Só lembrando: essa é uma revisão detalhada, com spoilers à beça do episódio 2.4 de Westworld. Prossiga por sua conta e risco.
O quarto episódio da segunda temporada de Westworld tem o nome em inglês de The Riddle of the Sphinx ou, em português: O Enigma da Esfinge. Se tem uma coisa que já aprendemos é que o nome do episódio estabelece sua tônica, aparecendo em vários momentos ao longo da trama. Esse episódio não é exceção.
A esfinge é parte de várias mitologias: egípcios, babilônios e gregos, para citarmos os três mais conhecidos, criaram imagens e histórias de esfinges, com pelo menos uma delas sendo de conhecimento amplo no mundo inteiro. Há diferenças nas várias imagens da esfinge, dependendo da cultura, e semelhanças também, claro. O que é comum é o corpo de leão e a cabeça humana. No caso dos egípcios e babilônios, a cabeça é de um homem, enquanto no caso dos gregos trata-se de uma mulher. Gregos e babilônios apresentam a esfinge como tendo asas de pássaro, uma característica que não está presente na esfinge egípcia. Em que pese todas as esfinges serem guardiãs — de templos ou de cidades —, postando-se à entrada e cuidando para que apenas aqueles que são considerados merecedores possam entrar, no caso das esfinges egípcias e babilônias, são considerados seres benevolentes, enquanto no caso grego, são malévolas. Uma questão prevalece: as esfinges propõem desafios para os postulantes a passar por elas e adentrar o templo ou a cidade. Se o desafio é realizado, a passagem é garantida. Caso contrário, a esfinge devora o postulante que falha. Um detalhe importante para esse episódio: é comum atribuir às esfinges a responsabilidade de guardar os mortos.
A história mais conhecida contendo esfinges é a peça Édipo Rei, de Ésquilo. Nessa peça, Édipo se dirige à cidade egípcia de Tebas — onde, ao longo de séculos, desenvolveu-se um culto à esfinge — quando, à entrada, dá de cara com a fera. A esfinge propõe um enigma, lançando as famosas palavras:
Decifra-me, ou te devoro.
O enigma, já conhecido, pode ser traduzido livremente como “Que animal tem apenas uma voz, mas caminha com quatro patas ao amanhecer, duas patas ao longo do dia e três patas ao anoitecer?” Édipo evita a morte respondendo corretamente: trata-se do homem, que engatinha na primeira infância, caminha com duas pernas na maior parte de sua vida, e no fim dela, depende também de uma bengala para se apoiar. Essa imagem da esfinge — perigosa, violenta, mortal — se interpondo entre o “herói” e seu destino, parecerá mais de uma vez nesse episódio.
Contudo, o episódio começa com uma referência bem diferente, e (para mim, em particular) bastante bem-vinda: uma homenagem explícita à série LOST. No primeiro episódio da segunda temporada de LOST, vemos Desmond (ainda sem sabermos quem é ele) iniciando sua rotina diária. Depois de entrar com os números no computador (que impedem a explosão magnética), ele coloca um disco de vinil para tocar (“Make your ouw kind of music”, de Mama Cass), lava os pratos e se exercita. Corta para este episódio de Westworld: vemos um disco de vinil começar os primeiros acordes de “Play With Fire” do Rolling Stones, enquanto a câmera passa por um belo aposento e chega até uma área de ginástica, onde um homem — James Delos, vamos rapidamente descobrir — se exercita em uma bicicleta ergométrica. Os paralelos são gigantescos: ambos são prisioneiros em um bunker, ambos se atêm a uma rotina, ambos estão sós. A rotina de Desmond inclui digitar sempre os mesmos códigos em um computador, a cada 108 minutos. A rotina de Delos — sem que ele o saiba — inclui entrevistas periódicas com seu genro, William, para avaliar o quanto sua mente está estável. Ocorre, como veremos mais tarde, na segunda edição da mesma cena, que não se trata exatamente de James Delos, que faleceu em função de sua doença (ainda não especificada). Os esforços de coleta de material genético, bem como os experimentos com inteligência artificial consciente empreendidos pelo Dr. Ford têm seu propósito revelado — um dos propósitos não revelados de Westworld e da Delos, aliás, é aqui posto às claras. Na breve recapitulação que antecede ao episódio, vemos Ford, em episódio da primeira temporada, comentando com Bernard que logo poderiam ressuscitar os mortos, chamando por Lázaro para que deixe sua caverna. A presença de James Delos, ressuscitado, possuidor de suas memórias e de sua experiência, dono de si mesmo a ponto de não saber que é apenas a reconstrução do Delos humano, mostra que o chamado a Lázaro não está tão longe de ocorrer. Pelo menos até que essa consciência entre em colapso, depois de alguns minutos de conversa com William.
