O Brasil, essa quitanda
Kaftas, esfirras, pizzas, mulher-melancia, mulher-moranguinho… Nosso conhecimento de mundo é a feira. Olhos para comer, ouvidos para sentir, nariz para degustar, boca para mamar. A pessoa que sacar essa lógica sistêmica vai dominar o Brasil. Quiçá, o mundo.
Sobre os 100 dias entre céu e mar
O Centrão nunca foi tão forte como agora. Não é à toa que o Brasil tem sucesso em formar laterais (isto é, atravessam o campo e para perder na zaga oposta), centroavantes (seguram e até carregam a bola, mas nem sempre passam) e volantes (esses que amarram e encarniçam o jogo). Já atacantes e goleiros, os que resolvem, aparecem uma vez ou outra na vida e olhe lá…
Box e Machado de Assis
Depois de seis anos no cafofo, ráparei de raspar o chão, o meu, o dos outros. Essa luta diária em três rounds, pois são três as abluções, no mínimo. Enfezei e mandei instalar box. Tomei banho rindo. Sério! Como Cubas diria: “… as botas apertadas são uma das maiores venturas da Terra, porque, fazendo doer os pés, dão azo ao prazer de as descalçar.”
Por um controle ideológico das hortas
O zelador começa:
– O senhor sabe que um morador aqui do condomínio veio perguntar sobre a horta que o senhor plantou no jardim.
– Ah, é? E o que foi que aconteceu?
– Ele questionou se podia horta aqui.
– E o que o senhor respondeu, seu Zé?
– Mas que claro que podia. Que permitimos, já que o senhor pediu. Tinham é que ter mais hortas aqui. Se todo o mundo fizesse…
– Hum. E o que ele respondeu?
– Ele também disse “Hum”, contrariado, e saiu de fininho…
Nidificação
Troca móvel. Conserta móvel. Compra móvel. Troca roupa. Conserta roupa. Compra roupa. Fura a parede. Conserta a parede. Pinta a parede. Aperta cano. Quebra cano. Conserta cano. Compra cano Usa o aparelho. Quebra o aparelho. Conserta o aparelho. Compra aparelho. Limpa o chão. Torce o pano. Olha bem tudo isso aí que mais um já vem, hein! Hum, sério? Sabe o que mais: esquece isso, meu. Esquece e passa o pano. Isso, vai passando o pano e esquece.
No whats
No grupo da família, mais uma corrente do bem, costurada por um encaminhamento do mal.
Já no grupo de pais e mães da escola, ronda o mistério em torno da autora dos abomináveis e (dizem) deliciosos brigadeiros, sem açúcar, sem lactose, sem glúten, sem nada.
No grupo dos amigos, muita coisa rola, mas nada de se de embolar as coisas, para deixar as coisas como estão.
No perfil da patroa, cobrinhas, caveirinhas, pontinhos, monstrinhos. Só lindos emoticons!
No privado, não há o quê. Só se ouve: “Quê!”.
Gato mia, mas não entra
Sabe o café fofo, espaço gourmet para mamães power e filhotes mimados? Então, ali, acompanhando a patroa em um social com as amigas, o autor pergunta à garçonete:
– Por favor, sabe me dizer onde fica o banheiro masculino para lavar as mãos do menino? Procurei em todo o lugar e só encontrei banheiros femininos.
– Mas é isso mesmo, moço. Aqui só tem banheiros para elas. Saca aquele ali? Pode ir nele.
Um segundo depois, já andando:
– Hum, saquei.
Na fila do desemprego
As experiências na recolocação para o tal “mercado de trabalho” se acumulam. Um teste interessantíssimo de personalidade me dava a possibilidade de me zooantromorfosear em quatro tipos distintos de animais: um tubarão, um lobo, uma águia ou um gato. Deu gato, mas o que não deu foi o seguimento à seleção para a vaga. Devia ter jogado no bicho. Ainda existe?
Quer se divertir? Vai lá!
Na Assembleia do condomínio
Uma pauta interminável. Velhos falando dos problemas de saúde. Pais novos preocupados com o comportamento dos filhos dos vizinhos, aquelas sim são as más influências. Interrupções. Assessor jurídico pagando de medalhão. Assessor contábil com cara de paisagem. Conselheiros mudos. Síndico eleito recebendo beijinhos da mamãe pela vitória (por procurações). Listas de reclamações. Apupos. Uma 5ª série, de fato.
Olivetti Lettera
Ganhei uma máquina de escrever. Não, não ganhei. Na verdade, pedi, pois estava encostada, sem uso. Aquele fetiche que todo o mundo que escreve tem com uma máquina dessas, sonhando em digitar os textos mais elevados, os pensamentos mais sublimes, as sacadas mais geniais. No entanto, nada como uma página em branco para nos lembrar da nossa insignificância e soberba. Mais valeu uma bela transcrição de uma história do pimpolho:
“Era uma vez, um menino chamado Benjamim. Ele gostava de brincar. Ele achou um feijão mágico, que lhe deu um foguete. Aí ele foi para o espaço de foguete. Ficou na nave até chegar à Lua. Quando ele chegou lá, o Benjamim, plantou um pé de feijão. E depois ele voltou para casa. Mas aí o foguete ficou sem combustível. E então ele caiu na Terra. E tudo ficou bem. E fim.”
Diante de escrita tão libertária, calo-me. Por hora.
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