bem assim: temos mais envolvimento de uns do que outros, mas as concessões em relação à natureza, à qualidade, à dedicação e à intensidade do envolvimento de todos e entre si somente demonstra uma vontade, cada qual com suas qualidades e limitações (momentâneas ou não) uma vontade de continuar a dizer, a acolher, a discordar e debater de maneira amistosa. Como disse antes, escolhas são renúncias. Isso significa também aceitar o cenário para o qual nossos passos nos conduziram até aqui, e como deveremos continuar.
Sobre o futuro, o que podemos esperar? Se, em meados de 2016, começamos considerando iniciar um projeto como esse em um momento de grandes incertezas, chegamos ao primeiro ano com um cenário ainda mais nebuloso, tanto em termos de conexão de nossos textos com o contexto presente, bem como com a continuidade do projeto. Paira de uma maneira geral uma sensação de falta de credibilidade sobre tudo que lemos, ouvimos, assistimos, ou até mesmo sobre o que nós mesmos produzimos. Há sempre o receio de perda da liberdade de nos expressarmos, já que não sabemos como governos, empresas e pessoas podem receber o que dizemos. Isso é consequência de um mundo cada vez mais fragmentado, que toma um pouco das temáticas e do encaminhamento de alguns dos textos que temos publicado recentemente.
No fim, isso é um sinal inegável de que estamos sintonizados com a realidade, mesmo que em alguns textos isso não se evidencie. Por isso mesmo é que se faz necessária a manutenção de temas e gêneros importantes, embora pouco usuais no conteúdo disponível na web de um modo geral. Além disso, defendemos a necessidade de textos com uma extensão longa, se comparado ao que se encontra em outros portais de conteúdo semelhantes. Reside nisso a crença de que é preciso aceitar o pacto entre os autores e os leitores sobre os textos e sua natureza. Nem sempre escreveremos textos ideais, que chamem a atenção imediatamente. Muitas vezes, um texto provocativo pode ser considerado uma bravata, ou superficial, a depender da posição do leitor. Como confrades, devemos não nos furtar a estar na outra posição, como antagonista frequentemente, o que é nosso dever também. Acho que temos cumprido bem esse papel até o momento, enquanto participantes de uma interlocução maior, o humano que reside em nós.
Os fatos recentes, que evidenciam uma retomada de radicalismos e de dissensões somente vistos em momentos críticos do passado – e que imaginávamos impensável de acontecer novamente –, convocam-nos a perseverar, mesmo que surjam vozes a dizer que não podemos nos pronunciar sobre as questões de nosso tempo, de maneira coerente com nossos valores, com qualidade e fundamentação e, sobretudo, éticos. Não defendo ser aqui o único a direcionar nossas ações por meio desse texto. Como em qualquer organização coletiva, isso dependerá somente de nós mesmos, confrades.
Sempre ouço de meu pai que não é bom a gente se levar tanto a sério o tempo todo. Isso para a vida em geral. Deve haver também leveza nessa brincadeira. Depende também de você, leitora/leitor, continuar a comungar do pacto, esse jogo de roda.
Que venham os próximos anos…
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