Durante o processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, era comum o pessoal contrário à deposição argumentar que havia muita gente “do lado de cá” que também merecia ser expurgada do cenário político. A resposta — minha e de muitos que defenderam a defenestração de Dilma, invariavelmente era algo na linha de “Manda bala! Pode pôr para fora todos os corruptos, pois não tenho político de estimação.”
Aécio? Sim, votei nele, e quero mais é que ele seja preso.
Alckmin? Opa, votei também, e também pode mandar para a cadeia.
FHC? Claaaaaro que votei nele. Uma vez com gosto, outra a contragosto. E pode prender, também, sem problema nenhum.
Não havia um que não fosse recebido com a mesma medida: é corrupto? Pode pôr no xilindró sem dó.
Passado o impeachment, a sanha justiceira de muitos feneceu, e mesmo quando surgiram indícios de que Temer devia bem mais que Dilma, muitos foram os que substituíram a sede de justiça pelo “Deixa o homem trabalhar!”, o que por si só é absurdo. Poucos de nós continuamos afirmando que o mesmo pau da Lava-Jato que batia no Francisco Lula deveria bater nos Chicos Renan, Jucá, Aécio e tantos outros. O foro privilegiado não ajudava, claro, mas a indignação continuava lá.
Outros políticos entraram no cenário, como no caso de João Dória, e muitos dos que gritaram contra Dilma se apaixonaram pelo empresário paulistano, abraçando seu carisma e sua vontade de acordar às 5 horas da manhã. O monte de irregularidades, promessas quebradas, mais do mesmo e o escambau cometido nos dois anos de seu governo passaram em branco pelos que antes não tinham políticos de estimação. Mais do que rapidamente se livraram do senso crítico que lhes permitiu enxergar os abusos de Dilma que nos ameaçavam de levar para a Venezualização, e abriram um espacinho em seu coração para o “Dorinha” (“Que gracinha, né? Tão fofo…”).
Os partidários do PT jamais se livraram de seu santo padroeiro do “Nunca antes na história desse país”. Seu político de estimação sempre foi, é, e sempre será o ex-presidente Lula, e que o senso crítico vá para as favas. A incapacidade da esquerda de enxergar a dilapidação provocada na ética, nos valores, na economia e em tudo mais em que tocaram criou o efeito de repulsa que possibilitou — acolheu de bom grado — a situação que vivemos hoje.
Lá de longe, dos cantos mais escuros e medíocres da Câmara dos Deputados, surgiu Bolsonaro. Tacanho, ineficiente, desprezível, preconceituoso. Pregando — de longa data — a inutilidade da democracia, espalhando o discurso de ódio.
E os que rejeitaram os políticos de estimação na época do impeachment, abriram os braços e compraram tudo do bom e do melhor na Cobasi para o novo bichinho que tomou de arroubo seus corações.
Homofóbico assumido? Não tem problema, essa história de politicamente correto tá ultrapassada.
Racista contra os quilombolas? Tá certo, vagabundo tem que trabalhar.
Parcial ao retorno da ditadura? Que ‘que tem? Na última, quem era trabalhador e do bem não sofreu nada.”
Recebeu 200 mil de propina da JBS e fingiu que estava tudo bem porque lavou a grana nos cofres do partido? Corrupto é o PT! Bando de ladrões!
Ameaças e ataques contra homossexuais? Ah, mas tem esse ataque aqui acontecendo também, e mesmo que a bandeira tenha sido photoshopada e que o ataque tenha dois anos e não tenha nada a ver com o que está acontecendo agora, não interessa.
Fake News adoidado sendo espalhado pelo WhatsApp? Não importa, vou continuar espalhando, pois mesmo que não seja verdade, os petralhas são mesmo capazes de fazer esse tipo de coisa.
E por aí vai.
E quando alguns levantam alguns dos pontos acima, não importa o que você tenha dito antes: é petralha, comunista, vagabundo como os demais, mesmo que você tenha passado os últimos vários anos malhando a corja do PT e o canalha do Lula. Quem não está com o B17, está contra o B17. Pensamento crítico é coisa de comunista, o B17 vai pôr fim nessa bagunça, pode esperar.
Em suma, o “Não tenho político de estimação” ficou pela estrada faz tempo. Nem se importaram que, a coleira que compraram, eles mesmos correm o risco de usar. E daí?
Tenha um ótimo dia, seu verme vermelho! kkkkkkk Olha o DOPS! kkkkkk Por enquanto, vamos rindo porque é o que ainda dá para fazer. Ah! Vc é gay, quilombola, índio, camponês, do MST, de esquerda, discute na rua? Aguenta ficar calado por anos, seguindo a vida normalmente enquanto alguns serão mortos em nome do Mito? Então, será só mais um governo com alguns retrocessos. Nos vemos em 4 anos com outro salvador da pátria. Ciro? PT de novo?
Uma pequena correção, Jaylei: "Se tivermos sorte, nos vemos em 4 anos com outro salvador da pátria." Porque não há garantias que em 4 anos teremos outra oportunidade de escolha.
Só hoje li a tua resposta! Ruy, vc é muito pessimista, está precisando migrar para a extrema-direita que sabe como consertar o mundo.