Conta-se que…
Desejando encorajar o progresso de seu jovem filho ao piano, a mãe levou-o a um concerto de Paderewski. Depois de sentarem, a mãe viu uma amiga na plateia e foi até ela saudá-la. Tomando a oportunidade para explorar as maravilhas do teatro, o pequeno menino se levantou e, eventualmente, suas explorações o levaram a uma porta onde estava escrito “Proibida a Entrada”.
Quando as luzes abaixaram e o concerto estava prestes a começar, a mãe retornou ao seu lugar e descobriu que seu filho não estava. De repente, as cortinas se abriram e as luzes caíram sobre um impressionante piano Steinway no centro do palco.
Horrorizada, a mãe viu seu filho sentado ao teclado, inocentemente, catando as notas de “cai-cai balão”. Naquele momento, o grande mestre de piano fez sua entrada, rapidamente foi ao piano, e sussurrou no ouvido do menino:
“Não pare, continue tocando”.
Então, debruçando, Paderewski estendeu sua mão esquerda e começou a preencher a parte do baixo. Logo, colocou a mão direita ao redor do menino e acrescentou um belo acompanhamento de melodia.
Juntos, o velho mestre e o jovem noviço transformaram uma situação embaraçosa em uma experiência maravilhosamente criativa. O público estava perplexo.
Não, eu não sei se a história é real ou uma linda fábula. De qualquer forma, o que importa? Tocou-me o coração.
Será mesmo que a humanidade já é mestre de seus feitos? Ou estamos apenas dedilhando um cai-cai balão? E se formos noviços a serviço da vida, onde estaria nosso velho mestre? Se ele realmente existe, por que temos a impressão de que tocamos sozinhos?
Vivemos tempos tumultuados em que nosso dedilhar é estridente e confuso. Cada um de nós tem agredido as teclas da própria vida de tal forma que nem mesmo um concerto de aprendizes tem sido produzido, mas um desconcerto violento e caótico.
Como crianças ansiosas, tentamos tocar uma Quinta de Beethoven antes mesmo de conseguirmos dominar nosso cai-cai balão. E, tão ambiciosos pela evolução imediata, não nos damos conta de um mestre que nos suspira aos ouvidos: “Cadê seu coração de menino?”
É, são tempos difíceis, principalmente para nós brasileiros. Quem sabe não vale a pena nos entregarmos ao nosso cai-cai balão, dedilhando com corações de meninos e permitindo que o nosso mestre interior se debruce sobre nós e transforme o catar de notas em um concerto harmônico?
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