James Delos, o morto ressuscitado, nessa construção faz o papel de Édipo, e William é a esfinge. O milionário deve satisfazer a esfinge se quiser ganhar a liberdade, mas por mais que se esforce, não consegue realizar o feito. Nas situações que observamos, suas funções motoras e cognitivas decaem rapidamente, mostrando que o processo ainda não está aperfeiçoado. O resultado é que a esfinge devora Édipo, ou, no caso, William dá a ordem para que o experimento seja terminado, o que ocorre com chamas consumindo todo o ambiente, com Delos em seu interior.
Vemos essa cena ao longo de vários momentos — separados por anos — no mesmo episódio, sempre com resultados semelhantes. Em um desses encontros, presenciamos a reedição de uma cena clássica de Westworld, ocorrida da primeira vez com William, e sua chegada ao parque. Ele olha para Angela e pergunta “Você é real?”, ao que a anfitriã responde: “Se você não consegue diferenciar, tem alguma importância?” Quando Delos percebe que é uma recriação do original, pergunta a William se eles ainda estão na Califórnia, ao que seu genro responde da mesma maneira: “Se você não consegue diferenciar, tem alguma importância?”
É visível o progresso do Delos ressuscitado, mas, em algum momento, o colapso ocorre. De alguns dias de estabilidade, no início — com William ainda jovem — para mais de um mês no final, com William já em sua persona de Homem de Preto. No fim, ele sempre decai, sempre falha. Somos confrontados, então, com outro mito grego: Sísifo, rei da Éfira, que foi condenado ao Hades (a versão grega do inferno), onde deve empurrar uma pedra em direção ao pico de uma montanha, sem nunca conseguir o intento, pois, antes de chegar lá no topo, a pedra volta a rolar até o ponto de partida, invalidando todo o esforço realizado. Ele está condenado a repetir esse esforço inútil por toda a eternidade. Essa mesma imagem já foi invocada em minha resenha do episódio 1.6, e continua bastante aplicável. Já o confrade Sergio Kulpas lembrou de outra referência fantástica para essa interação entre Delos e William: a cena clássica entre o replicante Roy Batty e o cientista/empresário Eldon Tyrell, em Blade Runner, na qual o Nexus 6, já demonstrando seu colapso fisiológico, pede mais tempo de vida e tem seu pedido negado por conta da incapacidade de Tyrell de resolver os problemas inerentes à constituição dos replicantes.
Uma última possibilidade acerca dessas interações de Delos com William é ainda mais perversa: talvez, já tendo demonstrado a factibilidade do processo de ressurreição, William esteja, ele mesmo, provocando o colapso da consciência de Delos, de forma a não precisar “soltar” seu sogro — sempre poderoso, e agora imortal — de volta ao mundo. A ver.
As imagens de James Delos com o jovem William são entrecortadas por cenas com o Homem de Preto que, juntamente com Lawrence, estão se dirigindo até a vila de Las Mudas, onde a esposa e a filha do anfitrião moram. Ambos passam por uma construção de ferrovia, onde vemos uma repetição da cena que era comum nos tempos do Velho-Oeste: os trabalhadores braçais são chineses, como os que eram “importados” em barcos abarrotados naquela época para esse tipo de serviço pesado. A diferença é que não há supervisores, e que, em determinado momento, os trabalhadores mudam a direção dos trilhos (que deveriam ir para o Norte, mas estão seguindo para Oeste, em direção a Glory. Ah e esses mesos trabalhadores passam a usar anfitriões no lugar dos dormentes, em uma cena no mínimo tétrica.
