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Homepage > Categorias > Crônica > Despedida da dor
06/06/2020  |  By Daniela Vitor In Crônica, Literatura

Despedida da dor

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A luz laranja entrava na sala, cinco da tarde de sei lá que dia da tal quarentena. As máscaras contra o vírus na cara, e as demais máscaras caindo uma a uma.

A boca amarga do último café dizia que era hora de descanso da mente, do coração, da alma. Mas a alma de guerreira não se dava por vencida até que fosse feita a última entrega do trabalho. Era uma escolha de permanecer viva, de ter seu coração intacto, apesar de destroçado. Entre o gosto salgado das lágrimas e o amargo do café, muitas palavras a serem revisadas se misturavam às notas de melodia da fé, que a rodeavam e embalavam com tanto carinho nesses dias tão estranhos e difíceis.

O amor tinha toda capacidade de ser para sempre, mas foi degolado e agora precisava ser enterrado, sepultado. Não por escolha, mas justamente pela falta dela. Era isso ou a morte da esperança no amanhã. Era isso ou um arrastar eterno de correntes de uma alma desiludida de tristeza. Tudo são escolhas. E quando a essência é de tanta alegria e amor, não cabe a escolha de uma tristeza sem fim. Escolheu que seria feliz de novo. E de novo. E quantas vezes fossem necessárias.

Como mulher destemida que sempre foi, não restava outra alternativa que não fosse a dignidade em aceitar, enterrar, chorar seu luto, reunir seus cacos, se refazer e seguir plena. Um dia de cada vez, com muitas orações em todos os minutos em que respirava. A dor, inevitável companhia desses momentos inesperados, rasgava o peito num tom silencioso e dramático. A falta, atual, de crença no amor tinha um som triste e um ar repugnante. Apesar disso, a certeza de que nada é por acaso acabava por trazer aconchego ao peito, com sabor todo delicado de erva cidreira. A cura vem muito do enfrentamento. Ninguém se cura ao fugir ou fingir. A alma se restaura quando há luta serena e persistente. Viver é a necessidade de lutar sem armas, vencer pelo amor, usando de escudo a fé.

Não fosse a crença tão intensa no desconhecido, talvez se perder no vazio fosse inevitável. Mas é muita garra que corre no sangue. É muita fome de vida que arde o olhar. E é muita nobreza de amar que preenche tal coração. À espera de uma fase que traga paz e calma, continua absorvendo todo laranja que o sol deixa quando se vai. É como se fosse um lembrete de Deus, dizendo que amanhã será um novo dia.

Que pelo menos traga mais paz. Que ao menos costure os pedaços, já tão cansados de insistir em vão. Que a luta agora seja no silêncio dos que se resguardam numa fé mais complexa sobre a vida, sobre a morte e sobre a aceitação de ambas. Tudo e todos morrem, mas só porque há vida. E se a vida existe, nela creio que possa residir a paz, o amor e a esperança.

Que toda dor cinza seja transmutada e vire purpurina sorridente. A vida sempre será um grande Carnaval, portanto, que venham as cores.

É isso e é só.

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