Eram tempos secos e complexos, dentro e fora de mim. A paisagem sempre disposta a virar foto de rotina de beleza, estava mais árida que nunca. Pairava uma poeira escandalosamente gélida de acontecimentos, num céu absolutamente infinito, mas que se deixava encobrir pela seca.
Numa determinada manhã, a quarta-feira resolveu chover, muito e tudo. Era tanta água a limpar a paisagem e inundar o céu de esperanças, que quase não coube ânimo para nada. Da mesma forma que a poeira, a chuva, a limpeza, também aconteciam dentro e fora de mim. Era nítido de ser, assustador de observar, caloroso de sentir. Cada poro meu exalava mudança, emanava boas novas e exigia organização. O silêncio tornou-se minha melhor e mais fiel companhia. Com tanta chuva lá fora, todos os afazeres ficaram mesmo para dentro. Todos os muitos livros no chão. A quantidade de pó era igual a quantidade de alegria por reencontrar bons e velhos escritores companheiros de jornada, morando bem ali, nas estantes. É que a dor, a raiva, o medo, tudo isso tem seu valor e precisa acontecer em seu tempo, mas traz cegueira para muitas outras coisas. Uma delas é essa perda temporária de tudo o que já é e sempre foi, como que um esquecimento proposital para dar espaço a sentimentos vãos que precisam acontecer até serem esvaziados ou amenizados.
Quando se começa a organizar coisas pessoais, é preciso estar bem preparado para surpresas, agradáveis ou não. O que importa é que todas elas fazem parte do que formou você até aqui. Lembranças doces em fotos, documentos que preferia que não tivessem existido, souvenirs felizes das muitas viagens pelo mundo, cadernos de escritas antigas que arrancam uma gargalhada toda desengonçada pelo conteúdo imaturo de uma época antiga. É bonito ver tanta evolução em tantos detalhes esquecidos. Cartas, bilhetes, autógrafos, flores vermelhas usadas em apresentações de Flamenco, que arrancam suspiros de uma saudade doída.
O mais interessante é que, ao mesmo tempo em que todo o movimento de organização é permeado por uma névoa de nostalgia, é também tomado por um ar fresco e repentino de renascimento. Não seria esse, talvez, o fluxo da vida? Ao rasgar tantas coisas inúteis, ao jogar tanto lixo fora, dou-me conta de que fica somente o que for essencial. E que por mais que eu faça essa arrumação hoje, precisarei fazê-la e refazê-la de tempos em tempos. E então as coisas hoje, tidas como novas, serão obsoletas um dia. Limparei e terei outras coisas novas a preservar e cuidar. Não faria isso parte, talvez, do fluxo natural da vida?
Veja, se cada atividade, por mais banal que pareça, for realizada com o máximo de carinho, dedicação, atenção e amor que puder, então poderá servir como uma atividade lúdica para insights, talvez até como uma forma muito consciente de meditação. Pode parecer uma grande viagem, e talvez seja, mas acho válido compartilhar sensações que moram em mim. Essa forma de encarar pequenas atividades como grandes transformações, eu aprendi porque a vida me parou de alguma forma.
Hoje, mais lúcida e insensata do que nunca, constato que é uma grande bênção estar parada até quando seja necessário. Não por vontade própria, entendam, mas como que por redenção do que é necessário que aconteça agora, nesse exato momento de meu tempo cronológico e, talvez, psicológico também. Ao reler o livro “O poder do agora”, de Eckhart Tolle, percebi quantas vezes organizo, de forma milimétrica e inconsciente, minha fuga alucinada da única coisa que realmente temos de fato, e por direito, em nossas vidas: o presente. Perceba que se trata de algo muito sutil e profundo, o fato de ter olhos para esse tipo de percepção. Requer, antes de tudo, muita coragem, o que, modéstia à parte, tenho de sobra. O fato é que não é um luxo apenas meu, mas uma característica intrínseca do ser humano como um todo. Viver remoendo o passado ou preocupado com o futuro, é pura e simplesmente a fuga mais justificada e consistente de não viver o que se é, no agora. Isso não significa que passado e futuro não sejam legítimos, muito pelo contrário. Um nos formou até aqui e o outro, respectivamente, nos levará a algum lugar. Correto? O fato é que agora, caro leitor, nesse momento em que você lê minhas palavras, absolutamente nenhum dos dois existem. Sim, são ilusões.