Ao chegarem na vila, Lawrence e o Homem de Preto são “recepcionados” pelo major Craddock que, no terceiro episódio, foi libertado por Teddy. Os dois recém-chegados são capturados pelo bando de Craddock e levados para a igreja da cidade. Aqui uma homenagem a um velho clássico de Sergio Leone: O Bom, o Mau e o Feio, que tem cena semelhante na igreja da cidade invadida pelos bandidos. Os primeiros segundos da cena inicial na igreja mostra Craddock se dirigindo a uma enorme pintura de Cristo na cruz, o que reforça a imagem bíblica da ressurreição do episódio 2, com ele e seu bando sentados como na Última Ceia, de Da Vinci. Craddock sabe que os habitantes são rebeldes e que têm armas escondidas. Ele as quer, mas Lawrence está ciente de que se revelar onde estão as armas, todos serão mortos. O Homem de Preto não se faz de rogado, e revela onde as armas estão escondidas, fazendo um acordo com Craddock: só o Homem de Preto sabe onde fica o local desejado, Glory, e ele os levará até lá. Craddock mostra toda a sua violência, um anfitrião sem as travas em seu código, agindo muito mais como anticristo do que como o Cristo Ressuscitado e percebemos que isso incomoda o Homem de Preto.
À noite, em meio a uma chuva torrencial, vemos Craddock torturando Lawrence em frente à sua esposa e filhas, e diante também do Homem de Preto. Craddock está convencido de que não pode ser tocado pela morte, uma vez que foi ressuscitado. Ele entrega um copo com nitroglicerina para que a esposa leve a Lawrence, e vemos o que se passa na cabeça do Homem de Preto naquele momento. Ele é levado à memória da morte de sua esposa que, em algum momento no passado, cometeu suicídio, e essa lembrança o faz agir. Aqui, cabe uma pergunta interessante: por que justo essa cena lembrou o Homem de Preto do suicídio de sua esposa? O que vemos aqui é a expressão da violência de um anfitrião causando horror a uma família, que assiste impotente. É provável que o suicídio da esposa tenha sido provocado por algum ato brutal de William, e que sua ação para salvar Lawrence (o que ele faz com frieza e precisão) é uma reação àquela tragédia provocada e vivida por ele. Craddock não percebeu que sua jornada em direção a Glory o colocava na posição de Édipo em direção a Tebas, com o Homem de Preto sendo a perigosa esfinge. Craddock se gabava em dizer que a morte não tinha poder sobre ele, mas não percebeu que a morte o encarava o tempo todo, sob o olhar do Homem de Preto que gritava em silêncio “Decifra-me ou te devoro.” Craddock e seus homens foram devorados pelas balas do Homem de Preto justamente por serem incapazes de decifrar o enigma.
Na manhã seguinte, a esposa de Lawrence agradece ao Homem de Preto, e quando a filha do anfitrião se põe à sua frente, rapidamente percebemos que se trata da consciência de Ford falando pela boca da menina. “Eles podem não se lembrar, mas eu conheço você Robert. Uma boa ação não vai mudar isso”, afirma Ford. “Quem falou que era uma boa ação? Você queria que eu jogasse seu jogo, e eu vou jogá-lo até o osso”, responde o Homem de Preto, tentando se esconder das memórias que impulsionaram suas ações na noite anterior. Antes de voltar a ser a menina, ouvimos mais palavras de Ford: “Você ainda não entende o jogo que estamos jogando. Se você está olhando para frente, está olhando para a direção errada.” Essas palavras reforçam o enigma proposto no primeiro episódio pelo menino Ford: “O jogo começa onde você termina e termina onde você começou.” O Homem de Preto (e todos nós) pensamos no começo de Westworld, e o Homem de Preto certamente está pensando no começo de “Glory”, quando ele levou Dolores para ver o que mais tarde consideraria seu maior erro. A consciência cibernética de Ford está vendo tudo isso, e percebe o erro dele — o nosso erro —, mas não pode nos instruir mais, sob pena de influenciar o jogo.
Deixemos, por enquanto, o Homem de Preto e Lawrence, e vamos encontrar Clementine ainda na versão Zumbi-Terminator, arrastando Bernard pelo deserto e largando-o, sem dizer uma palavra, em frente à entrada de uma caverna. Ele entra e encontra uma velha amiga, há muito desaparecida: Elsie, presa por uma corrente. Para lembrar: Elsie é funcionária do parque, e havia sido sufocada por Bernard quando ameaçava descobrir alguns dos segredos de Ford. Muitos acreditavam que ela estava morta, e muitos outros, não. Bem, ela não está morta, e se assusta ao ver Bernard. Ele solta a moça, que tenta se afastar dele, mas ao entender que ele é, de fato, um anfitrião e que estava sob o controle de Ford, decide mantê-lo por perto, já que ele parece saber o que está acontecendo (pelo menos, mais do que ela).
