O que lhe vem à cabeça quando pensa na palavra esperança? Parece-nos que seja comum, à maioria das pessoas, associá-la ao otimismo, ao almejar o bem, a um viver com postura positiva em relação ao mundo. Só que a raiz da palavra esperança nos leva à palavra esperar que, por sua vez, leva a maioria de nós a associações como impaciência, ansiedade, angústia etc. Ideias contrárias às listadas inicialmente. Talvez, da palavra esperança, possamos chegar a duas alternativas contrárias entre si: o esperançar (mais positiva) e o esperar (mais negativa).
Para refletirmos sobre esse impasse, trago, novamente, um vídeo de Pedro Calabrez (uma espécie de continuação do vídeo que mencionei em meu texto anterior). O ponto focal é a ética estoica que valoriza o presente acima de tudo. Para os estoicos, o passado está morto, e o futuro ainda não está vivo. Ao tentarmos dar vida tanto a um quanto ao outro, fazemos isso em nossa mente em nosso presente. Então, mesmo quando lembramos o passado ou imaginamos o futuro, isso acontece no agora. Assim, para os estoicos, a vida não passa do agora (as ideias do afamado livro O poder do agora não são mera coincidência).
Conhecendo o ponto focal do estoicismo, fica fácil compreender porque os estoicos abominavam a esperança: para eles, era sinônimo de esperar. E, só esperamos por aquilo que ainda está por vir (ideia de futuro, portanto, incontrolável) e por aquilo que ainda não sabemos realmente como será (não temos conhecimento real do acontecimento em si, já que ele ainda não existe). Viver na esperança é viver sem controle e sem conhecimento.
Os estoicos nos fornecem uma concepção dura e fria da esperança, não é mesmo? É uma esperança que nos causa medo. E, nessa toada, o filósofo Espinoza (séc. XVII), que também bebeu do estoicismo, dizia: “Não há medo sem esperança e não há esperança sem medo. Todo medo é esperançoso e toda esperança, amedrontadora”. Se uma realidade que eu gostaria que existisse ainda não existe, vivo o medo de que ela realmente não venha a existir.
Para nossa cultura judaico-cristã, é muito doida essa ideia toda, não? Talvez porque tenhamos uma tendência a igualar a esperança à fé. É comum aprender que devemos esperar por dias melhores, que devemos ter fé de que nossas preces serão atendidas. Isso tudo é tão positivo! (e tão angustiante…)
Não sei quanto a você, mas parece-me prudente sabermos dosar nossas expectativas na vida. A não ser que você tenha uma incrível capacidade de resiliência, a frustração pode ser do mesmo tamanho da esperança. Não quero dizer que o otimismo não valha a pena. Apenas acho que poderíamos levar em conta algumas dessas recomendações estoicas, como viver plenamente o hoje.
Uma coisa é certa: o esperar nos leva à estagnação e o viver nos leva ao puro movimento!
Oi Carla. Saca sensibilidade? Acho que é isso. Estar sensível a si, ao outro, estar aberto à escuta de si, do outro, aliás, estar sensível, ouvir, estar aberto ao mundo. Não tem receita pronta, pois pode ser que esperar seja bom, ou que o correr seja a solução. Só acho que todos podemos saber o que nos dói, aonde dói, quem nos dói, entende? Vulnerabilidade, ser humilde, gentil, saber perdoar-se. Fácil? Não. Impossível? Tbm não? Só vale o agora? Sim, talvez. Talvez, porque o agora, esse agora já foi e fica difícil não pensar no gosto do beijo que irá ser dado, na surpresa que está logo ali na esquina, e, sinceramente, aí vale o otimismo, afinal, porque vou querer pensar no gosto ruim do beijo, que ele nem seja dado ou na morte antes de chegar à esquina, não é? Enfim, vivamos e sigamos no sonho, no real, na corda bamba entre os dois. Lembrei de Elis, O Equilibrista, somos nós, Os Equilibristas. Bjs e boa noite.
Alôu, Caríssimo Jaylei! Fantástica sua menção da música O Equilibrista! É a arte do ser humano. E, cada um de nós tem que sua própria flexibilidade, tamanho de pé, diâmetro da corda, altura do chão. Por isso, é certo dizermos que a dor só é compreendida por aquele que sente em seu coração. Fique bem, querido Confrade!
Olá! Muito bom o texto. Essa concepção dos estóicos e de Spinoza sobre medo e esperança me lembrou algo em Goethe, no Fausto parte 2. “De inimigos do homem, dois agrilhoei, medo e esperança; são dos piores: folgai, pois, já estais em segurança.” “Sereno um deles, o outro apavorado. Livre um se sente; sê-lo, o outro almeja; Cada um proclame ora quem seja.” (Medo e esperança agrilhoados).