Tive sorte: consegui visitar Veneza em setembro, no fim do verão. Dias quentes, ensolarados e, no meio deles, uma cidade que parece ter sido tirada ontem da Renascença e trazida para o nosso presente.
Linda. Inenarrável. Mais sensacional que qualquer descrição que eu seja capaz de fazer, mesmo que me dessem um século para conhecê-la e outro para colocar em palavras o que nela eu visse, experimentasse.
Uma pena que a cidade que já foi o centro de nosso planeta — a Nova York da Idade Média — esteja em seus estertores. E, não, isso não é um exagero.
Fiquei com pena quando tirei a foto ali de cima. Mostra uma escada que costumava terminar à beira d’água. E como é fácil perceber, tem três degraus que estão permanentemente abaixo da superfície. A foto, é importante frisar, foi tirada na maré baixa.
Não, não é preciso ser lá muito observador para perceber que o nível do mar está subindo, e que esse aumento ocorre em função do aquecimento global. Aliás, o calor intenso no meio de setembro já era uma pista importante: nessa época, em anos idos, o céu nublado, o vento frio e os casacos não seriam extemporâneos como foi o caso esse ano.
Veneza não é exceção entre as cidades costeiras, claro, mas apenas uma das perdas que mais será sentida, uma vez que é alvo de milhões de visitantes todos os anos. Sua beleza não será viável por muito mais tempo. A cidade toda se encontra a pouco mais de um metro acima da linha d’água e já tem sido alvo de frequentes inundações, como foi o caso agora no fim de outubro. As fotos são estarrecedoras e tristes.
Outras cidades costeiras seguirão o mesmo caminho de Veneza, obviamente. Nova York, Boston, Miami, Los Angeles, Vancouver, Alexandria, Osaka, Shanghai, Rio de Janeiro, Santos, Salvador, Recife, Florianópolis (a lista brasileira é enorme). Mais de meio bilhão de pessoas afetadas no mundo todo. Não há como compreender ou imaginar a dimensão dessa catástrofe.
Mas não será necessário imaginar. Ela está ali, “virando a esquina”. Até porque não estamos fazendo nem próximo do que é necessário para evitar os efeitos do aquecimento global, que se aproximam a toque de caixa. Pense: desde que você ouviu falar nos efeitos mais nocivos do aquecimento global, em que proporção você reduziu seu uso de combustíveis fósseis? O quanto você alterou seu estilo de vida para reduzir sua pegada de carbono? A maioria de nós não fez absolutamente nada além de lamentar, e há os que nem isso fazem. Ao contrário: denunciam a “balela” do aquecimento global como uma conspiração globalista, como se isso fizesse algum sentido.
Nesses devaneios, os que não acreditam no aquecimento global (meio que religiosamente acreditando que isso o torne menos real) são legitimados por Donald Trump, que alegremente tirou os EUA do acordo de Paris. Nosso presidente eleito Jair Bolsonaro já ameaçou mais de uma vez ir na mesma direção.
O fato é: quem já esteve lá (ou mesmo quem sonha em ir) olha para as fotos de Veneza cada vez mais frequentemente com a tristeza de quem lê a notícia de que uma espécie de animal silvestre está à beira de ser completamente extinta, sem recurso à vista para evitar que a catástrofe se solidifique.
Enquanto isso, a banda do Titanic continua sua melodia melancólica no deck do navio indo a pique. Fazer o quê, né?
Pois é meu caro! Tive o privilégio de visitá-la por 2 vezes. Sei o quanto isso é triste, mas infelizmente, antes de esperar pela compreensão de nossos governantes que o fato é grave, e é. Passa pela consciência das pessoas, independente de governos, fazer a sua parte. O que dizer de pessoas que até hoje bebem cervejas e refrigerantes e jogam as latinhas pra fora do carro. Enquanto o ser humano, não virar ser humano, a coisa tende a ir pro buraco.....
Grande verdade, Sidney. Há muito (muito mesmo) que podemos fazer individualmente, e pouquíssimos de nós fazemos. E quem sofre com isso é o planeta e todos os que vivem nele...
Aquecimento global, um paradoxo por aqueles que instigam e acreditam que o sucesso de um país vem pela destruição da vida daqueles que neles habitam, simplesmente porque acreditam que a o eterno por vir é mais doce que o mel dos palácios que ostentam (seria isso uma verdade!?). O aquecimento é real, mas para alguns não é global porque podem comandar qual intensidade de calor podem sentir.