Bernard recupera a memória de entrar na caverna e descobre o mecanismo que aciona um elevador. Ambos descem ao laboratório secreto onde o James Delos ressuscitado estava sendo testado. Na última visita do Homem de Preto, ao invés de terminar o experimento (destruir o quarto e o Delos defeituoso), o Homem de Preto — por pura perversidade disfarçada de curiosidade científica — decide deixá-lo vivo para ver como se dá a deterioração. Quando Elsie e Bernard chegam, o que veem é destruição. Bernard se lembra de ter sido ele o provocador das mortes dos cientistas ali alocados, por meio dos anfitriões drones, que em seguida se autodestroem. A única criatura viva no laboratório (além de Bernard e Elsie) é o próprio Delos que, ensandecido, tenta arrancar o próprio rosto antes de ouvir os dois intrusos. Ele tenta atacar Elsie, mas é dominado por Bernard. Suas palavras, nessa cena, são prá lá de significativas:
“Eu consigo enxergar tudo, até o fundo. Quer ver o que eu vejo? Eles disseram que havia dois pais: um acima, outro abaixo. Eles mentiram. Havia apenas o Diabo. E quando você olha para cima, do fundo, é apenas o reflexo dele rindo de volta para você.”
Não é novidade que Ford se fazia de deus no universo dos anfitriões. Não é nada difícil perceber que o “brincar de deus” dessa temporada atinge um nível mais profundo (e mais perigoso) quando a Delos tenta ressuscitar seu fundador e, de quebra, atribuir-lhe a imortalidade. Mas o que Delos vê não é a presença de Deus, mas sim o inferno na mais pura acepção da palavra. Não tendo sido destruído ao final do experimento — o experimento de número 149, diga-se de passagem — ele sabe que não tem a menor possibilidade de ser libertado. Sabe ainda, pelo diálogo com o Homem de Preto, que, por mais que o experimento venha a ser um sucesso, não é ele quem vai colher os benefícios, estando condenado ao sofrimento que vive. Não, para James Delos (ou o que restou dele) não há Deus, mas apenas o Diabo e o inferno que ele traz consigo.
Bernard se lembra que o que ele foi fazer anteriormente naquele laboratório (antes de o destruir inteiro) é algo de potencialmente explosivo: a mando de Ford, ele foi imprimir uma unidade de controle (leia-se um cérebro artificial) para “outra pessoa”. Ele não sabe quem é, mas antes de partir nós o vemos lembrar que ele realmente imprimiu a tal unidade e a levou consigo. Não saberemos quem é, pelo menos até o próximo episódio (se tivermos sorte). A especulação óbvia ululante é que se trata de Ford, mas é no mínimo precipitado dizer — como o fazem alguns teorizadores das redes sociais — que “está confirmado” que se trata do idealizador de Westworld.
Nesse episódio, ainda reencontramos Grace, a moça misteriosa que no episódio anterior escapou de um tigre do Rajworld para ser capturada pela Nação Fantasma. Ela é presa e dá de cara com outro personagem que muito nos interessa: Stubbs. Desde o fim da primeira temporada muito se tem especulado sobre o paradeiro do chefe da segurança de Westworld, e as especulações só aumentaram quando ele apareceu vivo e bem junto do grupo de Strand, na praia. Em sua conversa com Grace, descobrimos que os índios estão juntando os humanos, mas não os estão matando. Ela foge quando todos são arrebanhados em frente ao “primeiro”, o índio Akecheta. Quando, na sequência, Stubbs é solto, podemos perceber que os índios estão, na verdade, protegendo os humanos. Isso nos remete à cena do terceiro episódio em que os índios tentaram levar Sizemore. Eles sabiam que estar junto de Maeve e Hector coloca o humano em perigo e sua intenção era salvá-lo. Sim, isso é só uma teoria, mas faz mais sentido que qualquer outra coisa, uma vez que de fato soltam Stubbs. Aliás, a cena final de Stubbs tem toda a atmosfera de um encontro com a esfinge. Akecheta sussurra o enigma em seu ouvido: “ Você vive apenas o tanto que a última pessoa que se lembra de você.” Essas palavras são um tanto estranhas, pois nos remetem às culturas indígenas e asiáticas de culto aos ancestrais. Os espíritos dos ancestrais já mortos, segundo essas culturas, sobrevive enquanto forem lembrados. Recentemente a Pixar lançou um desenho animado em 3D que explora justamente esse conceito: Viva, a Vida é uma Festa, em que um garoto vai à terra dos mortos e descobre que os espíritos de quem ninguém se lembra desaparecem para sempre. A pergunta aqui é óbvia: por que essas palavras — que deveriam ser direcionadas a um espírito — são ditas a Stubbs, que está vivo? Suspeito que esse seja o enigma proposto a Stubbs, que terá que respondê-lo em algum momento futuro. Por hora, a esfinge, isto é, a Nação Fantasma, deixa-o no meio da noite.
