Final de ano chegando. Mais um se vai e mais outro que chega. A sensação de “correria de final de ano” é geral. Olhando assim, dá a impressão do mesmo filme repetindo-se a cada virada. Os mesmos anseios, as mesmas reclamações, as mesmas promessas, a mesma pressa.
Posso dizer que esse ano que acaba foi um dos mais acelerados para mim. Já não sei mais se eu entrei num furacão ou se eu o provoquei ao meu redor. Seja como for, meu aprendizado veio em uma frase que simplesmente escapou-me numa das sessões com minha coach: “Acho que tenho que ir mais devagar para chegar mais rápido”. Foi como o escapar de um suspiro. Não senti que havia refletido antes de proferir esse que será meu lema para 2017.
Tenho mania de aceleração, e isso não é de hoje. Isso se traduziu em joelhos ralados na minha infância, na impaciência durante minha adolescência e nos incidentes de trânsito em minha juventude. Ainda bem que a vida ensina, não? Agora, mais madura, percebo a importância de lidar melhor com a velocidade; seja no caminhar, seja no pensar.
A pressa é atabalhoada, nada confiável. Sei que se trata de uma sabedoria popular: “A pressa é inimiga da perfeição”. Só que não estou querendo alcançar a perfeição. Quero apenas chegar sem me perder pelo caminho. E a pressa pode nos fazer esquecer a rota certa.
A palavra pressa carrega o DNA do aperto, do incômodo, da pressão. Ela vem do termo latino pressus que, por sua vez, é particípio passado do termo premere. A meu ver, a pressa tem sido disfarçada pela bela roupagem da agilidade, da eficácia e da destreza. A habilidade de equilibrar dezenas de pratos sobre finas varetas, todos ao mesmo tempo, tem sido tradução da imagem de pessoa eficiente. A metáfora da troca de turbinas em pleno voo é sinônimo de perícia.
Posso até concordar que equilibrar muitos pratos, de uma só vez, e trocar turbinas em pleno voo sejam atividades que exigem agilidade, eficácia e destreza. No entanto, estes podem ser ótimos exemplos de números circenses, mas são inadequados ao tratarmos da vida cotidiana.
A sensação da pressão temporal tem sido bastante generalizada. “Parece que foi ontem a comemoração da entrada de 2016…” Quem não tem essa sensação? Você diria que não tem? “Ual, passou voando!” O tempo está apressado. O tempo nos pressiona. Ficamos ansiosos, tentando encaixar os mais diversos compromissos em uma grandeza que é pequena demais.
O cotidiano exige que levantemos apressados, que nos limitemos a um gole de café, que cheguemos rápido ao trabalho, que sentemos logo à mesa e que consigamos dar conta de um cronograma tão apertado quanto o próprio coração.
“Puxa, que bom! O ano já está acabando.” Só que outro ano, apressadinho também, já está chegando. E então? “Começar de novo…”
Você pode me achar um tanto quanto pessimista. Na verdade, minha intenção é “caricaturar” uma realidade tão comum a muitos. Essa realidade tem trazido números assombrosos nas estatísticas sobre crises de pânico; cardiopatias; depressão e estresse.
O que fazer? “Pare que eu vou descer!” Acho que não precisamos abandonar a viagem. Como declarei, no começo deste texto, talvez devamos apenas desacelerar. Respirar lentamente pode nos levar a chegar mais rápido, pois não ficaremos sem fôlego no meio do caminho. Cadenciar passos firmes rumo a um foco claro e coerente com aquilo que realmente acreditamos. Ouvir o que deve ser ouvido. Falar o que deve ser falado. Otimizar nossa própria vitalidade, pois ela é vulnerável à pressa.
Seja qual for a solução que daremos para domar nossa pressa, estou certa de que chegaremos mais rapidamente sem ela!
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