Se você não sabia, eu te conto agora: a faringite pode ser um grito engolido. E, ao constatar essa descoberta, em pleno acesso de tosse e garganta seca, a música de Gonzaguinha rompeu em meu ouvido sem que eu tivesse qualquer controle sobre essa verdadeira abdução. Muito estranho, pois eu nunca me identifiquei com tal poeta, apesar de sua grandiosidade. Talvez, quem sabe, eu ainda não estivesse à altura…
Parece-me que Explode Coração tenha sempre sido associada às dores românticas, aquelas entre casais, sejam de quaisquer gêneros, mas, antes de tudo: relações que se tem com um outro que, apesar de muito íntimo, não está dentro de nós mesmos.
Ao se instalar em minhas entranhas, tal canção trouxe-me à tona minhas dores comigo mesma…
(fonte: https://www.letras.mus.br/gonzaguinha/46274/)
Chega de tentar dissimular e disfarçar e esconder
O que não dá mais pra ocultar e eu não quero mais calar
Já que o brilho desse olhar foi traidor
E entregou o que você tentou conter
Parar de se disfarçar da própria vida,
Até porque não dá mais pra se esconder dela.
O brilho do olhar da vida acaba te flagrando.
Joga, em sua cara, o que você tenta conter.
O que você não quis desabafar
Chega de temer, chorar, sofrer, sorrir, se dar
E se perder e se achar e tudo aquilo que é viver
Eu quero mais é me abrir e que essa vida entre assim
Como se fosse o sol desvirginando a madrugada
Quero sentir a dor desta manhã
Você tenta não desabafar, engolindo seu próprio grito.
Talvez, seja a hora de parar de temer,
Parar com o sorriso sofrido,
Parar de se perder e de achar que se reencontrou.
O grito engolido te força a querer se abrir,
Pra que a vida realmente entre.
E, como o sol que desvirgina a escuridão,
Aceite a dor de nascer de si mesmo.
Nascendo, rompendo, tomando
Rasgando, meu corpo e então eu
Chorando e sorrindo, sofrendo, adorando, gritando
Feito louca, alucinada e criança
Eu quero o meu amor se derramando
Não dá mais pra segurar, explode coração
Nascer de si mesmo é romper-se.
É rasgar-se de dentro pra fora.
O nascer de si mesmo
Te faz chorar e sorrir ao mesmo tempo.
Chora, porque o parto é dolorido.
Sorri porque nascer de si mesmo
É derramar-se em amor
E, por fim, o grito engolido
Explode o coração endurecido.
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Foto: by Marcos Lally
Releitura incrível! Realmente muito boa, parabéns Carla e muito obrigada por poder ilustrar tal poema!