Há pouco mais de um mês, parti.
Minha cara-metade apontou o óbvio: eu havia me embrenhado demais nas coisas daquele país — muito mais que um país continental, um planeta em si mesmo —, e as consequências se empilhavam. Sendo como os americanos na visão erroneamente atribuída a Churchill, que sempre farão o que é certo depois de terem testado todas as alternativas, percebi que já tinha feito exatamente isso, e a única coisa que me restava era o certo: partir.
Por isso, parti.
Deixei a Terrae Facebookensis numa tarde de domingo, um autoexílio que naquele momento, confesso, me doeu como ter um braço amputado por um crocodilo.
Que lugar era aquele para o qual eu havia sido transportado? Sim, porque estar fora do Facebook, pelo menos nos primeiros momentos, é como ser teletransportado para um país estrangeiro. Eu havia desenvolvido o péssimo hábito de dar inúmeras “olhadinhas” no dia, e a fissura nos primeiros momentos foi monumental, também.
Desprovido da zona de conforto do hábito. Desprovido da zona de conforto dos nomes, opiniões e posts. Forçado a encontrar nesse mundão de meu deus novas paragens.
Onde encontrar notícias? Sim, frequento vários sites todos os dias, avesso à televisão aberta que sou, há décadas, mas estes sites são impessoais, pouco opinativos, sem rosto.
Como me conectar com pessoas que não tenho a menor condição de ver ao vivo? Meu irmão em Santa Catarina, meu irmão americano no Rio de Janeiro, meus amigos d’além mar (brasileiros e estrangeiros, aos montes)?
Como expressar minha opinião, dar meus pitacos, mostrar coisas legais que faço e penso?
Tudo isso me espancava como ondas de um mar bravio. Como seu eu, em uma praia do outro lado do mundo, tentasse bestamente voltar a pé para “casa”, parando poucos metros depois de sair da areia e entrar nas águas turbulentas.
Ainda dói, confesso. Ainda me pego perguntando o que será que estão falando da condenação do Lula, do tiroteio no Kentucky, das fake news da vez.
Mas também tem coisas bacanas por aqui. Ainda não vi muitas, mas como sou um otimista por natureza, estou certo de que vou acha-las. Uma já apareceu, e é bem boa: minha produtividade para atividades fora do trabalho vai melhorando a cada dia.
Outra: dá tempo de ler mais, e meu refúgio tem sido a literatura. Só preciso cuidar para não trocar um vício por outro.
Ah, e sem a ansiedade do noticiário/vomitório constante, tem sido mais fácil perder alguns quilinhos, uma vez que consigo me concentrar na dieta, tão necessária.
Para as opiniões on-line, tenho usado o Twitter, sem tuitar nada, que não sei me virar bem naquilo.
No mais, a saudade/fissura tá de doer.
A ver.
É verdade, não é fácil sair, mas fissura quem tem é viciado por algo, não? Acho que a gíria vem de surfistas. Fissurado! Todo dia, toda hora. :) Como não vejo tv aberta, se vc puder listar alguns sites que permitam uma atualização das notícias, por favor, peço que os indique. Fico pensando se estar atualizado é tão necessário assim... Vlw, bom dia!
Oi Jaylei! Em primeiro lugar, muito bom ouvir de você novamente. Cara, é fissura, sim, porque é vício, sim. Uma atividade que demanda ação de poucos em poucos minutos, que prejudica, e que faz uma falta tremenda, provocando dependência psicológica não pode ter outro nome: é (no meu caso) vício mesmo. E abstinência de um vício causa isso mesmo: fissura. Sobre sites de notícias, você tem razão: não fazem falta. O Nassim Taleb, em seu belíssimo livro "O Cisne Negro" argumenta que a atualização constante do noticiário é prejudicial, e eu concordo com ele. É como olhar para a tela de um computador com microscópio, vendo um pixel por vez. Desse jeito é impossível uma visão adequada do todo. A imagem que a gente constrói na cabeça é, na melhor das hipóteses é uma distorção. Ainda assim, procuro ser eclético, com fontes variadas como o El País, UOL, Terra, Politico, RealClearPolitics, The Verge, ArsTechnica, BoingBoing, entre outros. Abração.
Ponto positivo extra: os comentários migram pra cá. E o meu pitaco: se vc tem autocontrole para sair 100%, conforme esta demonstrando, tem tb para encontrar um ponto de equilíbrio. Bjs!
Puxa, Bel, é verdade: tem essa vantagem também. Aliá, preciso acertar esse post lá para avisar que comentários por lá serão prontamente ignorados. Sobre o equilíbrio, ainda é cedo para fazer planos. Vejo dois cenários: o do cara que bebe socialmente, e o do alcoólatra. Ainda preciso entender em que grupo me encaixo, para depois tomar uma decisão. No momento, tudo indica que me encaixo no segundo perfil, infelizmente. A ver. Ah, e outra: não será 100%: vou voltar uma vez por semana, só para postar meus textos (e rigorosamente só). Deixar de postar os links para os textos inevitavelmente baixa a audiência dos artigos no Confrariando. Um beijo.
Sinto sua falta, mas respeito e admiro sua força de vontade. Espero que o detox te faça muito bem. Conte com minhas melhores vibrações. ;)
Obrigado, Cidoca! O remédio é amargo, mas confio nos efeito. Vamvê, né? Ademais, me dá um assunto bacana para escrever. Uma vez por mês, penso, vou atualizando os povo de como vai o detox. Beijão!
Descobri ontem o mundo maravilhoso dos blogs! Sempre achei que era um lugar remoto sem gente interessante, onde pessoas que não têm o que fazer, escrevem e escrevem, soltando palavras ao vento. Cheia de preconceitos comecei a ler um e depois outro e agora até estou agradecida por você ter deixado esta nesga da porta, aberta!
Isso é que uma maneira deliciosa de começar um fim de semana, Margarida, com um comentário lindo assim (ainda que imerecido). Muito obrigado por suas palavras. Mostrei a todos aqui no Confrariando e estão todos sorrindo de orelha a orelha, cheios de gratidão! Um excelente fim de semana procê!
Ruy meu estimado professor, admiro sua força de vontade em reconhecer um mau habito e abrir mão de algo que para muitos parece essencial, eu fiz o mesmo com o Instagram, abri mão e depois retornei, agora cancelei novamente e pretendo não reativa-lo, Facebook estou parando aos poucos, lendo seu relato me fez lembrar como eu usava a Internet antes do Facebook com meus Blogs e sites favoritos separados por categorias: Noticias, Tirinhas, Diversão, etc. Adorei o relato e o conteúdo do Confrariando, um forte abraço.
É bem isso, Gregory: um mau hábito, que estou substituindo rapidamente por outros, um pouco melhores. A leitura, como menciono no texto, é um deles. O acompanhar de notícias e artigos por outros sites, menos enviesados e mal-intencionados é outro. Ainda sinto muita falta, mas continuo otimista. Obrigado pelas palavras de encorajamento!
É preciso mesmo muita força de vontade! Confesso que já pensei em dar menos olhadas no decorrer dos dias, mas ainda nao consegui! Quem sabe chego lá! Boa sorte! Bjs