Reencontramos o Homem de Preto, Lawrence e seus primos — cooptados para seguir em direção a Glory — no meio de uma ravina, cavalgando em direção ao pôr-do-sol. Ao seu encontro, como se estivesse saindo da própria estrela, uma cavaleira se aproxima. A princípio, pensei que fosse Dolores, e qual não foi minha surpresa quando quem se apresentou foi Grace. Algumas teorias foram comprovadas com suas palavras, direcionadas ao Homem de Preto, no momento em que o episódio terminava. Temos aqui Grace/esfinge se interpondo entre o Homem de Preto/Édipo e Glory/Tebas. O enigma não poderia ser mais surpreendente: “Olá, papai.”
Ah, e como se fosse uma vingança do Homem de Preto por ter sido excluído do episódio anterior, não tivemos nem sinal de Dolores ou de Maeve.
Música da semana na pianola: Não tivemos, mais uma vez, e acho que esse elemento vai ficar, de vez, no passado. Mas tivemos duas músicas muito importantes no contexto do episódio: “Play With Fire”, dos Rolling Stones, é a primeira. Nessa música, o narrador afirma que a moça com quem conversa é rica e poderosa, mas que não deve brincar com ele, pois isso equivale a brincar com fogo. É uma metáfora perfeita para a situação do James Delos Ressuscitado, que pode ser poderoso quanto quiser, mas brincar com William é brincar com fogo, como ele descobre — literalmente — ao longo da sequência. A segunda é “Do The Strand”, do Roxy Music (cujo principal elemento era Brian Ferry, que depois fez sucesso em longa carreira solo). A música é um chamado a “chacoalhar o esqueleto”, e é usada para mostrar que o velho Delos ainda é fisicamente ágil (ainda que não tenha jeito para dançar). Em ambos os casos, é interessante notar, as músicas são tocadas em discos de vinil cujo selo é um labirinto circular, bem à moda de Westworld.
Teoria (nada) descartável da semana: Ford está morto, mortinho da silva, canelas esticadas, de paletó de madeira e todas as expressões encontradas no sketch do papagaio do Monty Python. Se estivesse vivo, Strand teria exclamado algo na linha de “Olha, é apenas um anfitrião do Ford! Rápido: procurem-no!” ao invés de fazer uma piada sobre ele achar que o pior de seu dia seria ter sido despedido. Infelizmente, isso não vai impedir que muitos fãs continuem se portando como o dono da loja de animais no sketch do papagaio do Monty Python.
Meu, eu nem sei explicar como eu gostei desse episódio. Eu jamais pensei que um episódio sem Maeve e Dolores pudesse ser tão bom. Eu gostei tanto como ele foi montado, desde a primeira cena. Ele teve uma edição tão diferente e cuidadosa! Eu adoro esses começos bizarros que você começa e fica pensando "nossa, que série mesmo que eu estou vendo?". E ficaram tão legais as transições de cenas, as passagens entre os tempos diferentes. Que atuação brilhante a do Peter Mullan, mas que destino triste! Adorei também o retorno da Elsie. Estou curioso para saber de quem é a "unidade de controle" que o Ford mantou o Bernard imprimir no laboratório. O óbvio é sugerir que seria para o próprio Ford, mas talvez a série fuja das obviedades. Adorei também sua análise! Genial contextualizar as diferentes versões do mito da esfinge e conectar com quase todas as cenas do episódio. Fantástico mesmo! Quero muito saber mais sobre a Nação Fantasma. Acho que a frase que o Akecheta diz ao Stubbs tem a ver com a quebra do ciclo da vida, com o enigma da esfinge. O Homem quer viver para sempre, mas como William descobre, a eternidade pode ser uma condenação. De que adianta você viver se ninguém se lembra de vc? A vida só faz sentido se alguém se lembra de vc, se vc tem importância para alguém. É isso, amigo! Abração! E parabéns mais uma vez
Olá! Parabéns pelas análises. Gostaria apenas de acrescentar a presença da ampulheta na primeira visita de William em que a areia estava escorrendo. Na última visita, no momento em que Delos a arremesa contra a parede, o tempo já havia terminado. Ainda não consegui elaborar muito sobre isso, mas gosto da simbologia que ela propõe. Grande abraço!