“It’s the end of the world as we know it.
It’s the end of the world as we know it and I feel fine.” (R.E.M.)
A raça humana é fascinada pela ideia do Fim do Mundo – talvez porque seja a única espécie no planeta capaz de imaginar (ou causar) o Apocalipse em detalhes tão vívidos. Presente em textos religiosos e místicos de todas as sociedades humanas, a noção de um evento cataclísmico que pode arrasar o mundo é muito poderosa. Pode ser usada para encantar e alertar (ou apavorar) os fiéis para a proximidade do Juízo Final e necessidade de levar uma vida justa, de acordo com os princípios de cada religião.
A Ciência, especialmente aquela surgida na Europa na era do Iluminismo, não ajudou muito a desfazer os mitos relacionados com o Fim do Mundo. Ao contrário, os cientistas terminaram por comprovar que a Terra já passou por vários outros “Fins do Mundo”, milhões de anos atrás. E a Ciência do século 20 criou novas possibilidades reais de Apocalipse: bombas atômicas, armas químicas e biológicas e várias outras formas de colapso tecnológico.
O próprio ritmo da sociedade humana embute várias “bombas”: superpopulação, esgotamento de recursos naturais, impactos artificiais no clima do planeta, contaminação da água e do solo, etc.
Escrevo pensando no recente remake de “Mad Max”, um road movie dos anos 1980. A nova versão atraiu multidões aos cinemas, e surpreende por qualidades raras na maioria dos filmes de ação.
Penso também nas conversas que tenho com Joaquim, filho de 17 anos do meu amigo Cleido Vasconcelos. O Joca também se interessa muito pelo tema “mundo pós-apocalíptico” e fiquei pensando que fazemos parte um grande fã-clube do gênero ao redor do mundo.
Filmes como “Mad Max”, a franquia “Exterminador do Futuro”, e séries como “Falling Skies”, “Revolution” e “Walking Dead” (mais os muitos filmes de zumbis) são imensamente populares. Fora de Hollywood, os japoneses são especialistas em pós-apocalipse na ficção, com joias como “Akira” e “Ghost in the Shell”. E claro, temos obras com catástrofes apocalípticas, como “O Dia Depois de Amanhã”, “2012”, “Armageddon”, “Impacto Profundo” e “A Falha de San Andreas”.
O que é tão atraente nessas narrativas de terra arrasada, cidades destruídas e ocupadas por hordas de monstros/alienígenas/zumbis sedentos de sangue? Suspeito que seja a sugestão de que, das cinzas e escombros, surgirá o novo mundo. Das ruínas de velhas cidades, brotam pequenas comunidades de sobreviventes, que correm muitos riscos e ameaças, mas resistem unidos em torno da esperança de uma nova chance, de um novo mundo, de uma nova sociedade que não cometa os erros da civilização extinta.
Fantasiamos um mundo onde as regras atuais de poder e controle não valham mais, e onde os sistemas políticos e financeiros se evaporem, assim como o consumismo e a exploração irracional de recursos. Sonhamos com aldeias de sábios aborígenes do futuro, vivendo de modo integrado com a natureza e desprezando os valores e modos de vida dos “Antigos” – afinal, foram esses a causa da Destruição.
É um idílio ingênuo e até piegas – mas quem disse que a pieguice assim não é atraente, e até mesmo sexy? Nesse caso, o caminho para Eldorado passa por um mar de chamas, ou uma horda de zumbis radioativos famintos.
P.S.: Agora também existe uma nova tendência no mundo da ficção: o “pré-Apocalipse”. Um exemplo recente é o filme “Doomsdays”, onde dois amigos passam o tempo invadindo casas de férias de milionários nos Estados Unidos, comendo e bebendo até ficarem entediados ou serem perseguidos pela polícia. A motivação dos “heróis” Dirty Fred (Justin Rice) e Bruho (Leo Fitzpatrick) é a seguinte: já que o mundo vai acabar a qualquer momento, quem vai se importar com quem comeu todo o caviar Beluga na geladeira ou bebeu a garrafa do caríssimo scotch de 64 anos no bar? Malcolm Harris escreve uma crítica bem bacana do filme no site da New Republic.
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