Nos últimos tempos, tenho me sentido como que engolida pela minha própria vida. E, conversando com várias pessoas, desde amigos, colegas de trabalho e até desconhecidos, parece-me que se trata de uma sensação quase unânime.
A correria diária que me faz esquecer o que acabei de combinar com alguém para o dia seguinte; a correria semanal que simplesmente deleta meu final de semana; a correria mensal que me impulsiona a reduzir o ano a uma contagem de 12 minúsculos intervalos de tempo; a correria anual que me impede de tirar férias acima de 20 dias.
Você pode estar com a impressão de que sou pessimista ou até mesmo uma pessoa infeliz. Mas, na verdade, gosto demais do meu trabalho e dos compromissos que tenho assumido. A questão é que estou com dificuldade de lidar técnica e emocionalmente com minha agenda. Ao checar meus afazeres no dia a dia, demonstro sempre as mesmas reações: sudorese, boca seca, frio no estômago e coração acelerado. Ao me deparar com meus compromissos diários, uma verdadeira orquestra fisiológica entra em ação.
Talvez essa experiência, tão cotidiana para mim, tenha me levado a interessar-me pela neurobiologia das emoções. Foi durante minhas andanças pelo YouTube, que eu conheci o Prof. Pedro Calabrez – pesquisador do Laboratório de Neurociências Clínicas (LiNC) da Escola Paulista de Medicina da UNIFESP. Em um de seus vídeos ele descreve o que acontece com nosso corpo quando surge uma emoção.
[arve url=”https://youtu.be/SUAQeBKiQk0″ align=”center” description=”o que são emoções”]
No vídeo, o Prof. Calabrez pede para você imaginar que está em uma praia paradisíaca do Caribe. É primavera e o sol está agradável. Assim, você resolve dar um mergulho naquelas águas de um azul intenso. Lá no fundo do mar, mergulhando, vem um cardume de peixes em sua direção. E, do meio desse cardume, de repente, sai um tubarão branco: cara a cara com você. Seu cérebro, então registra a informação: tubarão!!!
Sabe o que acontece, a partir daí? Inicia-se a coordenação de um programa de ações muito complexo que vai recrutar seu corpo inteiro para uma série de atividades. Suas pupilas dilatam; sua boca fica seca; altera-se o funcionamento do estômago; o intestino para de peristaltar e, se necessário, libera imediatamente o que estiver acumulando. Todo o sangue do seu corpo é redirecionado. Os vasos começam a se comprimir e dilatar. O percurso sanguíneo é desviado para locais prioritários, como por exemplo os grandes músculos. Daí, o frio na barriga, a palidez na face. Além disso, adrenalina e cortisol são secretados e jogados à corrente sanguínea, aumentando a frequência cardíaca e fazendo com que o coração bata mais rápido, atingindo maior eficiência cardíaca.
No cérebro, hormônios e neurotransmissores vão ativar todo um circuito que vai fazê-lo ficar hipervigilante (você jamais dorme quando tem um tubarão à sua frente). Você também ficará hiperfocado, ou seja, não há chance de se ter déficit de atenção quando há um tubarão à sua frente. Seu cérebro também fica negativamente enviesado, ou seja, hipersensível a qualquer coisa negativa e ameaçadora que esteja ao seu redor.
Uau! Que processo longo e complexo! Só que não. Ele se dá em menos de meio segundo!!
Então, o Prof. Calabrez explica que emoções são programas de ação coordenados pelo cérebro que gerencia a alteração em todo nosso corpo. O processo por trás de uma emoção envolve desde ações microscópicas como a secreção de hormônios ou de neurotransmissores. Ações um pouco mais complexas como movimentação das vísceras. Ou, mais complexas ainda como nossos comportamentos: fugir ou lutar, no exemplo do tubarão.
Afinal, para que serve tudo isso? Conclui-se que a natureza desenvolveu todo esse sistema para que estejamos preparados instantaneamente diante de qualquer perigo: sem perda de tempo, de forma ágil. Assim, a emoção gera comportamentos biologicamente vantajosos diante de necessidades imediatas.
Isso demonstra que a emoção é automática, ou seja, não temos controle sobre ela. Caso nos deparássemos com um tubarão, não teríamos como ordenar aos nossos intestinos: continue peristaltando porque está tudo sob controle! Do ponto de vista de nossa sobrevivência, seria péssimo tentarmos ser racionais numa situação dessa…
Creio que você já tenha entendido o que a explanação do Prof. Calabrez me fez concluir, certo? A massa cinzenta que se aloja em minha cabeça está disparando um alarme equivocado. Afinal, minha agenda não é um tubarão.
O que fazer então? Já que ficou claro: não temos controle sobre nossas emoções.
Talvez, quem sabe, eu deva apelar para a Programação Neurolinguística (PNL) que nos ensina a reprogramar equívocos na linguagem de nosso cérebro. Ou seja: tenho que me antecipar ao tal do alarme e mudar o comando registrado em meu cérebro. Assim como nas expressões matemáticas, talvez eu deva digitar na minha tela cerebral: agenda = roteiro para um dia de sucesso.
Segundo o que eu compreendi da neurobiologia das emoções, essa nova fórmula fará meu cérebro disparar uma orquestra fisiológica cujo o tom emocional será a motivação.
Viu como é simples? Tão exato como as leis físicas!
Está bem. Estou sim sendo sarcástica… De qualquer maneira, vou tentar esse procedimento e depois conto os resultados aqui no Confrariando. Até lá!
Pingback:Neurônios apaixonados | Confrariando
[…] sim. Você deve se lembrar do meu texto cujo título era “Calma! Não é um tubarão” (http://confrariando.com/calma-nao-e-um-tubarao/). Nele, eu explicava um pouco a neurofisiologia do […]
Pingback:A Serpente e a Mariposa | Confrariando
[…] cheguei a essa conclusão? Eu fiz uma associação às ideias-base daquele meu texto intitulado Calma! Não é um tubarão. Nossas emoções podem irromper de nosso inconsciente, muitas vezes, para nos proteger quando não […]