O agora nada mais é do que absolutamente tudo o que se tem no momento presente. É simples e diabolicamente complexo ao mesmo tempo. Isso porque você precisa sentir o poder que existe no agora, isso precisa tocar você. Caso contrário, você estará aí me achando louca, o que é um problema único e exclusivo seu, diga-se de passagem. Não me importo.
Eu gostaria de trazer para você apenas um convite, ousado e desafiador: saboreie o agora! Aos poucos, de forma delicada, sem pressão. O próprio autor do livro mostra que isso é uma mudança muito intensa de consciência e que cada pessoa terá seu tempo para mergulhar de fato nisso. Talvez o mais importante seja se entregar a essa nova oportunidade e sentir o que tiver de ser.
Não é difícil adivinhar que aqueles que gostaram da ideia e querem experimentar, estão se perguntando: como isso é possível? Um pensamento completamente plausível. Então vamos experimentar? Arriscarei algumas dicas. Siga-as, se tiver vontade. Onde quer que você esteja, nesse momento de leitura, pare e olhe a sua volta. O que você vê nesse cenário? Primeiro observe cada objeto ou pessoa. Só observe, sem julgamentos. Afaste os pensamentos. Depois, preste atenção nos possíveis cheiros, desvende cada um. Na sequência, ouça todo e qualquer barulho, identifique-os. Em seguida, feche os olhos e respire profundamente, sinta o ar entrar e sair. Então, abra novamente os olhos para finalizar o texto, por favor, ok? Se você sorriu com essa observação, sinta seu sorriso, sinta cada parte de seu corpo, sinta você. O que você sente? Quem você realmente é em essência? Não chegou a lugar algum com esse exercício, mas ficou com um ponto de interrogação a respeito de si mesmo? Ótimo! Está se perguntando como nunca havia prestado atenção nos objetos, pessoas, cheiros, barulhos etc.? Como nunca havia prestado atenção em seu próprio sorriso? Excelente!
Se tudo isso, ou parte disso, aconteceu com você, e houve a constatação natural de perceber seus sentidos mais aguçados, você está num caminho muito bacana. Se você teve o privilégio de sentir sua própria presença de forma única, forte e exclusiva, embora não consiga explicar racionalmente o que isso significa, parabéns! Você aprendeu a ser observador de você mesmo. Bem-vindo ao poder do agora! Use-o sem moderação.
É isso e é só!
Implico com esse "é só", tinha que ser, "É isso e é tudo isso". Já te falei sobre isso. Por que retornar ao assunto se o texto não é meu? Kd o respeito ao significado que a autora quer dar ao "é só"? Hã, Respeito? Ué, mas eu não tenho liberdade de expressão? kkkkkk Falo a besteira que eu quiser. Não, não abobrinha fale no ouvidinho da sua mãezinha! kkkkkk Pronto, tiro, porrada e bomba. E olha que tudo começou com o "é só". Não, não fiquei louco e estou tomando, somente, um mate com açúcar mascavo e lendo! Aliás, tô louco e daí? A Dani tbm está e não se importa. :) Pausa. Respira, não pira. Essência, presença. O mate vai acabar. Meditação e cantar o Om. Estou, mas já, já, estarei mais aqui. Obrigado querida! Eu te perdôo (pelo "é só), sinto muito (por ser chato), eu te amo (não preciso explicar), sou grato: cheiro, cor, sabor, abraço, bom, mau, feliz, coragem, chão, céu, sonho, razão, lágrima que acabou de rolar, rolei, é vida e é só. Bj e bom finde!
Olá, Jaylei querido! Fique à vontade para implicar com o que quiser!rs Gratidão pelas palavras e pelo carinho. Grande abraço!
"Agora"... esse é o momento!!! Saber ser... seja "agora"... "Agora"... esse é o momento!!!
Isso aí, meu amigo querido!! Gratidão pelo carinho! Forte abraço!