O nada absoluto em que vive hoje faz parte de um tudo inimaginável ainda. A possibilidade de uma certeza nova, vem cada vez que o céu muda suas cores, formatos e desejos. Sempre o mesmo céu, mas nunca o mesmo.
O cheiro de café pronto se alia ao cheiro de pele saída do banho, daquelas misturas que acontecem numa manhã de domingo qualquer. Poderia ser terça-feira, não importa, ela agora vive o frescor do domingo todos os dias. Escolheu que todo dia tem cheiro de sábado e ânimo de feriado. Há tudo a ser feito, nada certo, um vazio repleto de sinceridade enfadonha de tão meiga. Sua doçura escorre pelo sorriso tenro e é absorvida pela gota de café amargo, que lhe borra a bata branca e leve.
Hoje seu escritório é a varanda, pés para cima. Óculos estreitos, charmosos e vermelhos, dão início aos trabalhos daquele dia sem nome. Os últimos tempos foram tempestuosos a ponto de não permitir que seu coração trabalhasse sua sorte, seu destino. Tudo estagnou por um período. Não há tempo cronológico, pois foi o tempo de dentro dela. Na verdade, seu coração tirou folga. Era a vez do Universo fazer suas reuniões e apresentar suas decisões para os próximos projetos. Ou a falta deles, ou ainda a mudança de todos eles.
A entrega a este gestor de vida, o Universo, é bem determinada pelo cheiro da arruda. E tem a lembrança refrescante de um chá gelado de capim santo com limão. Natural, saudável e marcante. Foi tanta energia, tanto tempo gasto num controle de algo que não se controla, que agora ela estava de férias dela mesma. Uma decisão tomada às pressas, antes que os últimos vestígios de sanidade particular se esvaíssem para sempre. O que se controla, afinal? Nada real.
A bênção da dor foi transmutada no portal da nova era, da nova vida, da nova pessoa nela mesma. Bárbaro notar como sempre renasce mais bela, mais forte, mais madura, mais autêntica do que nunca. E somente aí, e finalmente aí, as últimas amarras de controle viraram pó. Doeu muito. Há um momento de desespero antes da entrega, uma última tentativa de não mudança. Normal. Só que era tarde demais, não se volta atrás num caminho denso de evolução como o dela. Nunca. E ela foi corajosa o bastante para encarar isso, mais uma vez.
Livre das amarras do controle, enfim notou a imensa possibilidade de trabalhos a serem desnudados, de vida a ser saboreada, de paz merecida a ser aproveitada. Tudo com aquele gostinho de férias eternas da dor. O caos está instaurado, é fato, mas, mesmo assim, seu coração agora está repleto de paz. Não tem volta. E ela viu todas as coisas, nela e dela, que ficaram por fazer enquanto ela estava instalada, equivocadamente, no território do controle.
O notebook aberto, tela branca com cursor piscando. Secou o café caído no sorriso amargo e saudável. Se aproveitou da doçura do céu e fincou os pés no presente. Muito trabalho a ser feito, tudo a ser escrito, descrito, vivido. Só dentro dela, começa, enfim, sua nova história novamente. O que há de ser fora? Eu não sei. O fora não pertence a ninguém. Que seja.
E seguiu seus dias, assim como o céu: sempre a mesma pessoa, mas nunca a mesma.
Parabens......trabalho casa vez mais apurado.
Muito obrigada, Pai amado! Amo você, grande beijo!
Adoro !!! Bjs
Mito obrigada, Cione querida! Beijão!