Era fim de ano na nova terra, onde toda neve caía feito gotas de amor, gelado e acolhedor. O sorriso era certeiro nessa época do ano, as mãos leves escreviam toda uma história que teimava em acontecer, folha após folha, de tanto que servia a muitas almas ao mesmo tempo. Tantos livros publicados, tantas viagens para o lançamento de cada um deles, todas envolvidas num carinho carismático sem igual de gratidão. Um público diversificado e autêntico, tal qual a autora dos livros, que marcava forte presença em todas as formas possíveis de encanto pela escrita dela.
A xícara de chocolate quente afagava os dedos carentes da lembrança de um afeto caloroso e único. Olhava pela janela, tudo branco de neve, colorido de luzes natalinas. Famílias inteiras, da pequena rua onde morava, saíam e comemoravam juntas o novo tempo. As crianças deitavam no chão e gargalhavam ao abrir pernas e braços num movimento contínuo até que se formassem anjos na neve. A fumaça da bebida esquentou as bochechas rosadas e gélidas. Olhou em volta e chorou de emoção. O sonho, mais vivo que nunca, acontecia dia após dia, da forma mais terna e doce que poderia acontecer. Os filhos organizavam os últimos enfeites, num tom de alegria todo organizado, digno de filme melado e romântico de cinema. Olhou novamente pela janela e viu o marido chegar com a família toda, que passaria um bom de tempo de férias com eles. A felicidade rompeu a porta num estado todo elucidativo da comoção de um amor sem fronteiras, sem barreiras, sem limites.
Os abraços não findavam, os beijos eram intermináveis, as mãos não se largaram por todo o infinito em que os olhos se reconheciam novamente. As lágrimas eram absolutamente necessárias. Não há distância, afinal, para o amor real. O apego faz pensar que sim, porque isso alimenta o ego, que gosta mesmo de um drama digno de novela mexicana. Entretanto, a alma é sábia e sabe, como ninguém, que amor faz estar perto, mesmo que o mundo físico diga que não está.
Desde que resolveram se aventurar em terras distantes de seu país de origem, a ansiedade boêmia da saudade castigava os corações corajosos. A alma não, essa estava e sempre esteve em paz. Acontece que ser humano é bicho estranho e, justamente por isso, era preciso alinhar espírito, mente e corpo, dia após dia, para viver a presença, sem sofrer pela ausência. Porque ausência não existe para os que amam. Por onde quer se ande, as presenças amorosas acompanham, enfeitam e dão colo. Beijam a face, sempre a espera do afago gentil, forte e contemplativo do amor. Sempre foi assim e sempre será.
A mesa farta, os corações aquecidos e o amor como alimento principal. O nascimento da vida havia apenas começado. Muitas histórias ainda confirmarão toda trajetória traçada até então. Há que se confiar e caminhar. Há que se caminhar e amar. Há que se amar e viver. Porque só se vive mesmo é de amar, meus caros.
É isso e é só.
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