Louis Sullivan, influente arquiteto modernista, fez fama ao perseguir e implantar a real correspondência entre a forma e a função em seus projetos. Para ele, nada mais natural que tornar a estética item subserviente à funcionalidade da construção e destituir o ornamento – seu contraponto – de papel mais importante no conjunto.
Não é difícil imaginar que Sullivan tenha apenas excedido para a arte suas observações às coisas da natureza. Afinal, o homem já houvera recriado a forma da asa do avião baseado na função da asa de um pássaro, entre tantos outros artefatos que relacionam aspectos formais com sua finalidade.
Contudo, nem a Arquitetura, muito menos a natureza, conseguem explicar o insondável abismo que existe entre as funções de um parlamentar brasileiro e o formato que foi dado ao seu cargo. Há um liame quase materno entre a falta de compostura do parlamentar e o modelo frouxo e permissivo que dirige sua atuação. Até já nos acostumamos com a ideia, mas é inconcebível que uma pessoa – ou grupo – tenha plenos poderes para criar as leis que conduzirão sua conduta, para julgar seus deslizes, angariar dinheiro alheio, estabelecer seus limites e decidir o que é lícito ou não, sem a efetiva sombra moderadora de outro poder legalmente constituído e, por assim dizer, paralelo.
A influência da opinião pública e da imprensa tem sido ineficientes para conter a sanha por privilégios e permissões especiais que acomete a maioria dos que possuem cargos públicos eletivos. Sob mínima pressão, alegam ser donos das passagens, do excedente das verbas de gabinete, do auxílio-moradia e de outros mimos tais. E não são?
É certo que a maior qualidade do nosso povo passa longe de ser a capacidade de escolher bem seus representantes. É certo também que nossa sensação de erro nesta escolha seria minimizada se os eleitos mal intencionados esbarrassem em mecanismos que afastassem de seu alcance a infinidade de recursos e facilidades que lhes foram colocados à distância de uma assinatura. Desnecessário argumentar que contar apenas com a boa índole do dono da caneta já se tornou prática superada.
O perfeito ajuste da função maior do parlamentar (legislar com foco no bem coletivo, apenas para lembrar) com as formas que regem sua atuação passa, em primeira instância, pela vontade politica, moral e pessoal de quem jurou, com sua faixa auri-verde no peito, zelar pelo correto funcionamento das instituições que deveriam servir ao povo. Apenas esperar que isto aconteça não basta. Vamos chamar os arquitetos!
Oi Roque, bom dia. Leio o texto e fico muito preocupado, pois não vejo solução. Sou pessimista em relação aos que lá chegam, mas otimista conosco, com o que podemos criar, independentes dos que deveriam nos representar. No entanto, é fato que decisões políticas podem prejudicar a muitos que não têm posses, que são invisíveis para o sistema e que não têm voz, nem vez. "Até já nos acostumamos com a ideia.." Sim, não é absurdo? Agora, o que fazer quando vc mesmo escreve que "A influência da opinião pública e da imprensa tem sido ineficientes para conter a sanha por privilégios e permissões especiais..."?